COLESTEROL ALTO NA INFÂNCIA

Colesterol alto na infância: o que fazer?

Após o período mais crítico da pandemia ter passado, algumas consequências de hábitos alimentares pouco saudáveis e que foram praticados no período estão aparecendo.

Doenças que eram comuns apenas na fase adulta estão cada vez mais presentes na infância.

Tristemente o número de famílias que chegam ao consultório com queixas relacionadas ao aumento do colesterol, glicemia e peso entre as crianças crescem a cada dia.

Para celebrar o Dia Nacional de Combate ao Colesterol que ocorre anualmente em 8 de agosto, elaborei esse artigo para auxiliar pais e responsáveis no controle e prevenção da doença.

Antes de mais nada, vamos pontuar o que é o colesterol?

Ao contrário do que muitos imaginam, o colesterol é um tipo de gordura importante para o funcionamento do nosso corpo.

Ele participa da formação da parede das células de todo o organismo, além da formação de hormônios e vitaminas, essenciais em todas as idades, especialmente na infância.

O nosso corpo produz naturalmente o colesterol, principalmente no fígado e no intestino. Outra parte do colesterol presente no sangue é proveniente da ingestão de alimentos fontes da gordura. E é aí que o perigo pode estar presente.

Cerca de 70% do colesterol presente no sangue é produzido pelo nosso próprio corpo e apenas 30% vêm da alimentação.

Existem basicamente dois tipos de colesterol: o LDL (colesterol ruim) e o HDL (colesterol bom).

O LDL pode se depositar na parede dos vasos sanguíneos, formando placas e iniciando o processo de aterosclerose (inflamação dos vasos sanguíneos) que pode causar infarto ou AVC (derrame cerebral).

Já o HDL tem capacidade de remover o colesterol da parede dos vasos (limpando-os) e transportá-lo de volta para o fígado, aonde será eliminado.

As principais fontes alimentares do colesterol são os alimentos de origem animal como carnes, leite e seus derivados, frutos do mar, gema de ovo, pele de frango, ou embutidos, como salame, mortadela e salsicha.


Mas precisamos ficar de olho também nos alimentos industrializados, pois são ricos em gorduras saturadas e elas provocam aumento da concentração de colesterol.

Alguns exemplos são bolos industrializados, biscoitos recheados, chocolates, tortas, sorvetes cremosos, salgadinhos, fast foods, etc. Alimentos que muitas vezes são corriqueiros na alimentação das crianças.

Na infância, as principais causas de alteração nos níveis de colesterol estão ligadas há hábitos de vida pouco saudáveis, como má alimentação, sedentarismo e excesso de peso.

Embora hábitos de vida sejam importantes no aparecimento da doença, os índices elevados de colesterol também podem ser hereditários, o que chamamos de hipercolesterolemia familiar (HF). Assim, famílias com histórico de alterações, devem ter o cuidado redobrado com seus filhos.

Nos casos de HF apenas alimentação, cuidado com peso e atividade física, podem não ser suficientes, havendo a necessidade de uso de medicações específicas.

Embora as consequências mais severas do excesso de colesterol possam ser percebidas somente na vida adulta, é na infância que se deve iniciar o controle.

Muitas famílias às vezes me perguntam se é necessária a realização de exame de sangue em crianças. Minha resposta é que sim, desde que haja um histórico ou alguma suspeita de doença.

No caso do colesterol, a única forma de sabermos com exatidão os índices sanguíneos, é através da avaliação do sangue, uma vez que as dislipidemias são praticamente assintomáticas na infância.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o exame de colesterol na faixa etária pediátrica deve ser realizado nas seguintes situações:

  1. Em crianças de 2 a 8 anos obesas, com diagnóstico de diabetes ou que tenham pais com histórico de doença cardíaca ou colesterol alto;
  2. Toda criança entre 9 e 12 anos de idade (antes da puberdade).

Existem poucos dados sobre a prevalência de alterações de colesterol na infância aqui no Brasil. Contudo, estima-se que 28 e 40% das crianças e adolescentes brasileiros tenham alguma alteração nos níveis de colesterol[2]. Pra mim, esses dados são bem preocupantes.

Como já foi dito, o estilo de vida é fundamental na redução desse risco e no controle do colesterol. Infelizmente com a pandemia, muitos hábitos foram alterados e muitas crianças tiveram um contato mais próximo com alimentos industrializados, telas e ruptura das atividades sociais e físicas.

Vivemos dias com um controle maior da situação pandêmica e aos poucos a rotina vai sendo reestabelecida. Assim, é fundamental que as crianças voltem ou que sejam estimuladas a terem hábitos de vida saudáveis.

Abaixo, apresento algumas dicas para manter sob controle os níveis de colesterol da criançada:

  • Estimule seu filho a praticar atividade física regularmente fora do ambiente escolar. Incentive brincadeiras ao ar livre, corridas e prática de esportes;
  • Evite no cardápio a presença de alimentos ricos em gorduras saturadas e gorduras trans (presentes principalmente nos alimentos industrializados);
  • Faça com que seu filho reduza o consumo dos alimentos que mais aumentam o colesterol: bacon, pele da carne das aves, manteiga, creme de leite, nata, frituras, embutidos (como salsichas) e carnes gordas;
  • Mantenha as visitas médicas ao pediatra e os exames em dia;
  • Na rotina, controle a alimentação das crianças o máximo que conseguir evitando: biscoitos recheados, bolo, chocolate, sorvete, hambúrguer, batata frita, refrigerante, frituras e alimentos ultraprocessados em geral. Deixe esses alimentos para situações pontuais e esporádicas;
  • Ofereça todos os dias verduras, legumes, frutas, peixe, frango, leite e queijo branco às crianças.
  • Controle o acesso às telas. Crianças devem evitar o uso de telas (TV, videogame, celular) acima do tempo recomendado pela Sociedade de Pediatria;
  • uma hora por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre dois e cinco anos;
  • uma ou duas horas por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre seis e 10 anos;
  • duas ou três horas por dia, sempre com supervisão para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos;

E lembre-se: telas nunca durante as refeições para evitar distrações!

O tratamento do colesterol alto nas crianças é preventivo e permanente.  A infância e a adolescência são fases importantes na prevenção de doenças do coração e os hábitos formados nesta fase são fundamentais para a qualidade de vida do adulto.

Criança diagnostica com colesterol

O apoio familiar também é crucial para que essas mudanças ocorram da melhor forma, inserindo uma dieta alimentar saudável e a prática regular de atividade física para toda a família.

Como sempre digo, os hábitos da criança são reflexo daquilo que ela vê em casa. Ou seja, os limites e incentivos devem ser realizados também pelos responsáveis.

Vale destacar que o tratamento para controle do colesterol deve ser feito de forma harmônica entre o nutricionista e o pediatra. Se o planejamento alimentar adequado não for suficiente, o acompanhamento com endocrinologista pediátrico para intensificação do tratamento e/ou uso de medicamentos pode ser necessário.

Por Fabiana Jarussi

Nutricionista – CRN 11217


[2] Forti N, Issa J, Diament J, Giannini SD. Dislipidemias em crianças e adolescentes. Bases para a terapêutica. Arq Bras Cardiol vol 71, (6), 1998

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