MEU FILHO ESTÁ COM ANEMIA

Meu filho está com anemia. E agora?

A anemia é a carência nutricional de maior prevalência no Brasil, superando a desnutrição. E é uma questão que tira o sono de muitos pais!

A anemia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais[1].

As anemias podem ser causadas por deficiência de vários nutrientes como Ferro, Zinco, Vitamina B12 e proteínas.

Porém, a anemia causada por deficiência de ferro, denominada anemia ferropriva, é muito mais comum que as demais (estima-se que 90% das anemias sejam causadas por carência de Ferro). E é nessa anemia que vou me deter.

O ferro é um nutriente essencial para a vida e atua principalmente na síntese (fabricação) das células vermelhas do sangue e no transporte do oxigênio para todas as células do corpo.

Crianças, gestantes, lactantes (mulheres que estão amamentando), meninas adolescentes e mulheres adultas em fase de reprodução são os grupos mais afetados pela doença, muito embora homens -adolescentes e adultos- e os idosos também possam ser afetados por ela.

Estima-se que no Brasil, uma em cada três crianças entre zero e sete anos apresente anemia ferropriva. O dado inédito é de uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), considerada o maior levantamento já publicado sobre a doença em idade pediátrica no país.

Foram analisadas 134 publicações anteriores, divulgadas de 2007 a 2020, envolvendo quase 47 mil crianças.

O estudo aponta causas variadas para o problema, que incluem elevado índice de mães com anemia e ingestão inadequada de ferro.

A faixa etária mais acometida pelo anemia ferropriva na infância são crianças entre 6-24 meses, devido à necessidade nutricional aumentada de ferro em função do crescimento e desenvolvimento acelerados.

Clinicamente a anemia por deficiência de ferro traz diversos sinais e sintomas, como esclera azul (quando o fundo branco do olho assume uma coloração azulada), espessamento das unhas, palidez, falta de apetite, taquicardia, retardo no crescimento, no desenvolvimento cognitivo motor, queda no rendimento escolar, dentre outros.

Contudo, atualmente alguns desses sinais e sintomas têm aparecido com menor frequência, tornando a anemia ferropriva uma doença praticamente silenciosa.

Os pais percebem que algo está errado, especialmente quando o filho passa a manifestar um comportamento diferente do normal, com mais apatia e queda no rendimento escolar.

Atualmente, o hemograma é a principal forma de diagnóstico.

Se não tratada, a anemia ferropriva pode causar danos futuros, com queda importante da atividade do sistema imunológico e desempenho cognitivo.

Diferentemente do que muitos pensam, a anemia ferropriva e o consumo deficiente de ferro estão presentes em crianças de todos os níveis sócio-econômicos.

O ferro pode ser encontrado em diversas fontes alimentares, tanto animais como vegetais.

As principais fontes animais do mineral incluem carnes em geral (vermelha, frango, peixes), crustáceos e gema de ovo.

As fontes vegetais incluem as leguminosas (feijões, ervilha, lentilha, grão de bico, soja) e os vegetais verde escuros.

De maneira geral, o ferro presente nos alimentos de origem animal são melhor absorvidos pelo nosso organismo (cerca de 30%), quando comparamos a absorção de alimentos de origem vegetal (1-6%).

Como o ferro nas fontes vegetais possui baixa biodisponibilidade, recomenda-se a ingestão na mesma refeição de alimentos que melhoram a absorção do mineral, como os ricos em vitamina C.

Alguns exemplos são as frutas cítricas (como: laranja, acerola, limão e caju) e os ricos em vitamina A, (como: mamão, manga, abóbora e cenoura).

Vimos anteriormente que as crianças na primeira infância são as mais acometidas pela deficiência de ferro.

Além da maior demanda orgânica, o baixo consumo de alimentos ricos em ferro na introdução alimentar, a monotonia dos cardápios e o desmame precoce do aleitamento materno favorecem esse cenário.

Desde a introdução alimentar, a criança deve estimulada a consumir todos os alimentos, exceto por questões ligadas à alergias e/ou intolerâncias alimentares.

Para isso, o apoio de um Nutricionista é muito importante.

O profissional irá quantificar as porções de todos os grupos alimentares a fim de se evitar carências nutricionais.

Como em todas as patologias, a prevenção é sempre a melhor alternativa.

As ações de prevenção da anemia devem priorizar intervenções que contribuam para o enfrentamento das suas principais causas.

Dessa forma, a prevenção da doença deve ser planejada com a priorização da suplementação de ferro medicamentosa em doses profiláticas, com ações de educação alimentar e nutricional para alimentação adequada e saudável, com a fortificação adequada de alimentos, com o controle de infecções e parasitoses, e com o acesso à água e esgoto sanitariamente adequado por toda a população.

As políticas públicas no Brasil precisam ser reforçadas, mas nós já temos alguns programas importantes.

A suplementação medicamentosa de ferro é um exemplo.

Em nosso país, o Ministério da Saúde através do Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF), recomenda a suplementação diária de ferro na dosagem de 40mg para gestantes à partir da 20ª semana de gestação seguindo até o 3° mês pós-parto, além de ácido fólico.[3]

Essa recomendação está em consonância com órgãos internacionais como a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

O que precisamos é que todos os profissionais que acompanham as mulheres estejam treinados e atentos à essa questão, de modo que a suplementação medicamentosa não seja abandonada.

Ou seja, o pré-natal é um período crucial para a prevenção da anemia ferropriva na infância.

Outras ações incluem:

  • Durante a gestação:
    • Além da suplementação profilática de ferro e ácido fólico, a ingestão de alimentos enriquecidos com os nutrientes.
    • Estímulo à alimentação adequada e saudável com ingestão de ferro de alta biodisponibilidade. Alternativas devem ser apresentadas pelos profissionais à população de baixa renda.
  • Durante os primeiros seis meses de vida:
    • Amamentação na primeira hora de vida.
    • Aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida.
    • Suplementação profilática de ferro para todas as crianças (prematuras, que nasceram com baixo peso e a termo).
  • A partir dos seis meses até os 12 meses de vida:
    • Alimentação complementar saudável e adequada em frequência, quantidade e biodisponibilidade de ferro.
    • Uso de alimentos fortificados e adequados à faixa etária da criança.
    • Na impossibilidade da amamentação, uso de fórmula infantil adequada à idade até 12 meses.

Além desses cuidados, o não consumo de alimentos inadequados ou que prejudicam a absorção de ferro também se faz necessário, como chá preto, café, chá mate e refrigerantes.

Todas as informações presentes nesse texto são meramente informativas e não substituem o acompanhamento o prescrição médica e nutricional.

Não faça a auto-medicação!

Por Fabiana Jarussi


[2] Nogueira-de-Almeida, C., Ued, F., Del Ciampo, L., Martinez, E., Ferraz, I., Contini, A., . . . Lamounier, J. (2021). Prevalência de anemia infantil no Brasil: ainda um sério problema de saúde: uma revisão sistemática e meta-análise. Nutrição em Saúde Pública, 24 (18), 6450-6465. doi:10.1017/S136898002100286X

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