AS TELAS SÃO MOCINHAS OU VILÃS

As telas não precisam ser vilãs?

Mas, será que elas são mocinhas?

Quantas vezes você já ouviu o quanto as telas são prejudiciais, viciam e adoecem?

Eu mesma enquanto neuropsicóloga, falo e repito várias vezes, para diversos pacientes e de várias faixas etárias, sobre os malefícios do uso INADEQUADO das telas!

 Isso mesmo que você leu, o USO INADEQUADO!

Quando, eu e outros profissionais falamos sobre os danos que podem ser causados pelo uso inadequado de telas, estamos falando de modo geral e isso engloba o uso precoce, a exposição a conteúdos impróprios e o uso indiscriminado.

Aqui no blog tem dois artigos da advogada Priscila, na qual ela relata sobre o uso do aplicativo facebook e do tiktok

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o uso de maneira impropria da tecnologia pode causar prejuízos e efeitos negativos para a saúde nas respectivas áreas:

– Sono (alterações do sono, como insônia, privação e outras);

– Atenção (afeta a capacidade atencional devido ao excesso de estimulo);

– Aprendizados (atraso no desenvolvimento neurocognitivo);

– Transtornos alimentares (risco de obesidade, bulimia e anorexia);

– Regulação de Humor (risco para depressão e ansiedade);

– Visão (risco aumentado para problemas de visão);

– Problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador;

– Problemas auditivos e PAIR, perda auditiva induzida pelo ruído;

– Transtornos posturais e músculo-esqueléticos;

-Transtorno de imagem corporal e auto-estima;

-Sedentarismo e falta de exercício;

A SBP traz ainda o risco pela exposição a conteúdos inadequados, por exemplo:

– Exposição a conteúdos pornográficos;

– Grupos que propagam o suicídio, autoagressão;

– Pedofilia;

-Violência;

Lembrando, tem um componente importante, a dependência, ou seja, o vício que é a criança desenvolve.

É como o vício por drogas, porém é silencioso e passa despercebido, porém pode causar grandes danos tanto para a criança, quanto para família.

Existem uma maneira adequada de uso então?

Sim! É sobre isso que falaremos nesse texto.

O Royal College of Paediatrics and Child Health (RCPCH), nos diz que os malefícios causados pelo uso excessivo de telas ocorrem quando a criança ou adolescente, substitui atividades primordiais para a saúde e ao desenvolvimento humano como dormir, brincar, se exercitar, alimentar, socializar e estudar, para ficar diante das telas[2].

Existem vários aspectos que compõe o uso correto e adequado de telas, assim podemos tirar o rótulo de vilãs.

Mas claro, para que isso aconteça precisaremos de um adulto responsável e comprometido com esse processo.

Recentemente tive um paciente de 5 anos, que passava mais 6 horas diante da tela do celular!

Quando ele entrou na escola aos cinco anos a professora chamou a mãe e explicou que seria importante buscar uma avaliação, pois ele estava muito atrasado em habilidades básicas, como interagir socialmente, contato visual com a professora e com os colegas, agressividade, comer usando talher, chutar bola, falar o próprio nome e outras habilidades cognitivas.

No momento que ele entrou no consultório, que realizei a anamnese com a mãe, pude observar o paciente e o primeiro aleta ligou com o atraso significativo da fala, quase caí da cadeira em saber que ele facilmente passava de 6 horas de uso de telas e o uso era desde bebezinho!

Claro que existe toda uma história familiar de uma mãe solo, que precisava de uma “ajuda” enquanto ela trabalha, por não possuir rede de apoio.

Mas esse paciente com atraso significativo da fala, também tinha dificuldade com o contato social enorme, limitações cognitivas incalculáveis!

Nessa primeira sessão minhas primeiras orientações foram, diminua ao máximo o tempo de telas e procure uma fonoaudióloga para auxílio.

Na sessão seguinte a mãe relatou que conseguiu diminuir para 1 hora o tempo de tela e só aí ela conseguiu ver o quanto o filho apresentava atrasos.

Essa criança tinha atraso global do desenvolvimento, causados pelo excesso de tela e falta de estimulo, como foi dito acima a tela passa a ser nociva quando ocupa espaços que não pertencem a ela.

E por qual motivo estou contando isso?

A SBP apresenta em suas diretrizes que existe um tempo máximo para uso das telas de acordo com a faixa etária.

0 a 2 anos   A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda que crianças menores de 2 anos tenham acesso a telas.  2 a 5 anos   Limitar o tempo de uso de telas para, no máximo 1 hora por dia, o tempo deve ser divido e intercalado com outras atividades.  6 a 10 anos   Limitar o tempo de uso para no máximo 2 horas por dia.  O acesso deve ser monitorado pelos responsáveis. Além disso é aconselhado evitar conteúdos de violência, sexual e comportamento inadequado.  
Quadro referente a idade e quantidade de tempo nas telas

*OBS: O tempo de tela nunca dever ser seguidos é importante intercalar o tempo de uso com outras atividades.

As telas jamais devem substituir as atividades essenciais para manutenção da saúde e bem estar da criança e dos adolescentes.

Os responsáveis precisam lembrar que as crianças precisam dormir, praticar atividade física, interagir com família e amigos, brincar dentro e fora de casa.

É papel dos responsáveis assegurar que as necessidades básicas estejam sendo atendidas.

A criança precisa desconectar das telas para vivenciar o tédio, ele é importante para o desenvolvimento da criatividade, uma criança entendida é uma criança criativa.

Na correria do dia a dia, ficamos mais susceptíveis a ofertar as telas e acabamos usando as telas como babas eletrônicas.

Porém o único critério de cuidado com as telas não deve ser apenas o tempo, os responsáveis também precisam estar atentos aos conteúdos acessados pelas crianças.

Regular o tempo de tela não garante que a criança está realizando o uso adequado das mesmas.

Costumo dizer que a criança com acesso a telas e internet possui um mundo de possibilidades na mão!

Esse mundo é irrestrito e ilimitado, cabe aos pais limitar e restringir acesso aos conteúdos inadequados.

Pensar no fator tempo, nos dá uma falsa sensação de segurança, é necessário que os pais e cuidadores fiquem atentos e guiem as crianças na escolha do que pode ser acessado.

Saber escolher o conteúdo é parte importante, pois o tipo de mídia acessada irá influenciar o tipo de experiência que a criança terá com o uso da tecnologia, por exemplo, passar uma hora jogando um jogo de guerra é totalmente diferente de passar uma hora lendo um livro no tablet.

A SBP recomenda que jogos com cenas de violência, morte, desastres, não sejam acessados por crianças e adolescentes, pois banalizam a violência e faz com que crianças e adolescentes acreditam que essa forma é uma forma de resolução de conflitos. 1

Os conteúdos possuem a idade de classificação e levar em consideração apenas essa métrica é muito superficial, pois crianças de até seis anos ainda não conseguem distinguir o que é real do que é imaginário, isso as tornam mais vulneráveis a qualquer conteúdo que possa parecer inocente, mas para a criança é algo sério.

Acredito que todos já viram vídeo na internet de crianças pequenas chorando quando vê cenas tristes em filmes infantis.

Os filmes infantis muitas vezes possuem classificação livre, os pais acreditam que não existem conteúdos que irão afetar as crianças, porém para a criança existe algo que mexe com ela. 

Por isso é indicado que a criança seja monitorada e auxiliada sempre e é importante que os pais acessem o conteúdo antes de ofertar ou permitir que os filhos acessem.

Todo mundo já sabe o quanto é importante nutrir o corpo da criança com alimentos saudáveis e com os conteúdos que as crianças acessam não é diferente.

Sempre é importante optar por conteúdos que possam ensinar algo, nutri-los de conhecimento, que irá agregar algo bom na vida e no conhecimento da criança, pois tudo que é aprendido irá repercutir a curto, médio e longo prazo.

Para escolher conteúdos legais e proteger a criança fiquem atentos a alguns detalhes:

– Observem a classificação indicativa do conteúdo.

– Opte por configurações em aparelhos que impossibilite a criança de baixar aplicativo e jogos sem que os pais ou responsáveis saibam.

– Assista ou acesse o conteúdo com a criança, assim você terá oportunidade de avaliar o que seu filho está tendo acesso.

– Sempre converse com a criança, explique o que pode, o que não pode, os perigos que se escondem por trás das telas.

Az crianças estão nascendo em um mundo totalmente conectado e digital, esse é um tema muito complexo.

Mesmo não tendo nascido na era das “superconexões”, precisamos saber conduzir as crianças por esse labirinto que é a realidade digital e precisamos ser exemplo, usando de maneira positiva e consciente as telas.

As telas não precisam ser vilãs, pelo contrário, podem ser poderosas aliadas, existem uma infinidade de conteúdos excelentes para cada faixa etária, sobre milhares de assunto.

A internet é um oceano infinito de conhecimento, mas cabe aos pais e responsáveis tornar esse oceano um ambiente adequado, seguro e saudável para as crianças.

Por isso fiquem atentos, ensinem as crianças a desenvolverem um relacionamento saudável com as tecnologias, apenas com a “Educação Digital” será possível criar uma relação saudável com esse mundo de possibilidades que carregamos nas mãos.


Royal College of Paediatrics and Child Health. The Health Impacts of Screen Time: a Guide for Clinicians and Parents.

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