Terapia Ocupacional e Reabilitação Infantil no Autismo

A partir deste mês, iniciarei uma série de textos sobre a atuação do terapeuta ocupacional nos diferentes contextos de reabilitação infantil.

Como no dia 02 de abril foi comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e por ser uma das minhas áreas de atuação profissional, escolhi falar sobre esse tema.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), nomenclatura usada para fins diagnóstico, é uma condição neurológica caracterizada pelos prejuízos na comunicação e linguagem, na interação social e nos padrões restritos e repetitivos do comportamento.

A palavra autismo tem etimologia grega e significa: “ação ou estado de si mesmo”, por isso comumente dizemos que autistas estão em seu próprio mundo.O terapeuta ocupacional é um profissional importantíssimo quando falamos em reabilitação infantil, sendo o principal objetivo de suas intervenções promover o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas, sensoriais e sociais para o melhor desempenho de atividades cotidianas e significativas.

Crianças com autismo podem apresentar dificuldade no planejamento motor, o que impacta na forma como se relacionam com seu próprio corpo, objetos e com o ambiente a sua volta. Nesses casos, as ações do terapeuta ocupacional visam estimular noções de esquema corporal e de autoconsciência, habilidades importantes para a aquisição de autonomia e independência nas atividades de vida diária, como alimentação e vestuário.

Circuitos motores e sensoriais, atividades na frente do espelho, brincadeiras de roda são exemplos de atividades que podem ser realizadas para estimular o planejamento motor.

Outra função que necessita do olhar do terapeuta ocupacional quando o assunto é autismo está relacionado com o processamento e integração sensorial. Autistas costumam ter respostas inadequadas aos estímulos sensoriais, podendo apresentar uma resposta exacerbada a determinados estímulos e pouca, ou nenhuma, resposta a outros. Você pode saber mais no texto: “Estímulos Sensoriais: Processamento e Integração”, publicado aqui no Blog.

A Terapia de Integração Sensorial é um método desenvolvido por Jean Ayres que busca estimular e desafiar os sentidos da criança de forma gradual e regulada, a fim de que ela aprenda a dar respostas sensoriais adequadas ao ambiente. E tornou-se um dos métodos mais eficazes no tratamento de criança e adolescentes com autismo. O método é exclusivo para terapeutas ocupacionais e só pode ser aplicado por profissionais devidamente certificados.

Hoje, com os inúmeros estudos relacionados ao autismo, existem diversos métodos, técnicas, instrumentos, programas e protocolos de intervenção. Porém, nenhuma dessas intervenções será eficaz sem a participação e colaboração ativa de pais e familiares no processo de reabilitação.

Segue abaixo algumas dicas para pais e familiares sobre como agir com seu filho autista:

  • Seja flexível: permita que seu filho realize comportamentos a fim de acomodar suas necessidades e garantindo uma participação bem-sucedida nas atividades propostas;
  • Antecipe: sempre apresente e fale antecipadamente sobre a ida em diferentes lugares ou ambientes;
  • Tenha uma rotina flexível, mas com regras e metas;
  • Faça combinados claros e explique os pausadamente;
  • Tente graduar as atividades em etapas, da mais simples para a mais complexa;
  • Mantenha os ambientes seguro e confiável, confortável e agradável durante as atividades de higiene pessoal, vestuário e alimentação;
  • Sempre que possível, use pistas visuais com etapas da atividade;
  • Utilize linguagem visual, por meio de fotos, figuras ou objetos;
  • Dê comandos claros e objetivos; e
  • Prefira uma ação provocativa ao diálogo para que a criança responda.

Já vimos aqui no Blog, no texto “O Que é Brincar na Terapia Ocupacional?”, que o brincar é uma das ocupações que mais contribuem para a aquisição de habilidades motoras, cognitivas, sensoriais e sociais.

O diferencial quando falamos em autismo é que a brincadeira seja desempenhada de forma ativa pelo adulto para despertar interesse na criança. Também é necessário entender e respeitar o tempo de tolerância dela, flexibilizando e começando uma nova brincadeira quando ela solicitar.

Brincar na altura da criança e olhar nos seus olhos; escolher brinquedos sonoros, coloridos e que chamem a atenção da criança; deixá-la iniciar as brincadeiras; observar os gestos, ações e sons que ela desenvolve; dizer comentários e cantar durante a brincadeira, favorecendo a comunicação da criança;  mudar a estrutura da brincadeira quando a criança estiver acostumada; sempre exagerar nas expressões e nos gestos; fazer sons diferentes; desafiar a criança na medida certa são algumas das estratégias para estimular a criança autista.

É importante que o adulto tenha paciência, compreensão e evite questionamentos e direcionamentos durante o desempenho da atividade, garantindo o engajamento da criança.

É comum eu ouvir pais dizendo que não conversam com seu filho, pois ele não entende. Pais conversem com seus filhos, pois a compreensão deles pode não ser a mesma que a nossa, mas eles entendem. De forma única e singular seu filho é capaz de entender e sentir tudo que se passa no contexto familiar.

Se você tem interesse em conhecer mais sobre o autismo, confere aqui no Blog os links abaixo:

Então Vamos Falar Sobre Autismo?

Engajamento dos pais na Intervenção Terapêutica do Autismo

Autismo, uma Maneira Diferente de Ver e Interagir com o Mundo

Livros de apoio:

SANDBERG, E.H.; SPRITZ, B.L. Breve Guia para Tratamento do Autismo. São Paulo: M.Books do Brasil Editora Ltda, 2007.

BONATO, E.M. Metodologia de Intervenção Corporal para Autistas. São Paulo: Edições Loyola, 2016.

Por Suellen Merencio

Foto: Autorizada da Colunista Fernanda Alves

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