HORA DE COMEÇAR A BRINCADEIRA

Já está na hora de começar a brincadeira! Quer aprender a brincar?

Você sabia que existem técnicas facilitadoras para o processo de aprendizagem que irão favorecer o progresso motor, afetivo e cognitivo do seu filho?

E melhor, por meio de brincadeiras?

Como forma de refletir sobre a importância do brincar para o desenvolvimento infantil e na formação da personalidade. Observe duas situações, em uma escola de Ensino Fundamental I,

Caso 1: As crianças entram em sala de aula, buscam um lugar e sentam em “sua cadeira com sua mesa”. A professora pede para pegar o seu material de dentro da mochila e percorre pelas carteiras para passar o visto na atividade de casa.

Ela fica à frente da sala de aula, com sua apostila em cima da mesa e solicita que abram o material didático na página xx, que contempla resumidamente e com o “essencial” exigido pelo sistema educacional.

Guardam suas mochilas embaixo das mesas e a professora começa a falar a respeito do tema do dia, seguindo o currículo programático que deve ser cumprido naquele ano.

Surgem alguns questionamentos, dúvidas que são respondidas pela professora e por algumas crianças que já haviam trazido informações informais que ouviram dos pais sobre o tema.

Finalizando, a professora passa a “lição no quadro”, determina um tempo para ser copiada, porque logo tem que apagar ou deletar (caso seja um quadro interativo) e continua escrevendo para que os alunos copiem o complemento do assunto.

Marca qual tarefa a ser realizada e trazida para a aula seguinte.

Caso 2: As crianças entram em sala de aula, onde há tapetes e almofadas distribuídas pelo chão e escolhem um lugar para sentar, cada dia pode ser em um lugar diferente do dia anterior.

Há luzes coloridas rodopiando pela sala, ao som de uma música instrumental que varia entre tons intensos e fracos.

As crianças se dirigem para guardar suas mochilas em cabides distribuídos pela parede lateral da sala e, porém, antes, retiram a tarefa de casa depositando-a em um local pré-determinado – em uma “caixinha de recebidos”.

A professora senta junto com as crianças no tapete e conversa sobre possíveis temas (pertinentes ao currículo programático daquele mês), e que livremente, da maneira que a criatividade fluísse, trouxessem ideias, brincadeiras ou atividades lúdicas para serem desenvolvidas em relação ao que escolhessem aprender.

Se houver grupos com diferentes interesses a professora sugere formar equipes, cada uma desenvolvendo um tema ou, democraticamente, ensina que há a possibilidade de votar em um dos temas sugeridos, deixando para abordar no dia seguinte outro tema em questão.

Todos os temas escolhidos fazem parte da programação exigida pelo sistema educacional, contudo, apresentados de forma lúdica, porque essa professora entende que por meio da brincadeira se constrói o conhecimento.

Alunos e professora se dirigem à biblioteca da escola. As equipes ou alunos individualmente pesquisam sobre o tema e escolhem como trabalha-lo, qual maneira de expor o conteúdo pesquisado e aprendido.

Uma brincadeira?

Um jogo?

Eles mesmos criam a forma de explorar e expor o conteúdo ao invés de levarem para casa para os pais os ajudarem a fazer. Construir brincadeiras com os amigos é mais divertido!

Como a criatividade é aguçada, quem sabe resolvem expor por meio de maquetes, painéis, compões uma música, confeccionam um pequeno livro (e-book) ou criam uma brincadeira sobre a pesquisa realizada.

Retornam à sala, sentados novamente no tapete, agora ao som de uma música instrumental tranquila, relatam como foi a experiência e expõe as suas descobertas, dúvidas surgidas e conclusões!

Para você:

Qual desses modelos de foi mais atrativa?

Qual das aulas mais chamaria a atenção dos alunos?

No caso 2, você pôde perceber que a brincadeira pode estar presente no cotidiano escolar e ser mais interessante.

Parafraseando Winnicott (1975, p.63), “a brincadeira que é universal e que é própria da saúde”, pode contribuir significativamente no ambiente escolar e familiar.

A preocupação de nós, educadores é, e sempre será, a qualidade do ensino no ambiente escolar.

Quanto mais os pais explorarem, em casa, a independência, a busca, autonomia, iniciativa, pró-atividade, o interesse pela pesquisa, mais enriquecedor será o conhecimento dos seus filhos!

Se você, mãe, pai, questionou a maneira com que aquela escola ofereceu o conteúdo de forma tradicional e de pouco impacto e que, poderia diversificar ou transformar uma aula em uma brincadeira saudável e interessante.

O que ocorre em casa?

Em casa está sendo similar ao primeiro ambiente escolar?

Criança em frente de uma televisão, sentada em uma cadeira ou sofá, recebendo algo “pronto e “pré-determinado”, repetitivo, como em um jogo de play station, por exemplo.

Ao jogar, a criança está desenvolvendo algumas coordenações motoras repetitivas, ao apertar o triângulo, o quadrado ou o X, de forma bastante ágil.

A sequência do jogo sendo a mesma, por repetidas vezes, a cena se repete por inúmeras vezes com o intuito de conquistar novos níveis. Ao chegar no último nível, zera o jogo…

Essa é a brincadeira!?

O corpo da criança mantém-se na mesma posição por horas a fio. Às vezes, algumas crianças podem deitar-se no sofá para esticar as costas e aliviar a tensão dos ombros possivelmente decorrente do movimento repetitivo.

E ao deitar, permanece nessa posição, às vezes, de ponta cabeça em relação a tela para esticar o pescoço, o qual, dá sinais de tensão, mas a criança não percebe e nem sabe o que é ou porquê está sentindo esse desconforto corporal.

Rocha realizou pesquisas e estudos de como o brinquedo, as brincadeiras e o brincar podem ser utilizados para entender em qual situação emocional a criança se encontra e/ou para realizar uma intervenção.

Como brincar com meu filho

Rocha (2005, p. 20) procura, “através do uso do brinquedo, localizar a tensão corporal da criança partindo do pressuposto de que ele representa a relação da criança com a mãe, onde se inicia a origem dos conflitos”.

Como o videogame foi citado, busquei em Rocha, o que esse brinquedo influencia no desenvolvimento da criança.

Esse brinquedo exerce maior tensão no “olhar” (haja visto que a criança pouco desvia o olhar quando está jogando) e ´preenche a necessidade de enrijecer o pensamento” (Rocha, 2005, p164).

Pelo fato de a criança se identificar com o objeto persecutório, busca utilizar da manipulação, por meio de poderes ilimitados e a lidar com a raiva e outros sentimentos confusos de forma desprovida de razão.

O nosso sonho como psicomotricistas, tanto para a escola, como no contexto familiar, é introduzir na realidade educacional a utilização de brincadeiras, trazer o corpo para a educação e a saúde mental nesses dois contextos.

É sabido que o corpo, muitas vezes, é “esquecido” nas salas de aula. O cérebro entra, mas o corpo fica…Poder trazer a constante integração da relação criança, escola, professor, família no processo de aprendizagem, é uma alternativa assertiva.

Como mencionado no início, existem técnicas facilitadoras para auxiliar o processo de aprendizagem, e essas técnicas se dão por meio da ludicidade, atividades lúdicas, jogos e muita brincadeira!

Trago como sugestão trazer para o espaço educacional e familiar um trabalho paralelo, sustentado em princípios de grandes nomes de pesquisadores e estudiosos.

Dentre eles, destacam-se Winnicott, Lowen, Aberastury, Ramain, Thiers, Lapierre, Rocha, Rizzo desenvolveram técnicas para facilitar o desenvolvimento da personalidade da criança, por meio do corpo, das brincadeiras, jogos e propostas psicomotoras.

“Para Melanie Klein (1975), o ato de brincar é um processo criativo, que possibilita à criança expressar simbolicamente suas fantasias e seu sofrimento, além de reparar essas tensões e conflitos internos, explorando novas situações para ela”. (Rocha, 2003, p.24)

Por meio da brincadeira, podemos permitir que a criança, possa comprovar a realidade, discriminar suas tensões, poder descarregar conflitos e suas fantasias, além de estabelecer uma maior intimidade e confiança no seu vínculo seja com a mãe e com a professora.

Você pode estar se questionando e como vivenciar esse processo em casa?

Com brincadeiras!

Oferecer espaço favorável na rotina da criança para que ela possa expressar suas emoções, afetividade, medos, dores, tristezas, alegrias, dúvidas, inquietudes, sentimentos e fluir adequadamente sua energia.

Segundo Freud (1975) aos quatro, cinco anos o indivíduo já está completamente formado e irá manifestar o que nele foi depositado.

Concentrar no que aconteceu, em qual sentimento resultou da situação; processar sobre o ocorrido e limpar o que ficar de excesso ou desnecessário para poder despertar o seu EU, desde essa idade.

Para finalizar, reforço a seguinte reflexão:

É possível desvendar, intervir e ensinar como absorver as situações que ocorrem no dia-a-dia, de forma leve e deixar que as brincadeiras falem por elas!

Quer saber mais sobre como fortalecer a saúde psíquica da criança, introduzindo brincadeiras com o objetivo de promover a evolução da criança?

Por Adriana Luchin

www.youtube.com.br/descobrindocriancasdc

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