UMA GERAÇÃO EM CONSTRUÇÃO

Uma geração em construção: novos desafios para a educação no contexto pandêmico.

Não. A pandemia ainda não chegou ao fim. Seja por motivos políticos, ideológicos, revolucionários, religiosos, enfim, nosso país ainda é um dos mais atrasados com relação ao plano de vacinação contra a Covid-19.

Enquanto nossos representantes discutem quem é o culpado, quem é inocente, ou quem disse e quem avisou, nossas crianças seguem trancadas dentro de suas casas na maioria dos locais ou então começam a frequentar o ambiente escolar em turnos escalonados, obedecendo o distanciamento, seguindo as normais sanitárias, ficando longe de seus amigos, contendo sua vontade enorme de abraçar…o fato é que meninos e meninas de escolas públicas e privadas ficaram meses privados do convívio escolar.

E então pais, educadores, pesquisadores tentam amenizar essa perda através do ensino remoto, em outros países chamados como ensino emergencial, aliando a tecnologia à ludicidade, ampliando espaço para novas pesquisas, novas atividades. Professores se reinventando. Hoje são quase youtubers profissionais.

Qualquer coisa que compense, de alguma forma, a falta que a escola faz. Até mesmo o ensino remoto, claro. Porque há, sim, maneiras de despertar o interesse e de engajar as crianças. No caso de quem tem acesso à internet, as lives permitem ver e falar com os professores, cantar junto, ouvir histórias, fazer desfile de fantasia, desenhar, colorir, recortar e colar papéis.

Mas há limites nesta geração. Crianças falando com o microfone desligado, sem ser ouvidas − tal qual ocorre com muitos adultos; a necessidade de alguém disponível na casa para auxiliar na conexão à aula virtual e na execução das atividades, providenciando todo tipo de material, como papel, cola, tesoura, barbante, lápis de cor, canetinhas, revistas, embalagens, tubos, etc.

Uma geração em constantes desafios que são superados (ou não) de todos os lados.

Com a flexibilização, em alguns locais, inicia-se o ensino hibrido metodologia de ensino com o objetivo de unir elementos do presencial e do online.

Embora ainda incerta a data da volta às aulas presenciais em muitos estados e municípios, as escolas já estão se preparando para receber seus alunos, não da mesma maneira como retornavam das férias, mas com uma experiência vivida que pode ter deixado diversos impactos negativos, não apenas na aprendizagem, mas no desenvolvimento socioemocional causado pelo isolamento social e distanciamento escolar.

A geração Alpha e o uso da tela

Diante de tanta informação, há inúmeros pais e professores preocupados com a queda brusca (e obvia) do desempenho acadêmico desta geração. Vejo professores enlouquecerem observando a diferença de conteúdo pedagógico antes e agora durante a pandemia.

Porém, vejo nesse momento uma grande oportunidade de repensarmos metodologias e pensamentos. Sabe aquela hora que a ave empurra o filhotinho estimulando-o a voar sozinho?

É chegada a hora. E quando me refiro a isso, não significa que devemos abandonar nossos jovens e crianças, pelo contrário, temos e urgentemente dar voz a elas, principalmente nas construções de nossas metodologias e planejamentos de ensino nas escolas.

Mais do que conteúdo acadêmico, precisamos nos atentar para essa nova geração que está chegando, que mal foi inserida na sociedade e já encara uma catástrofe mundial.

É claro que conteúdos acadêmicos são de extrema importância e sim, devem ser promovidos pela escola, mas o momento exige uma preparação profunda principalmente em preparar nossos alunos para lidarem com o novo.

Nada será como antes e é em vão ficarmos discutindo em momentos de nostalgia aproveitando anotações sobre o quanto era bom. Estamos em uma nova era. E esse novo tempo requer sensibilidade e empatia para com nosso futuro.

Se as gerações futuras não se conscientizarem imediatamente sobre quem são e o que fazem aqui, talvez não tenham a oportunidade de transmitirem suas vivencias adiante, por não terem possibilidades de viver ou promover um futuro causado pela nossa autodestruição.

Chegou a hora de refletirmos para atuar primeiramente na principal missão de todo ser humano. O despertar da empatia. O primeiro ponto a ser pensado é que neste momento os sentimentos deverão ser acolhidos, e a maneira como isso será feito será primordial para tudo o que virá depois.

Diversos são os motivos para o acolhimento, nossas crianças passaram por experiências de luto próximas a elas, de familiares, amigos e pessoas conhecidas, e as perdas vividas precisam ser tratadas de maneira especial.

Há ainda o medo da doença, da contaminação. O medo dos adultos influenciam diretamente as crianças, portanto teremos que lidar com níveis diferentes de ansiedade, pois as crianças trarão de casa toda uma bagagem do que vivenciaram e vivenciam desde o início da pandemia.

A transformação assusta a todos E imagina o quanto foi difícil de repente estarem todos em casa por tanto tempo, de repente mudar a rotina novamente, e se ausentar da segurança que o lar representa. Isso pode também gerar alguns impactos.

A melhor forma de acolher nossos alunos é ajudá-los a lidar com os próprios sentimentos, através de momentos de conversa, de escuta individual e coletiva. Não minimize o sentimento de nossas crianças e jovens. Zelar pela segurança e pela saúde dentro da escola trará para eles também mais confiança e segurança.

O ambiente escolar atual mais do que nunca deverá ser divertido, um lugar agradável para estar, por mais responsabilidades que se tenha dentro dele, sendo a ludicidade presença constante assim como jogos, música, brincadeiras e grandes reflexões.

Precisamos aproveitar a mudança de olhar dos pais e toda a família perante o papel do professor e sua constante atuação para que a educação ocorra de maneira eficaz.

Nesse novo normal, o professor mais do que nunca é uma figura fundamental, o que está mais próximo fisicamente e emocionalmente da criança. É  ele que será procurado pelo aluno se ele sentir-se inseguro ou desconfortável.

Este deve sempre estar atento ao comportamento de seus alunos, bem como ao desempenho escolar, e se necessário, juntamente com a família, encaminhar para profissionais que poderão ajudá-los.

Tão importante quanto o desenvolvimento da empatia é a tolerância em relação aos conteúdos a serem cumpridos pelos alunos. Faz-se necessário rever expectativas, observar os alunos que necessitam de um maior apoio pedagógico, priorizar conteúdos e disciplinas, esses são alguns dos novos desafios dos professores

 Avaliar e criar estratégias de recuperação da aprendizagem, disponibilizar meios tecnológicos e outros recursos de complementação da aprendizagem, bem como adequar o aprendizado desenvolvendo suas habilidades socioemocionais previstas inclusive na BNCC, reorganizando todo o conteúdo com a nova realidade educacional. Temos que traçar novos objetivos para a educação.

Agora é preciso estabelecer metas de aprendizagem diferentes para crianças com níveis de aprendizado diferentes.

A pandemia acentuou a diferença entre aqueles que tinham mais dificuldades de aprender; exigiu um novo educador, que precisou se reinventar, teve que se adaptar à novas tecnologias, novas metodologias, transformando-se. 

Manter o emocional de uma geração que está crescendo em meio ao caos: esse é a principal missão de todos os educadores. Garantir o direito de todos na escola é um direito de antes, durante e depois da pandemia.

Sejamos fortes, focados e seguimos. Sempre em frente.

Por Fernanda Colli

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