INTOLERÂNCIA À LACTOSE EM CRIANÇAS

A intolerância à lactose é uma queixa muito comum para os profissionais da área da saúde que trabalham com crianças.0

A confirmação do diagnóstico normalmente traz apreensão e ansiedade para as famílias, pois o controle da doença está diretamente relacionado à alterações na alimentação da criança.

Quando não há uma orientação correta, a criança fica exposta a restrições dietéticas muitas vezes severas e desnecessárias, o que pode causar sério comprometimento nutricional.

Entende-se como intolerância à lactose a repercussão clínica da redução dos níveis de lactase na mucosa intestinal. A lactase é uma enzima que se localiza nas microvilosidases do intestino delgado, principalmente no jejuno[1].

A lactose é o açúcar presente predominantemente no leite de mamíferos e produtos de origem láctea. Quando ingerimos, esta substância é quebrada em dois açúcares menores (galactose e glicose) que são absorvidos no intestino delgado, alcançam a corrente sanguínea e então são utilizadas como fonte de energia pelas células.

A lactase é a enzima que faz esta quebra. A lactose não é digerida quando há deficiência parcial ou total da lactase, alcançando o intestino grosso (cólon) sem ou com pouca quebra.

Lá no intestino, as bactérias do cólon metabolizam a lactose resultando em fermentação exacerbada e que leva à formação de gases, sintoma clássico da intolerância à lactose.

Além de gases, outros sintomas relacionados à patologia são a dor abdominal, muito frequente e que pode vir acompanhada de náuseas e vômitos, além de diarreia, distensão abdominal e dermatite peri anal (“assaduras”), entre outros.

Alergia alimentar infantil

O grau destes sintomas pode variar e geralmente começam em poucos minutos ou em até algumas horas após a ingestão de alimentos que contenham lactose.

A incidência da intolerância à lactose no Brasil no Brasil é de 44,11%, sendo que o maior número de casos novos encontra-se em crianças de zero a dez anos de idade (23,71%). Conforme aumenta-se a idade, a incidência da doença diminui, tendo o menor percentual em pessoas com mais de 60 anos (6,71%)[2].

Existem três tipos de intolerância à lactose com causas diferentes:

  1.  Hipolactasia do “tipo adulto”. Ocorre na maioria da população mundial adulta, com incidência variável dependendo da localização e raça. Apenas 2% apresentam sintomas graves de intolerância à lactose. É uma doença de natureza genética e ocorre em pessoas com predisposição.
  2. Intolerância congênita à lactose. Muito rara, impede o aleitamento materno exclusivo e manifesta-se logo após o nascimento. O recém-nascido tem que ser alimentado com uma fórmula para lactentes sem lactose.
  3. Intolerância secundária à lactose. Doença adquirida, ocasionada por lesões no intestino delgado. Ocorre deficiência temporária de lactase que após períodos de tempo variáveis retorna aos valores normais, uma vez controlados os fatores desencadeantes. Diarreia causada por gastroenterite viral, giardíase, alergia ao leite bovino, doença celíaca e doença de Crohn são as principais causas. Também pode ocorrer em bebês prematuros, ainda incapazes de produzir lactase em quantidade suficiente.

O diagnóstico é feito pelo médico gastroenterologista através de exames clínicos e/ou laboratoriais.

A partir do diagnóstico, o paciente é encaminhado para um especialista para ajustes de dieta.

O tratamento baseia-se na reeducação alimentar onde deve- se reduzir temporariamente a ingestão de alimentos que contenham lactose e posteriormente realizar uma reintrodução gradativa para verificação dos níveis de tolerância.

A maioria das pessoas intolerantes à lactose pode ingerir cerca de 12 g / dia de lactose (equivalente a um copo de leite) sem apresentar sintomas adversos. Mas essa é uma condição muito individual.

Não é recomendada a exclusão total ou definitiva da lactose da dieta, sem acompanhamento profissional.

Sem orientação, a falta de consumo de leite e derivados sem a adequada substituição pode levar ao consumi deficiente de proteínas, cálcio, riboflavina e vitamina D, cujas principais fontes são os alimentos lácteos.

Reforço que o planejamento dietético apropriado é fundamental, especialmente em crianças de primeira infância para que haja um crescimento satisfatório.

Para algumas situações especiais, onde existe a possibilidade de ingerir quantidades maiores de lactose, existem medicamentos que podem ser utilizados para ajudar a diminuir os sintomas.

Estes medicamentos podem ser encontrados em farmácias e estão disponíveis nas mais variadas apresentações e nada mais são do que a própria enzima lactase.

Nos últimos tempos, a indústria alimentícia colocou no mercado vários produtos lácteos sem lactose. Encontramos facilmente na grande parte das cidades brasileiras leites, iogurte e até queijos sem lactose.

Com orientação e acompanhamento adequado, além de qualidade de vida, o portador de intolerância à lactose pode ter uma vida praticamente que normal.

Por Fabiana Jarussi

Capa: Lapmed

Referência Bibliográfica:

  1. Galvão LC. Recomendações. Atualização de condutas em pediatria: Intolerância à lactose. Departamentos científicos SPSP 2012; 61. [acesso 23 set 2021] Disponível em: http://www.spsp.org.br/site/asp/recomendacoes/Rec_61 _Gastro.pdf.
  2. Pereira FD, Furlan SA. Prevalência de intolerância à lactose em função da faixa etária e do sexo: experiência do laboratório Dona Francisca, Joinville (SC). Revista Saúde e Ambiente. 2004; 5(1):24-30.

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