COMO BRINCAR COM MEU FILHO

Eu não sei brincar com meu filho. Como faço?

Você já se fez essa pergunta?

Desde a gravidez as mães se preocupam em dar o melhor para seus filhos: o quarto bem decorado, as roupinhas mais lindas e fofinhas, a refeição de qualidade e claro, os brinquedos, de preferência, os de última geração!

Será que você, tem consciência da importância do brincar com seus filhos?

 O brincar auxilia na criação de hábitos, nos valores, nas atitudes, na educação, no raciocínio lógico, na personalidade, nos relacionamentos, ou seja, na socialização como um todo e na formação do ser humano.

Você sabia que a lista das possibilidades e benefícios do brincar é imensa?

Listei alguns benefícios, veja:

1. Ao experimentar o mundo físico é que a criança se constitui;

2. É onde a criança constrói as estruturas lógicas do pensamento,

3. Facilita a organização e elaboração de métodos de raciocínio que irão lhe permitir a lidar com problemas adultos.

4. É onde todos os mecanismos de defesa do eu, suas formas de adaptação, ajustamento, linguagem, emoções, problemas, contrariedades, reações, padrões de comportamento são vivenciados mais facilmente.

Quando ouvimos uma mãe se referir ao seu filho: “- Ele é assim mesmo”!

Esse “assim mesmo” foi construído na relação com a mãe, pai ou adulto que exerce esse papel, pelo sistema familiar e social, portanto, as relações afetivo-sociais estabelecidas pela criança.

Por que a criança naturalmente busca o brincar?

Porque ela precisa explorar, testar, experimentar situações e objetos para encontrar uma resposta que a satisfaça e lhe impulsione a buscar mais!

Brincar para a vida

E esse processo, essas experiências fazem parte do seu desenvolvimento cognitivo, do crescimento fisiológico das estruturas orgânicas e da sua maturação.

Piaget, epistemólogo suíço, estudou o desenvolvimento natural da criança e suas fases onde, segundo ele, “a criança explora e experimenta até encontrar uma resposta que a satisfaça e atinge o equilíbrio” (Pulaski, 1986 p.26).

O despertar da inteligência se faz envolvido em profundas emoções, resultado dessa convivência e a forma com que as relações foram estabelecidas para que ela possa atingir esse equilíbrio.

Seria conveniente que as experiências oferecidas, principalmente na infância fossem respaldadas sobre fortes bases afetivas. E nada melhor que essas experiências fossem vivenciadas por meio do… Brin – car!

A família são os primeiros educadores!

Toda ação educativa para evitar dores, experiências negativas, injustas ou dolorosas durante o processo de educação, não deveriam ser de forma diretiva, autoritária ou coercitiva.  Concorda?

Se a criança explora, testa e experimenta, acredito que não caberia uma educação com base no autoritarismo. não é mesmo.

Como forma de educar, o que você me diria em criar desafios para ela?

Criar desafios é também educar!

E se esses desafios fossem em forma de brincadeira?

Utilizar o brincar como forma de educar e melhor conviver!

Para o Winnicott, “brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde”.

Como terapeuta de crianças, temos o brincar como um de nossos recursos técnicos, servindo como facilitador para entrar no mundo da criança. Utilizamos esse recurso porque a visão delas do brinquedo e o brincar é diferente do adulto.

Para o adulto o brinquedo é algo do mundo externo, sem influência para ele. Já para a criança, serve como um meio de interpretar e/ou intervir no processo psíquico e corporal.

O brinquedo pode simbolizar o próprio corpo da criança!

A cada fase do desenvolvimento psicossexual da criança correspondem algumas brincadeiras específicas que foram pesquisadas brilhantemente por Rocha (2005) e que sempre procuro compartilhar com as mães para entenderem o processo de crescimento de seus filhos.

Veja os benefícios de algumas brincadeiras, jogos ou atividades lúdicas abaixo, com o intuito de revelar como que o brincar pode contribuir para o desenvolvimento da criança:

– As brincadeiras que envolvem problemas de sequência e ordenação, desenvolvem a inteligência lógico-matemática;

– Aquelas que precisam utilizar a linguagem oral ou escrita, facilitam o desenvolvimento da inteligência linguística;

– Ao oferecer uma brincadeira com figuras, sólidos ou quebra-cabeças, estas, estimulam a inteligência espacial;

– Ao desenvolver um jogo que necessite de habilidades na identificação de problemas seus e do outro, a área estimulada será a inteligência social, pessoal e interpessoal;

– Quando há brincadeiras com sons, intensidades e tonalidades, estaremos desenvolvendo a inteligência musical;

– E, ao oferecer brincadeiras onde a criança execute macro e micro movimentos estaremos desenvolvendo a inteligência corporal cinestésica;

Você pode estar se perguntando se teriam brincadeiras para despertar temas específicos como: atenção, desenvolver a disciplina, responsabilidade, criatividade, espontaneidade, iniciativa, autoconhecimento, autoestima e desenvolver bons relacionamentos.

Sim!

E respondo com outra máxima de Winnicott, que, “é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o seu EU (self)”.

No brincar também podemos reparar feridas internas, entrar em sintonia com o outro, aprimorar a comunicação (verbal e não-verbal), enfim, expressar a criatividade, liberar fantasias e ressignificar positivamente possíveis traumas.

Quando for brincar com seu (sua) filho(a), você sabe o que pode acontecer?

Serão duas crianças que irão descobrir o espaço interno de cada uma: a criança interior que há na mãe e a criança (filho ou filha). O brinquedo ou o brincar será o intermediário dessa relação.

E por que mencionamos a “criança interna”?

Não é possível compreender a criança que geramos se não estivermos em contato com a nossa infância, com a criança que há dentro de nós.

Em muitas situações no cotidiano, na rotina familiar nós, mães, nos deparamos com atitudes e reações que são mais lembranças que a nossa criança interna recebeu, do que do nosso EU adulto.

O que recebemos de nossos pais pode emergir quando nos deparamos com situações que já vivenciamos anteriormente, porém, em outro papel – o de filha. E agimos, inconscientemente da mesma maneira que agiram conosco.

Podemos mobilizar esses bloqueios e removê-los ao tomar consciência que existe essa situação e que há uma forma compensadora e possível de entender essa dinâmica inconsciente.

Ao trabalhar esse processo de tomada de consciência, do autoconhecimento, da autopercepção, é possível compreender os papéis exercidos pelos elementos da família.

Entender o movimento e a dinâmica familiar, torna mais fácil observar os sintomas a serem trabalhados e que a criança esteja manifestando, podendo também fortalecer o vínculo entre todos os componentes da família.

Como psicomotricista, não posso deixar de falar do corpo na relação com o brincar. Costumamos sistematizar as propostas para mobilizar as emoções que precisam ser emergidas e elaboradas.

Por meio do comportamento, do sentimento manifestado ou pelo que está sendo verbalizado, é possível saber qual seria a melhor atividade lúdica, ou qual proposta oferecer para que aquele conteúdo possa ser desenvolvido.

Precisamos compreender quais sentimentos ou afetos que são despertados na criança quando utilizamos determinada brincadeira para poder acionar uma adequada reestruturação.

Rocha, (2005) pesquisou noventa e cinco brinquedos relevantes e reuniu em seu estudo uma amostragem de quarenta crianças e adolescentes. Nele, analisou e atribuiu e sistematizou características e preferências de cada criança a cada brincadeira.

O objetivo de seu trabalho era o de reconstruir a imagem interna de cada criança e adolescente, e avaliar se o brincar poderia aliviar dores e angústias que estes estavam passando.

Observaram que não existe brinquedo ou brincar certo ou errado e puderam afirmar que existe sim, brinquedos e brincadeiras necessárias para determinadas ansiedades.

Rocha (2005, p.220) afirmou que “o brincar é um ato de amor” que possui uma energia, um ritmo, uma pulsação e uma linguagem própria. Devemos dar abertura para que o amor possa fluir”.

Mãe, pai, responsável pela criança, estejam abertos para conhecer esse “mundo do brincar” você e a sua família terão uma oportunidade ímpar de fluir o amor, aumentar a sintonia entre vocês e fazer a sua história!

Por Adriana Lucchin

www.youtube.com/descobrindocriancas

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