O QUE TEM DENTRO DA MINHA CAIXA DE BRINQUEDOS

Da série: O que tem dentro da minha Caixa de Brinquedos – Parte 1

Levi, Lipe e Malu, os mascotes do blog Descobrindo Crianças estavam reunidos na praça, brincando ao ar livre.

De repente surgiu uma curiosidade imensa em Malu. Ela queria saber dos seus amigos, se eles tinham caixas de brinquedos.

Sendo meninos, pensava, parece que a brincadeira deles é mais voltada para fora de casa, andando de bicicleta, jogando futebol, basquete ou vôlei… E ela se questionava:

– Será que Levi e Lipe teriam uma caixa de brinquedos como a dela?

A curiosidade de Malu foi aumentando tanto que ela resolveu perguntar para seus amiguinhos e nesse mesmo instante saiu correndo em direção à praça aonde Lipe e Levi estavam.

Levi e Lipe buscavam pedras que continham a mesma forma para construírem uma barragem em miniatura, quando Malu se aproximou e, timidamente perguntou se poderia interromper.

Ao chegar, e, cheia de coragem, formulou sua pergunta:

– Lipe e Levi vejo vocês brincarem bastante todos os dias aqui na praça, andando de bicicleta, buscando pedrinhas como agora, e gostaria de saber se vocês têm uma caixa de brinquedos?

– E quais brinquedos vocês colocam nela?

Os meninos se olharam e afirmaram que sim, com a cabeça, que eles tinham, cada um, a sua caixa de brinquedos. Lipe, sugeriu, ao invés de contar sobre seus brinquedos, que os três fossem à sua casa conhecer o seu baú de brinquedos!

Ambos aceitaram prontamente e se encaminharam para a casa de Lipe. Ao chegarem, foram diretamente ao quarto de Lipe onde estava um baú de madeira, no canto do quarto, próximo ao armário.

Lipe correu à frente e abriu a tampa. O primeiro brinquedo que Lipe pegou foi um caminhão.

 Malu deu um sorriso e disse:

– Eu sabia! Eu imaginava que teria carrinhos, caminhões, aviões e bolas!

Lipe sorriu e apresentou uma caixa cheia de Hot Wheels de todos os tipos e cores.

Depois dessa ele tirou uma outra caixa e disse que essa era uma caixa muito legal porque brincava com seus pais. Malu e Levi ficaram curiosos.

Nesta caixa eles guardavam objetos das atividades lúdicas que utilizavam no final de semana, para brincarem juntos.

Lipe pediu que se sentassem no tapete que ele iria mostrar uma por uma e disse:

– Esta caixa é mágica e traz um brincar diferente! Não são brinquedos prontos comprados em lojas e sempre que brincam surgem ideias, sensações e momentos diferentes!

O primeiro “brinquedo”, era o Brincar com Sons.

A mãe de Lipe era amiga de uma profissional da área da Psicomotricidade, a tia Dri, e foi ela quem explicou como montar essa caixa mágica.

Ela informava o que cada atividade lúdica significava e como os pais poderiam se beneficiar delas para conhecer e apoiar mais os filhos. Esta brincadeira com os sons, por exemplo, desencadeia lembranças de quando se é bem bebezinho.

Por meio dela os pais poderiam descobrir situações ou desencadear memórias arcaicas, aquelas guardadas no inconsciente das crianças e além disto, elas estarão se desenvolvendo, se divertindo e estimulando suas habilidades.

Tia Dri chama esse momento de “Terapia do Brincar”!

Descobrindo os jogos em equipe

A outra brincadeira que Lipe mostrou foi o Brincar com Aromas e Sabores. Lipe contou que quando brincaram, fez ele lembrar do cheiro da mamadeira e das papinhas, portanto, manifestando a Fase Oral do desenvolvimento psicossexual.

Nesta brincadeira eles manipulavam frutas, verduras e outros alimentos com diferentes sabores e aromas, e a tia Dri comentou que remetia a questões do rompimento da simbiose mãe-bebe.

E o que seria esse rompimento?

É que, quando o bebê começa a se locomover ele se torna mais ativo e vai se distanciando da mãe, no precisando tanto da presença dela. Ao mesmo tempo que isso gera uma satisfação, também ocorre uma certa angústia (Mahler, 1963).

Contudo, nesse momento é necessário que a mãe esteja atenta e disponível emocionalmente para o filho sempre que ele solicita para evitar que o bebê tenha a sensação de abandono, pois nessa fase a presença da mãe é estruturante.

Outra atividade que Lipe quis mostrar rapidamente era o Brincar com Tintas! Como Lipe gostava desta brincadeira! As cores das tintas chamaram a atenção tanto da Malu como o Levi pois eram variadas e brilhantes.

Lipe falou que a tia Dri contou a seus pais que “podemos considerar a pele do corpo como a delimitação entre o mundo externo e interno.” (Thiers, 1998, p. 16) A tinta mobilizava a Fase Oral-Anal do desenvolvimento psicossexual.

Ao pintar o corpo frente ao espelho, por exemplo, pode-se perceber sensações corporais que facilita construir a imagem corporal. Crianças consideradas mais retraídas devido a timidez ou inibição psicomotora são beneficiadas com a pintura livre com tintas.

Devo ressaltar que ao usar a tinta em crianças muito agitadas poderá aumentar a sua agitação. Malu perguntou se Lipe era agitado e ele disse que não, porém tinha um primo que era e Malu disse:

– Então, não é bom dar tintas para ele!

E perguntou:

– E do que ele poderá brincar se não for tinta?

No lugar de tinta, o papel contact colorido iria proporcionar o mesmo trabalho de descoberta das diferenças entre o seu Eu e o Outro, construindo as suas próprias referências e auxiliando a criança agitada a reduzir suas tensões para poder elaborar melhor as suas emoções, tensões e reações.

Outra brincadeira que auxilia nessa construção do Eu é a argila, a massa de modelar, o slime, que são atividades que oferecem possibilidades de criação, expandem a criatividade, a autoimagem e liberam a agressividade.

Com a modelagem a criança consegue criar o que ela deseja ter ou ser, fluir e dar forma à sua imaginação e aos seus sonhos!

Quando proporcionamos vivencias mais sensoriais, mobilizamos as Fases Oral e Anal do desenvolvimento psicossexual.

Havia também na “caixa mágica”, alguns tabuleiros destinados a Brincar com Dedos. Esta atividade possibilitava também reviver os momentos quando a mãe e bebê construíam seu relacionamento.

A próxima atividade que Lipe mostrou estava dentro de uma sacola. Nela continha alguns álbuns, fotos, recortes, objetos pessoais, papéis coloridos, cartolinas, adesivos coloridos, cola e tesoura. Era o Brincar de Guardar.

Quando brincavam com essa atividade era um dia de grande emoção, porque os pais contavam-lhe histórias da família e de seus antepassados! Eram recordações que faziam as crianças vibrarem e os pais se emocionarem.

Nesse momento, Levi disse que gostaria que seus pais realizassem uma brincadeira assim para que ele pudesse construir seus próprios álbuns e faria, além da família, um de viagens, de amigos e de games que ele já jogou.

Lipe completou dizendo que a tia Dri explicou a seus pais que essa era uma atividade necessária e importante para as crianças, pois nessa construção os faziam sentir pertencentes a um grupo e, principalmente honrarem os que vieram antes deles.

Essa atividade de guardar beneficia a criança justamente por esse sentimento de “posse” contribuindo para o desenvolvimento do “poder”, porque a criança constrói e desconstrói os seus álbuns e suas construções, da maneira que ela preferir.

Esse sentimento de posse – “o eu posso controlar” – remete simbolicamente à fase do desfralde aonde a criança domina a retenção e eliminação das fezes, isto é, o controle dos esfíncteres.

Por isto que esta fase é denominada de Anal, por corresponder a etapa em que a criança controla os músculos do xixi e cocô. E ao descartar as fraldas a criança apresenta maior autonomia.

Absortos em tantas atividades diferentes mal ouviram a mãe de Lipe chama-los para degustarem um delicioso lanche que a mãe de Lipe preparou com muito carinho.

Eles tiveram que interromper o desvendar da Caixa de brinquedos do Lipe mas, no próximo artigo conheceremos mais atividades lúdicas desta maravilhosa “caixa mágica”!

Enquanto eles lancham, me responda: – Você já brincou com algum desses “brinquedos” com seus filhos?

Pro Adriana Luchin

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Texto baseado na bibliografia:

Descobrindo o Brincar, Coleção Thiers. Thiers, Solange. Editora CESIR, 2008.

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