A EDUCAÇÃO E A CULTURA

A educação e cultura: uma reflexão sobre o texto “introdução a uma sociologia reflexiva” de pierre bourdieu.

A educação e a cultura estão sempre entrelaçadas, podendo causar efeitos positivos e negativos no que se refere ao acesso e permanência nas escolas e culturas.

Devido estarmos inseridos em uma sociedade hierarquizada, nem todas as famílias tem acesso à educação de qualidade, uma educação reflexiva e crítica e, menos ainda, de cultura.

As famílias que tem acesso as diferentes culturas, carregam uma bagagem cultural mais ampla do que as demais e certamente terão mais facilidade para compreender os ensinamentos escolares, por já terem adquirido boa parte desses ensinamentos com sua família.

Essas famílias ou grupos sociais dominantes, acumulam conhecimentos disponibilizados tanto pela escola, tanto pela cultura ao seu redor há várias gerações e assim, não têm grandes dificuldades no que se refere a essas questões de acesso e permanência na educação e cultura.

Assim, devido ao sistema de educação tratar todos “igualmente”, cobra de todos o que somente alguns grupos tem acesso, não levando em consideração as desigualdades sociais existentes na sociedade como um todo.

Então, a escola não deveria exigir tanto, quando o assunto é acesso à cultura, para as famílias mais populares de uma sociedade, pois essas famílias não tem o mesmo acesso quanto as demais famílias que tem melhores condições e acesso ao universo cultural.

Nesse sentido, o sistema escolar apenas reforça as distinções de acessos a cultura de seu público ao invés de oferecer vivências e acesso as culturas, nem que seja apenas de uma em específico, mas que já seria de grande valia para esses alunos e famílias.

Um aluno sem um conhecimento prévio e vivências culturais anteriores, o acesso dele a escola e o aproveitamento seria limitado, pois cobraria dele algo que ele ainda não possui, um conhecimento cultural que ele não conheceu ou viveu, o que se torna muito injusto e excludente.

Bourdieu traz uma reflexão de como o sociólogo deve atuar, sendo dividido em quatro partes:

(I) Ensinar um oficio;

(II) Pensar relacionalmente;

(III) Superar o senso comum e

(IV) A objetivação participante.

Relacionar essas partes que Bourdieu fala sobre como o sociólogo e pesquisador deve atuar, com a educação e cultura é bem simples e traz o que foi dito ao início do texto, sobre privilégios e hierarquização.

Na primeira parte, Bourdieu fala sobre ensinar um ofício, ou seja, fazer pesquisa. O ensinar e o pesquisar, não é algo natural, é um trabalho, um ofício que se ensina e aprende, algo que precisa de muito mais prática do que teorias.

No entanto, muitos gostam de pesquisas “prontas” e não mostram como foi o processo da pesquisa, as dificuldades e empecilhos que enfrentaram nesse percurso, sequer os recursos que utilizaram, mostram apenas o resultado, como se tivesse sido tudo perfeito e sem nenhuma dificuldade. Mas, sabe-se que nenhuma pesquisa é assim, de fato.

E esse ensinar um ofício mostra que se o pesquisador não tiver um conhecimento prévio ou acesso à cultura, terá muita dificuldade em expor os processos de uma pesquisa, de como ela se deu e as dificuldades que teve que enfrentar, mostrará apenas o resultado, algo pronto e acabado, que por vezes, nem foi a própria pessoa quem realizou.

No segundo item, pensar relacionalmente, faz-se necessário que o pesquisador não tenha um pensamento setorista no que se trata da teoria e ao método e também quanto ao contexto do objeto de pesquisa, pois são relações indissociáveis.

Para Bourdieu, uma pesquisa é muito complexa e séria, requer muito rigor e sempre se adequar ao problema. O pesquisador precisa estar atendo a tudo, a coleta de dados, ao objeto de estudo e sempre utilizar as metodologias mais adequadas para determinada pesquisa.

E fazer tudo isso, sem um conhecimento prévio cultural, sem acesso à educação de qualidade se torna muito difícil e ainda mais desafiador do que uma pesquisa já é.

Na terceira parte, a de superar o senso comum, para Bourdieu, faz-se necessário superar o senso comum para então, construir um objeto científico.

Para superar o senso comum, o sociólogo e pesquisador precisa se aprofundar em suas metodologias e teorias para construir um objeto de pesquisa válido e superar a superficialidade da sociedade, o senso comum sobre determinado assunto.

O impacto da pandemia na educação

Isso se dificulta um pouco mais para quem não tem acesso aos diferentes tipos de culturas e um conhecimento anterior. Deixar o senso comum, o que familiares e comunidade em que se vive carregaram por gerações é muito difícil e por vezes, até dolorido, então, mais uma vez, os menos favorecidos estão às margens da sociedade, educação e cultura, o que é uma realidade para a grande maioria da população.

E na última parte, a objetivação participante, Bourdieu traz uma reflexão sobre a posição que um sociólogo tem na sociedade e sobre sua profissão.

A objetivação está na percepção de que as considerações teóricas sobre determinado objeto precisa partir a partir da interação com o objeto, ou seja, o pesquisador precisa interagir com o seu objeto de pesquisa e não somente chegar movido pelos seus interesses.

Precisa de uma interação, observação, deixar que o objeto traga novos olhares para o pesquisador, nova teorias e metodologias. Também, não deixar de considerar outros objetos pelo caminho, focado somente no objeto anterior.

Numa pesquisa, o objeto de estudo, teorias e metodologias podem mudar completamente se o pesquisador se propuser a interagir, a conhecer e a participar de seu objeto anterior. Precisa-se estar atento a todos os detalhes e sinais de mudança ou não, em sua pesquisa.

Esse é um exercício muito difícil de se fazer, se abrir ao novo, estar atento a novas ideias e propostas e deixar para traz a ideia e objeto inicial, caso necessário, para partir para um novo interesse e objeto de pesquisa.

Assim, depois de toda essa exposição relacionando pesquisa, ser um pesquisador e ter acesso à educação e culturas, reflete ainda mais a importância do acesso e permanência na escola, do acesso aos diferentes tipos de culturas, dos conhecimentos prévios adquiridos.

Pois para ser um bom pesquisador, se faz necessário interagir com o objeto de pesquisa, estar aberto ao novo, deixar de lado o senso comum e mostrar os processos da pesquisa, as teorias e metodologias utilizadas e o que deu e o que não deu certo.

Como dito anteriormente, muitas vezes, todos esses processos são dolorosos, dói deixar de lado todo um costume que se tem para aprender o novo, dói ainda mais não saber como lidar com todo o processo de pesquisa e estudos se não tem um conhecimento prévio, se não teve acesso à educação de qualidade e cultura.

A escola precisa pensar em tudo isso e levar em consideração para não excluir seus alunos menos favorecidos e “exaltar” os mais favorecidos pela sociedade.

Precisa-se repensar a educação e cultura como um todo, proporcionar acesso e permanência de alunos nas escolas e aos diferentes tipos de culturas que existem na sociedade.

Não é papel da escola excluir seus alunos, seu papel é incluí-los. Oferecer experiências e vivências, mínimas que seja, mas que ofereça e que não exclua ninguém ou favoreça determinado grupo pelas condições financeiras que possuem.

Oferecendo boas condições, a escola formará pessoas com mais senso crítico e serão mais participativas na sociedade e lutarão por mais acesso a uma educação de qualidade, consequentemente, terão, também, mais conhecimentos anteriores e culturais.

Por Erica Lacerda

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Referência bibliográfica

BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma sociologia reflexiva. In: Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz (português de Portugal). 10ª. ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

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