A MESA DE JANTAR E A SURDEZ

O que a mesa de jantar tem haver com a surdez? Vamos descobrir juntos?

O Natal se aproxima e junto dele diversas comemorações. Um momento de muita felicidade e convívio em família. Mas essa pode não ser a realidade de muitas pessoas com surdez e sua família.

A grande maioria das pessoas com surdez nascem em lares de pessoas ouvintes. Nesses lares nem sempre as pessoas aprendem LIBRAS, o que faz esses momentos de felicitações um momento de isolamento.

Saiba que essa é uma situação experimentada por muitos surdos, sejam eles usuários de língua de sinais, sejam oralizados. A esse fenômeno chamou-se de Síndrome da mesa de jantar. Mas calma, não é uma doença

Você sabe o que é a Síndrome da Mesa de Jantar?

A Síndrome da Mesa de Jantar é o nome dado por alguns pesquisadores para a experiência vivida cotidianamente pelo membro surdo em uma família de ouvintes, que, muitas vezes, fica excluído das conversas corriqueiras.

Esse nome ilustra o quanto os momentos das refeições são exemplos típicos das situações em que os surdos ficam de fora das trocas de informações e compartilhamento entre as pessoas.

Mesmo que alguém se ocupe de explicar ou de traduzir para o surdo o que se passa, a sincronicidade fica prejudicada e o fluxo da interação muitas vezes se perde.

Além disso, é comum que a explicação ou tradução simplifique o que foi dito, empobrecendo a interação. Esse fenômeno atrapalha no desenvolvimento, na aprendizagem e interfere na saúde emocional das pessoas.

Como já falamos por aqui, a aprendizagem não se restringe ao ambiente escolar e começa bem antes da entrada da criança na escola. A apresentação da criança ao mundo e ao conhecimento compartilhado se inicia no ambiente familiar e nos seus primeiros círculos sociais.

Grande parte desta apresentação se dá de modo informal, pela simples vivência e convivência do bebê e da criança com pessoas e atividades cotidianas. Vygotsky estudou bastante as relações sociais.

No entanto, muito desta aprendizagem, que chamamos incidental, que se dá pela escuta inevitável do que se passa no entorno, fica prejudicada no caso da criança surda.

É importante lembrar que entre 90% e 95% das crianças surdas nascem em famílias de ouvintes, muitas delas com pouco ou nenhum contato prévio com surdos.

Estas famílias organizam suas trocas cotidianas essencialmente de modo oral, nesse cenário as crianças com surdez não são incluídas e acabam perdendo pontos e fragmentos importantes da interação.

Normalmente, não nos damos conta da quantidade de informações que são transmitidas nas conversas e interações diárias. Falamos a respeito de atualidades, valores familiares e sociais, conceitos básicos de convivência e sobrevivência.

É muito importante que toda a família e pessoas que convivem com uma pessoa surda fiquem atentas a isso.

É preciso se ocupar conscientemente da transmissão de informações, além de garantir que a pessoa surda possa participar das conversas da forma mais plena possível.

Mesmo o surdo implantado ou bem profetizado pode precisar se apoiar na leitura labial para complementar as informações auditivas. Por isso, na mesa de jantar é importante ter atenção ao posicionamento e, na medida do possível, evitar que várias pessoas falem ao mesmo tempo.

Além disso, muitas vezes é preciso repetir o que foi dito. Isso pode ser cansativo ou pouco natural no começo, mas é uma questão de hábito.

A pessoa surda precisa sentir esse cuidado por parte da família e amigos, uma vez que é comum que ela se sinta desconfortável em pedir que as pessoas repitam algo ou expliquem alguma coisa que não entenderam bem.

Não há uma receita. Cada família, a partir da sensibilidade às necessidades e características uns dos outros, vai encontrar seu jeito de incluir o surdo nas trocas cotidianas.

Afinal, antes de mais nada, estamos falando de um filho, uma mãe, um irmão, uma esposa, uma avó,  um primo, um amigo. Com paciência, afeto e informação é possível minimizar os efeitos dessa síndrome.

Por Caroline Nunes

Capa: Free Pik

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