PSICOMOTRICIDADE: VOCÊ SABE O QUE É

Em toda e qualquer atividade, por mais corriqueira que seja, a psicomotricidade está presente.

Uma criança segura um brinquedo em suas mãos. Percebe a textura, as cores e o tamanho. Movimenta-o para os lados, para cima, para baixo.

O brinquedo se desmonta e as peças caem ao chão. Ela fica surpresa e tenta retomar as peças ao estado inicial.

Esta simples experiência de origem motora proporcionou à criança receber informações significativas ao seu aprendizado.

Ao segurar o objeto a criança estará trabalhando tônus musculares, ela terá que realizar a preensão adequada – nem muito forte, nem muito fraco e de forma satisfatória – para mante o objeto em suas mãos.

Ao movimentá-lo estará desenvolvendo a estruturação espacial. É a tomada de consciência do seu corpo em relação aos objetos do mundo externo.

Quando as peças se desprendem, descobre que objetos podem ser compostos por partes, umas maiores e outras menores e que se deslocam no espaço.

A capacidade de observar que as situações mudam e acontecem em momentos diferentes, a noção de tempo, que há duração e sequência de acontecimentos, ela estará desenvolvendo sua orientação temporal.

Meu corpo estranho

Se ela segurou ou apanhou as partes caídas com a mão direita ou esquerda, observou com qual mão ficou mais confortável em apanhá-las, estará desenvolvendo a noção de lateralidade.

Quando o objeto desmontou, as tentativas de aproximar as partes para restaurar o brinquedo, os cuidados para não se machucar ao executar os encaixes, a emoção ou possível tensão que surgira ao buscar uma resolução, estará experenciando o seu estado emocional.

Em quantas partes o brinquedo foi dividido?

Se eu deixar peças de lado consigo montar como estava?

Existe outros objetos que possam ser divididos?

São situações-problema a resolver! Ela precisará buscar soluções, assim, estará desenvolvendo seu raciocínio.

Esse simples “experimento” nos mostra como é desenvolver a psicomotricidade.

A função motora, as noções espaciais, temporais, lateralidade, o desenvolvimento intelectual, o estado emocional gerado frente a situação e como a criança lidou com tudo isso, ilustra o que é Psicomotricidade!

Psicomotricidade é a ciência que estuda e desenvolve aspectos emocionais (afetivos), cognitivos e motores do ser humano.

A construção da consciência do EU (ou de si) se constrói na interação entre o corpo, na estimulação das áreas cerebrais e na relação com o outro e com o ambiente.

Quando o bebê nasce, seus movimentos são apenas reflexos. Ele precisa ser estimulado para poder desenvolver suas funções cerebrais. Por meio dos estímulos externos irá ocorrer a maturação dos órgãos dos sentidos.

Esses estímulos são travados através de sinapses e a Psicomotricidade irá realizar a integração psiquismo-motricidade. A motricidade pode ser delineada como resultado da ação do Sistema Nervoso sobre a musculatura, respondendo à estimulação sensorial.

Didaticamente falando, o cérebro é dividido em três grandes origens: cérebro reptiliano/primitivo responsável pela autopreservação e funções vitais. O cérebro intermediário é responsável pelas emoções, é onde se encontra o hipotálamo e o neocórtex conhecido como cérebro pensante.

O cérebro é constituído por dois hemisférios: esquerdo e direito. “O esquerdo é o responsável pela linguagem, aquele que analisa, classifica, ordena e identifica. O direito é o da espacialidade e da temporalidade. (Pereira, 2002, p. 23).

O cérebro humano sofre alterações na medida que aprende e se desenvolve. Essa aprendizagem e desenvolvimento ocorre por meio das estimulações e experiências proporcionadas à criança.

É por meio do corpo que a criança descobre o mundo e experimenta sensações. O movimento “é de fundamental importância no desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança”. (Alves, 2008, p. 17)

Por meio do movimento estaremos desenvolvendo elementos básicos da psicomotricidade e estimulando áreas cerebrais importantes ao desenvolvimento humano. Esses elementos são:

– Esquema corporal,

– Imagem corporal,

– Motricidade ampla ou global,

– Motricidade fina,

– Organização temporal e espacial,

– Lateralidade,

– Ritmo,

– Tônus

– Domínio do próprio corpo,

– Autonomia, autoconfiança, tomada de decisão, afetividade e

– Relacionamento social.

A educação oferecida à criança em um “ambiente sensorialmente enriquecedor desde a mais tenra idade pode ter um impacto sobre as suas capacidades cognitivas e de memória futuras” (Pereira, 2002. p. 20) de forma significativa.

A Psicomotricidade pode ser desenvolvida no âmbito da Educação motora, Reeducação motora e por meio da Terapia psicomotora.

A Educação psicomotora é essencial nas aprendizagens escolares, muitas vezes é desprezada quando a criança entra no primeiro ano escolar e ela é indispensável na idade pré-escolar e escolar,

A Educação psicomotora proporciona respaldo à criança na organização; concentração; resolução de exercícios de análise, de lógica; organização espacial; temporal; lateralidade; coordenação motora ampla e fina (grafismo) e em seus relacionamentos.

Os primeiros ensinamentos da educação psicomotora são oferecidos pelos pais, nos momentos do banho, alimentação, no desenvolvimento da linguagem, nos atos motores, no gerenciamento das emoções, na vida social e nos relacionamentos.

Quando não ocorre uma educação motora satisfatória ou esta foi negligenciada, a Reeducação psicomotora, deve ser iniciada o mais cedo possível possibilitando reestabelecer as estruturas motoras, cognitivas, emocionais e/ou sociais.

Desde os dezoito (18) meses pode ser iniciada a reeducação às crianças que apresentam atraso motor e/ou bloqueio afetivo.

Se tratando de problemas na estruturação espacial, temporal, instabilidade motora e esquema corporal, a reeducação pode ser ofertada a partir dos quatro ou cinco anos de idade.

A idade que mais aparece a falta da educação e estimulação psicomotora adequada é a partir dos seis anos, quando iniciam as atividades de alfabetização propriamente dita, e, quando os conteúdos a serem aprendidos se tornam mais densos.

Como consequência, essa falta resulta em falhas na concentração e atenção, lentidão para realizar tarefas escolares, problemas de compreensão e interpretação de conteúdos escolares, dificuldade na memória e em se relacionar.

Portanto afirmamos que a Psicomotricidade “é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança (…) e quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, o fundo do problema, em geral, está no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. (Alves, 2008, p. 127, 128)

Para compreender os movimentos, os gestos e o comportamento como forma de exprimir o que há de mais profundo na mente, utiliza-se da Terapia psicomotora. Por meio da minhas histórias, fantasias e relacionamentos eu entendo a mim mesmo, a vida e o mundo que me rodeia.

As terapias psicomotoras são oferecidas às crianças, adolescentes e adultos por profissionais que possuem a certificação em:

– Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers, ou

– Psicomotricidade Relacional, ou na

– Prática Psicomotora de Aucouturier.

Todas as terapias acima descritas são trabalhadas com propostas psicomotoras, estimulação das áreas cerebrais e com o desenvolvimento corporal.

Finalizo esse artigo com a seguinte reflexão de João dos Santos (Branco, 2010, p. 435):

A educação começa no berço, não é uma expressão poética e simbólica; é uma verdade confirmada pela investigação biopsicológica e psiquiátrica que provou serem os primeiros anos da vida do indivíduo que determinam não só o seu equilíbrio mental e a formação da sua personalidade como a estruturação básica do sistema neuronal”.

Desde o berço a criança experimenta através dos seus sentidos, dos exercícios corporais e de toda estimulação recebida por quem a cuida como é o ambiente em que vive, constrói conhecimento e aprende como suas relações são estabelecidas.

Desde o berço ela recebe a educação, princípios, valores e aprende a receber e dar amor. É no berço da família que ela aprende maneiras de comunicar suas emoções, afetos, sentimentos e ali ela inicia a sua vida! As experiências recebidas pelos pais permanecerão inconscientes em sua mente.

Quais experiências você está oferecendo a seus filhos?

Por Adriana Lucchin

Capa: Castelo da 4 princesas

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