DESCOBERTAS DA INTRODUÇÃO ALIMENTAR

Como deve ser feita a introdução alimentar do bebê?

Essa é uma dúvida muito comum no consultório, especialmente para pais de “primeira viagem”.

Muitos ficam perdidos e não sabem como realizar a introdução alimentar. Para tentar auxiliar, esse texto faz parte de uma série onde abordarei com detalhes o assunto.

Como saber se o bebê está pronto para a alimentação sólida?

Qual o melhor método?

Quais alimentos devem ser priorizados?

Quais devem ser excluídos?

Quais utensílios são corretos?

Como saber a quantidade certa e seu o bebê está alimentado ou não?

Como vou saber se ele possui alergia a algum alimento ou não?

São tantas questões que recebo… Nesse texto vou compartilhar com vocês as respostas para algumas dessas questões. Outras ficarão para um segundo momento.

Quero começar salientando que até os seis meses de idade, nenhum alimento deve ser oferecido além do leite materno ou das fórmulas infantis adequadas à faixa etária, na impossibilidade da amamentação.

Nem mesmo água, já que o leite materno supre todas as necessidades do bebê.

Definindo os termos, chamamos de introdução alimentar a fase em que a alimentação dos bebês começa a incorporar outros alimentos, sólidos, líquidos ou pastosos, além do leite materno.

Mesmo com a introdução de novos alimentos, o Ministério da Saúde recomenda a amamentação até dois anos ou mais.

A oferta de alimentos antes dos seis, além de desnecessária, pode ser prejudicial, uma vez que a criança não está “madura” o suficiente para recebê-los.

É o que chamamos de sinais de prontidão, ou seja, indicadores que mostram que o bebê já possui desenvolvimento motoro e cognitivo para receber novos alimentos e que geralmente aparecem próximo aos seis meses.

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Além disso, só por volta dos seis meses, as enzimas digestivas e as bactérias intestinais já estão mais preparadas para proteger o bebê de possíveis infecções,

os rins já estão mais preparados para eliminar maiores quantidades de sódio e o sistema imunológico já está pronto para entrar em contato com novos nutrientes e proteínas, reduzindo o risco de alergias alimentares.

Vale a pena esperar, não é mesmo?

Os principais sinais de prontidão que os pais precisam observar são:

1. O bebê senta sozinho e sem apoio:

Ocorre quando o bebê já consegue sentar sem ajuda e não precisa de apoio para se manter na posição, ou precisa de muito pouco apoio.

Ele também sustenta a cabeça e o tronco sem muita dificuldade.

Com essa maturidade corpórea, o bebê já pode ser colocado no cadeirão ou em qualquer outro lugar seguro para comer. Sendo assim, os alimentos serão oferecidos e o bebê terá habilidades de pegá-los e levá-los à boca.

2. O bebê não possui reflexo de protusão da língua:

A protusão da língua é um reflexo que os bebês têm de projetar a língua para fora da boca, o que impede que alimentos e outros itens perigosos sejam engolidos, se assim ele desejar.

Quando esse reflexo diminui ou é perdido totalmente, é mais um sinal de que a introdução de alimentos sólidos pode ser iniciada.

3. O bebê faz o movimento de pinça:

O movimento de pinça é aquele no qual o indicador e o dedão se juntam para “pinçar” algum objeto ou, nesse caso, os alimentos. Desse modo, a criança os levará à boca com maior precisão para poder experimentar.

4. O bebê faz pressão palmar:

Diferentemente do movimento de pinça, a pressão palmar é aquela que o bebê usa todos os dedinhos para arrastar o alimento para a palma da mão e os prende ali para, em seguida, levar à boca. Acontece com objetos menores ou brinquedos também.

5. O bebê está propenso à mastigação e aparenta ter “vontade” de comer:

Mesmo que o bebê tenha pouco ou nenhum dente, conseguimos perceber quando ele começar a fazer o movimento de mastigação, querendo participar das refeições em família e levando alimentos à boca.

Ressalto que esses sinais podem se manifestar de forma diferente entre as crianças e não é exatamente o corte do sexto mês o indicativo.

Algumas crianças possuem um desenvolvimento mais rápido ou mais tardio, especialmente se possuem alguma doença motora ou neurológica associada.

O que sempre digo aos pais é que não tenham pressa pra começar a introdução alimentar do seu bebê. Importante respeitar os sinais de prontidão, baixar a ansiedade e deixar esse processo fluir naturalmente.

O bebê vai comer, e é algo que acontecerá na hora certa e para o resto da vida dele.

Lembre-se

A fase de introdução alimentar é vital para o desenvolvimento do paladar e o início de um hábito alimentar saudável e diversificado, que poderá ser levado para as outras fases da vida. O cuidado agora é essencial para garantir um padrão alimentar adequado. 

Outra dúvida muito comum é sobre os métodos ou formas para se realizar a introdução alimentar. Temos basicamente três tipos de métodos: o Tradicional, o BLW e o Participativo.

Método Tradicional:

O método tradicional baseia-se na introdução gradual dos novos alimentos na rotina alimentar da criança com gerenciamento e supervisão dos pais ou cuidadores.

Nessa abordagem, os pais ou cuidadores oferecem a refeição, utilizando-se de colheres ou copos. Dessa forma, os adultos possuem todo o controle da alimentação do bebê: quantidade, qualidade, ritmo e duração da refeição.

Como a criança pouco interage com os alimentos, a refeição pode ficar monótona (resultante em menor interessante, especialmente nos bebês mais ativos) e há uma dificuldade maior em reconhecer os sinais de saciedade.

Método BLW:

A sigla BLW refere-se ao método Baby-Led Weaning, criado em 2008, pela enfermeira inglesa Gill Rapley e que tem sido muito divulgado.

O método preconiza a introdução alimentar gradual e natural, propondo a auto-alimentação do bebê desde o início, isto é, sem auxílio/interferência dos pais ou cuidadores.

Os alimentos devem ser oferecidos em pedaços maiores, na forma de tiras ou bastões para o bebê experimentar e descobrir texturas e sabores com as próprias mãos.

O método BLW confere total autonomia ao bebê, dando-lhe todo o controle sobre a quantidade de alimento ingerido e o tempo de duração da refeição, criando assim o seu hábito alimentar, favorecendo também o reconhecimento do sinal de saciedade.

A alimentação complementar por BLW não inclui administração do alimento com a colher ou nenhum utensílio, exceto às mãos do bebê, proporcionado assim, um grande desenvolvimento sensorial, motor e cognitivo.

Sempre pontuo algumas questões para os pais com relação ao BLW.

Primeiro, é que os pais ou cuidadores precisam dar o tempo suficiente para o bebê e depois administrar a sujeira e bagunça pós- refeição.

Lembre-se que quem tem o controle de todo o processo é o bebê.

Depois, é importante ficar atento à quantidade real que o bebê ingeriu de alimentos, uma vez que boa parte pode ficar no cadeirão, na roupa e no chão.

Problemas nutricionais podem ocorrer, especialmente se a ingestão de alimentos for inadequada ou se o bebê que apresentar algum atraso em seu desenvolvimento.

Método Participativo:

Confesso que esse é o meu preferido e o que adotei com minhas crianças.

É uma proposta de introdução alimentar que nasceu da flexibilização do método BLW, mas que reúne conceitos das duas abordagens que descrevi anteriormente.

Ou seja, combina a alimentação independente com a alimentação assistida pelos pais ou cuidadores, permitindo tanto a participação do bebê, despertando o seu interesse pela comida, quanto o gerenciamento e supervisão dos adultos na alimentação.

Embora exista a administração de algumas refeições ou alimentos pelos responsáveis, o bebê não tem um papel passivo na alimentação participativa.

Ou seja, os adultos podem oferecer alguns alimentos através de utensílios e deixar outros à disposição da criança no cadeirão.

A abordagem participativa propõe uma introdução alimentar mais flexível e respeitosa, que favorece um contato leve e dinâmico de aprendizagem de uma alimentação saudável, aproveitando as vantagens do método BLW, mas também levando em conta a adaptação da criança e a rotina de cada família.

Independente do tipo de introdução alimentar é importante ressaltar que a escolha da abordagem varia de acordo com o bebê e com a segurança e vontade dos pais em escolher um método.

O auxílio de um profissional da Nutrição é essencial, especialmente no método BLW, onde os tamanhos dos alimentos são cruciais para se evitar problemas, como engasgos.

Não deixe de procurar auxílio adequado.

Não se baseie só em conteúdo de mídias sociais.

No próximo texto vamos conversar mais sobre esse assunto, abordando alimentos adequados, quantidades e utensílios. Espero você!

Por Fabiana Jarussi

Capa: Freepik

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