Dizer “Não”. A começar pelo evidente fato.
Quero ser melhor pai/mãe para meu filho do que meus pais foram para mim.
Muitos desses pais com dificuldade de dizer não são frutos de uma geração que foi educada rigidamente e querem dar oportunidades, que não tiveram, aos filhos. Isso não é negativo, muito pelo contrário.
É ótimo que queiram fazer melhor que seus pais fizeram. Porém é muito fácil ‘perder a mão’ e se tornar permissivo.
Como sabemos, tudo em excesso não é bom – tanto a rigidez quanto a permissividade, o equilíbrio é sempre um bom amigo.
Aqui faço uma observação interessante. Ao procurar imagens para compor esta postagens pesquisei por pais dizendo não aos filhos e apareceram diversas imagens de pais apontando o dedo e dizendo não de forma agressiva.
É preciso dizer que falar não aos filhos não é e não deve ser agressivo.
O não pode ser falado de forma afetuosa.
A criança precisa do não, mas nem de longe ela precisa de agressividade.
Motivos pelos quais os pais têm dificuldade de dizer não:
1. Querem agradar
2. Têm medo da ‘rebeldia’ e medo de ser rejeitado
3. Querem dar autonomia
4. Sentem-se culpados por estar muito tempo longe do filho, trabalhando
5. Querem proteger o filho do sofrimento
Existem outros motivos, mas selecionei apenas estes para conversarmos hoje.
Vamos então esclarecer estes pontos:
1. O filho não precisa e não deve ser agradado o tempo todo. Querer deixá-lo feliz é natural e existem diversas formas para isso, no entanto, na hora de dizer o não, é preciso fazê-lo.
A criança precisa de limites para compreender e se sair bem no mundo.
Uma criança que apenas recebe sim pode ficar contente no momento da resposta, mas com certeza sofrerá, e muito, quando precisar enfrentar um não, os pais não conseguirão protegê-la para sempre, e mesmo que possível não seria positivo.
2. A criança contestar quando recebe não é saudável, ela esta tentando se autoafirmar, tentando fazer valer seus desejos, isso é positivo.
Ao longo do tempo irá percebendo que existem coisas que podem e outras que não e compreende a dinâmica do mundo, nem sempre temos tudo o que queremos e isso edifica.
É preciso que os pais compreendam isso e sejam firmes, quanto mais se volta atrás depois de ter dito não, mas difícil é dizer da próxima vez.
Os pais precisam entender que o filho chorar, reclamar ou mesmo dizer que não gosta dos pais é doloroso, mas faz parte do papel de pais que buscam criar filhos saudáveis.
3. A autonomia é construída aos poucos, é irresponsável dar mais independência e responsabilidade ao filho do que ele pode carregar.
Para que tudo isso seja alcançado a criança precisará antes receber muito nãos, deve-se compreender que o não também constrói para a autonomia, pois prepara o filho para situações futuras, quando ele precisará lidar com tudo sozinho.
4. Hoje os pais passam menos tempo com os filhos que antigamente, especialmente as mães sentem imensa culpa por ter que sair para trabalhar e deixar seus ‘pequenos’.
Neste caso é preciso que o adulto trabalhe esse sentimento em si mesmo, refletir sobre os motivos de estar longe e não deixar que isso influencie na educação dos filhos.
Não existe compensação de tempo, o que vale é o tempo que você passa com seu filho, e se nesse tempo você é permissivo demais (mesmo que seja por não ter estado presente anteriormente) seu filho não aprenderá com o não, e isso será prejudicial.
5. Não querer que o filho sofra com o não, parece ser um motivo nobre, mas não é.
Quando você tem dó de seu filho e por isso não diz não, você está duvidando da capacidade que ele tem de se reerguer e de procurar alternativas.
O não pode ser desconfortável, o é para todos, mas quem não se vira quando o não chega? Apenas quem nunca teve de lidar com ele.
Espero que tenha ficado claro que:
Dizer NÃO aos filhos também é um ato de amor. É cuidar e educar para que cresçam saudáveis.
E não acredite que isso distancia você de seus filhos, se o não for acompanhado de afeto, apoio e compreensão de que pode ser difícil para o filho recebê-lo pode estreitar a relação.
Dizer ‘não’ não precisa implicar que você deixará seu filho sempre lidar sozinho com isso.
Demonstre que reconhece a dor dele e que estará ao seu lado.
*pai próximo ao filho, olhando o horizonte*
Dicas:
• Se você disse não, não volte atrás. Aprenda a lidar com a sensação, que no início pode ser bem desconfortável se você está acostumado a apenas dizer sim aos seus filhos.
• Não tente compensar o não. É claro que você pode ajudar a criança, principalmente se for pequena, a encontrar outras opções, mas é preciso que a criança enfrente a sensação de receber o não e lide com isso.
Dizer NÃO prepara a criança para o mundo, isso é AMOR.
Por Eanes Moreira
http://descobrindocriancas.com.br/2017/02/06/sobre-psicomotricidade/