Meu filho tem intestino preso. Como ajudar?
As queixas de constipação intestinal entre as crianças são bastante comuns no consultório. Os pais ficam preocupados e querem ajudar seus filhos a vencer o intestino preso.
Para acalmar os corações dos pais, sempre tento pontuar alguns conceitos. Primeiro, sobre como podemos definir se a criança realmente sofre ou não de intestino preso.
Importante ressaltar que o número de evacuações varia de acordo com a idade. Por exemplo, bebês nos primeiros meses de vida têm grande movimentação intestinal, podendo evacuar até quatro vezes ao dia.
Conforme a criança vai crescendo, o número de evacuações vai diminuindo, passando para duas por dia próximo aos 24 meses e cerca de um episódio diário em crianças maiores.
Definimos um quadro de constipação intestinal quando o número de evacuações é menor do que três vezes por semana, muitas vezes com fezes ressecadas e duras, podendo haver sofrimento, dor e necessitar de muita força para a expulsão.
Regurgitação ou Doença do refluxo
Há casos em que a criança evacua diariamente de forma incompleta, com fezes muito ressecadas, em cibalos (“bolinhas duras” como fezes de cabrito), com muito esforço e dor, que são igualmente classificados como constipação intestinal.
Algumas crianças permanecem muitos dias sem evacuar e eliminam fezes extremamente volumosas e calibrosas denominadas fecalomas, que, por vezes, determinam entupimento do vaso sanitário e também são classificadas como constipação intestinal.
As fezes muito duras podem, por vezes, machucar o ânus e determinar fissuras com consequente sangramento, o que assusta muito as famílias e as crianças.
Como sempre digo para os pacientes e seus responsáveis olhar e entender seu cocô é o primeiro passo para se conseguir uma boa saúde intestinal. Avaliar a frequência e o formato das fezes são fundamentais.
A hora de ir ao banheiro para evacuar é uma situação que pode gerar ansiedade em muitas famílias, tornando esse momento quase que um drama.
Com o passar do tempo e a repetição dessa situação dramática, algumas consequências emocionais podem surgir com resultados negativos na autoimagem e no convívio social, especialmente na fase escolar.
Nesses casos mais severos, algumas crianças simplesmente se recusam a sentar no vaso sanitário ou pinico e acabam por expelir as fezes em lugares diferentes, como atrás de cortinas ou portas.
Além disso, pode ocorrer o escape de fezes nas roupas íntimas das crianças, o que pode gerar muita insegurança, além de desconforto.
Segundo o Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a prevalência estimada de constipação entre as crianças é de 4-30%, com predominância entre os em pré-escolares.[1]
Segundo a mesma entidade, a maioria dos casos de constipação, entre 90-95%, são classificados como constipação funcional, não havendo uma alteração patológica ou ocorrência de má-formação intestinal.
Portanto, na grande maioria dos casos, mudanças de hábitos incluindo alterações alimentares, prática de atividade física e controle emocional são o foco do tratamento. Aí entra a importância de um aconselhamento nutricional.
Embora cada caso deva ser avaliado de forma individualizada, as recomendações para a prevenção da constipação intestinal se iniciam durante a amamentação.
Os estudo apontam que o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses exerce papel preventivo na ocorrência dos quadros.
As famílias que seguem com o aleitamento materno e com a inclusão de alimentos adequados nos primeiros anos de vida tornam seus filhos mais propensos a aceitar uma dieta mais diversificada em outras fases, contribuindo também para a prevenção do intestino preso.
Via de regra, o tratamento nutricional baseia-se no ajuste do consumo diário de água, visto que muitas crianças não possuem o hábito de ingerir as quantidades adequadas do alimento.
Além disso, incrementar o teor de fibras do cardápio é outro ponto importante. A inclusão dos alimentos ricos em fibra vai variar de acordo com a idade da criança.
O acréscimo de frutas com cascas, grãos integrais e sementes, leguminosas, hortaliças cruas e farelos não podem ficar de fora do cardápio. A orientação de partida inclui ao menos 5 porções de frutas com casca e vegetais crus todos os dias.
Da mesma forma, a redução do consumo de alimentos altamente processados e com baixo teor de fibra, como bolachas recheadas, refrigerantes, bolos e pães com farinhas simples, etc, são importantes.
Abaixo, relaciono 10 dicas que podem auxiliar no incremento do consumo de fibras e água pelas crianças e melhorar o trânsito intestinal:
- Organize as refeições com horários fixos (café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar) para garantir uma oferta adequada de alimentos.
- Se a criança não aceita vegetais e legumes, faça preparações que contenham esses alimentos (ex. arroz integral com brócolis, suco de laranja com couve, vitamina com fruta e aveia, etc).
- Introduza frutas in natura e com casca e acompanhadas de alguma fonte de cereal. O horário dos lanches é ótima oportunidade (ex. maçã com granola e mel, morango com aveia e iogurte, etc).
- Além da água, ofereça outros tipos de líquidos como chás naturais e água saborizada. Talvez tenha sucesso dessa forma e consiga aos poucos aumentar o consumo da água pura.
- Uma ótima forma de incrementar o consumo de fibras é oferecer pipoca de panela natural nos lanches. De maneira geral, as crianças adoram esse alimento que é riquíssimo em fibras.
- Evite o uso de medicamentos com ação laxativa, exceto se houver prescrição médica. Opte por alimentos que trazem esse benefício naturalmente como laranja, tangerina, mamão, abacate, manga, morango, kiwi, ameixa preta e mel.
- Estimule que sua criança seja ativa, mesmo que de forma lúdica. De maneira geral, crianças que andam de bicicleta, brincam ao ar livre e fazem exercícios regulares têm menos ocorrência de intestino preso.
- Como responsável, mantenha a calma na hora da evacuação para que a criança sinta-se segura. Mostre que você também evacua, para que ela perceba que é algo natural.
- Crie o hábito de colocar a criança no vaso sanitário sempre após as grandes refeições, para que se crie uma rotina. Reserve um tempo para isso, se conseguir. Para que a criança fique mais confortável, utilize apoio de pés e faça desse momento um período de relaxamento. Converse, leia estórias, etc. Aos poucos, comer e evacuar será um hábito natural.
- Não haja com repreensão caso algo saia fora do planejado. Respire e pense que para a criança algo difícil também. Acolha seu filho! No sentido oposto, reforce positivamente suas conquistas. O uso de um calendário para reforço positivo pode ser uma ideia de apoio e incentivo para cada evacuação conquistada sem drama ou sofrimento.
Essas dicas não substituem o acompanhamento médico e nutricional. Para orientações específicas, consulte sempre um pediatra e um nutricionista. E havendo necessidade de apoio emocional, converse com um psicólogo.
Por Fabiana Jarussi
Capa: Cedida de forma anomima
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Referência Bibliográfica:
- Morais, M.B et ali. Constipação Intestina. Jornal de Pediatria – Vol. 76, Supl.2, 2000.
[1] Morais, M.B et ali. Constipação Intestina. Jornal de Pediatria – Vol. 76, Supl.2, 2000