O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA NA INFÂNCIA

O termo resiliência está ligado, comumente, a capacidade de superação de um evento adverso, assim como à flexibilidade e a retomada de equilíbrio emocional e das funções internas após um período de grande estresse, tornando a situação uma oportunidade de desenvolvimento e aprendizado.

Apesar de parecer um conceito simples de ser entendido, ainda há inúmeros debates acerca da conceituação mais adequada de resiliência e sua aplicação no desenvolvimento humano.

Para se ter ideia da complexidade do tema, a origem do termo, segundo alguns autores, parte da área da física, das ciências exatas, como a engenharia.

Com isso, a resiliência, dentro do campo da saúde e desenvolvimento humano, possui um amplo uso, que abrange aspectos que vão desde a superação de dificuldades sociais, até a recuperação, como citado acima, de funções psíquicas e emocionais frente a experiências traumáticas.

Hoje será abordado a resiliência na infância, como podemos desenvolver essa habilidade em nossas crianças e a importância dos fatores de proteção neste processo.

Não, não é só o adulto que passa por problemas e momentos difíceis. A criança, apesar de não demonstrar da mesma forma, também é uma grande “esponjinha” de problemas externos.

Prematuridade, mas pode chamar de resiliência

Na primeira infância (fase que compreende o período que vai do nascimento aos 6 anos de vida). As crianças estão totalmente voltadas para a aprendizagens do meio, habilidades de linguagem, socialização e comunicação. Todo o alicerce para construção de sua vida se dá na primeira infância.

Estudos de neurociências apontam uma relação direta entre o desenvolvimento cerebral e as primeiras experiências na vida da criança.

Por isso, é tão importante que elas tenham oportunidades de aprendizagem e formas saudáveis de lidar com suas emoções e sentimentos.

Ao falar sobre resiliência na infância, é importante mencionar que este é um processo dinâmico e dependerá da qualidade das interações, das vivências e do contexto ao qual a criança está inserida. Não é um processo linear, tampouco de via única.

Ainda que conceituar resiliência seja uma tarefa desafiadora, os fatores que favorecem este processo em crianças têm sido amplamente abordados no mundo todo, principalmente neste momento de pandemia do Coronavirus, muitos estudos sobre resiliência estão surgindo. 

E ao falar de fatores de proteção na primeira infância, a primeira relação da criança, a relação com seus cuidadores, aqui destacaremos o papel dos pais, é de grande importância no desenvolvimento da resiliência.

E essa relação surge como um importante fator que auxilia na construção e favorecimento dos processos de resiliência infantil.

Vale destacar a importância da família no desenvolvimento da criança na primeira infância

O ambiente familiar representa o mais importante contexto de desenvolvimento na primeira infância em que ocorrem as interações face a face entre pais e crianças e as grandes aprendizagens, que contribuem para as regulações emocionais e comportamentais das crianças, assim como para seu processo de socialização” (Linhares, 2015).

Porém, é sabido que a realidade no Brasil e em alguns outros países, a situação de risco e vulnerabilidade de crianças é algo que demanda um outro olhar acerca da resiliência.

Casos de violência, abandono e agressão são inúmeros ainda na primeira infância, o que aumenta a probabilidade de problemas na vida adulta, como depressão e ansiedade.

É possível citar inúmeros prejuízos para a vida da criança frente a estes problemas tão graves e que compete mais ao Governo em termos de políticas públicas que contemplem e solucionem desde a base estas dificuldades, já tão enraizadas no meio.

Vale destacar ainda que situações de violência pelas figuras de cuidado primário, além de serem situações traumáticas, prejudicam também o desenvolvimento de seu potencial resiliente, ou seja, o desenvolvimento de sua capacidade de lidar com o novo, com as adversidades e dificuldades que encontrará ao longo de sua vida.

Ainda assim, é possível que a resiliência seja desenvolvida neste grupo, quando por exemplo, as figuras secundárias e de apoio, contribuam de forma positiva no crescimento e amadurecimento sadio desta criança.

Essas figuras secundárias são aquelas que não fazem parte da família nuclear, ou seja, avós, tios, amigos, sendo este último também, um fator de proteção que   interfere diretamente nos níveis de autoestima e na tendência a emoções positivas. Aqui destaca-se a importância da solidez nas relações.

Quando falamos de cuidado parental, falamos não só no afeto, cuidado, atenção, orientação e responsabilidade envolvido nesse contínuo de criação de uma criança, mas também de todo o aspecto neurológico e emocional envolvidos no processo.

Fica claro então que esse cuidado, permeado por práticas de respeito à criança e sua infância, é de fundamental importância para seu desenvolvimento cognitivo e emocional, com isso, as características resilientes tendem a ser consequência.

Nesse sentido, tornar-se resiliente dependerá também das relações que a criança tenha estabelecido em suas interações dentro de um contexto específico e de suas diferenças individuais em sua forma de perceber e agir no mundo.

Então, como nutrir a resiliência nas crianças? Vale salientar, novamente, que a resiliência não é algo imutável, ela poderá estar presente em algumas situações de vida e em outras não. Além disso, a resiliência está ligada ao desenvolvimento saudável das emoções, por isso a importância dos cuidados de vida se darem de forma dinâmica e integral.

Com isso, ressaltaremos aqui alguns pontos que serão importantes no desenvolvimento desta habilidade.

Atente-se ao processo e não somente ao resultado.

Incentive seu filho a buscar seus objetivos e durante esse processo, oportunidades de aprendizagem surgirão. Encoraje suas pequenas conquistas nessa busca! A motivação é uma grande aliada da resiliência.

Nutra a autoestima positiva!

Depender de opiniões externas para conseguir seguir em frente não é o que os pais desejam para os filhos. Para que isso não aconteça, é preciso que a criança esteja segura de si mesma e que tenha consciência de suas capacidades internas.

Então, construa junto ao seu pequeno essa autoestima positiva. Permita e encoraje que ele realize suas atividades sozinho. Crianças possuem necessidades primárias, e uma delas é o senso de importância. Alimente sua autoconfiança.

Lembre-se que a criança está contextualizada.

Ela não estará somente inserida no ambiente familiar. Outros contextos são importantes no desenvolvimento da resiliência, como a escola. Família e escola devem caminhar juntas neste processo. A construção da rotina, das regras e limites, são contornos estruturantes para a vida da criança.

Ensine sobre empatia!

Incentive a doação ao outro, a participação em projetos sociais, a construção de coisas importantes não só para ele, mas para o outro também. Assim, a criança perceberá que o problema do outro, pode ser o dela, reunindo meios para ajudar o próximo.

Estimule a criança a ter um olhar positivo em sua vida.

Mudanças, problemas, dificuldades, frustrações surgirão, mas são importantes meios para o aprendizado de habilidades de vida.

E por último, mas não menos importante: não esqueça de você! 

Lembre-se que como adulto, você é o exemplo dessa relação e que o autocuidado, o olhar para você, para que se sinta valorizada e importante, também farão parte da aprendizagem da sua criança.

Já ouviu falar na metáfora da máscara de oxigênio?

Nas viagens de avião são dadas algumas orientações antes do avião decolar, instruções importantes para o bom andamento do voo e em caso de acidentes.

E uma das instruções é sobre o uso da máscara de oxigênio, onde, em uma situação especifica, elas cairão automaticamente da parte superior da sua poltrona, e que se alguém precisar de ajuda, primeiro você precisa colocar a sua máscara para depois ajudar quem precisa.

Aqui vale ressaltar que se aplica a qualquer pessoa que precise de ajuda, seja sua criança, sua mãe, seu amigo, etc.

Essa metáfora se aplica perfeitamente as situações de vida. Não podemos cuidar do outro sem cuidar primeiramente de nós mesmas.

Olhe para você! Aproveite a oportunidade para aprender e desenvolver resiliência em você também!

Com afeto,

Sarah Izis

Foto Capa: keylla Gomes

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