Como o diabetes gestacional pode afetar a saúde dos bebês?
No mês de junho celebramos o Dia Nacional do Diabetes.
É um dia para lembrarmos que existem meios para prevenção e cuidados específicos para a doença.
Já discutimos o diabetes na infância em outro momento. Se quiser ler o artigo, clique aqui. Hoje vamos conversar especialmente sobre o diabetes gestacional e seus impactos na saúde dos bebês.
Segundo a American Diabetes Association (ADA), diabetes gestacional é definida como diabetes diagnosticada no segundo ou terceiro trimestre da gravidez.
Este é o problema metabólico mais frequente na gestação.
As estimativas da frequência da doença no Brasil são conflitantes, porém estima-se que a prevalência de diabetes gestacional somente no Sistema Único de Saúde (SUS) seja de aproximadamente 18%.[2] É um número expressivo!
Alguns fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes gestacional incluem má alimentação, especialmente uma dieta rica em carboidratos refinados e açúcar e pobre em fibras, além de idade materna avançada, presença de excesso de peso, histórico familiar de diabetes, presença de síndrome do ovário policístico e baixa estatura materna (menos de 1,5m).
Na gestação, o diabetes leva ao desenvolvimento de complicações adicionais que têm efeitos adversos na saúde da mãe e do filho, como distúrbios de hipertensão arterial (pré-eclâmpsia), ocorrência de polidrâmnio (líquido amniótico excessivo) e a necessidade de realização de cesárea.
No período de pós-parto, a doença pode atrasar o início da amamentação[3].
A presença do diabetes durante a gestação, pode ainda trazer impactos na saúde e no desenvolvimento dos bebês em curto, médio e longo prazo.
O impacto em curto prazo mais comum é o crescimento excessivo do feto. Os bebês nascem muito grandes e pesam acima da média.
Outras complicações mais graves são a síndrome do desconforto respiratório, a hipoglicemia e a hiperbilirrubinemia.
Em médio prazo, ainda durante a infância, os bebês poderão ter maior risco para o desenvolvimento de obesidade infantil, diabetes infantil, atraso no desenvolvimento motor e déficit de atenção e/ou hiperatividade.
Em longo prazo as evidências médicas atuais apontam que o bebê exposto ao diabetes na sua vida intrauterina pode ter um risco maior na fase adulta para a presença de obesidade, diabetes tipo 2 e doença cardiovascular.
Como o diabetes gestacional pode ser uma doença silenciosa, o acompanhamento multidisciplinar durante o pré-natal é indispensável. Só assim, o diagnóstico será feito precocemente.
A equipe deve constituída por obstetras, nutricionistas, enfermeiros e psicólogos para garantir que a gestante receba informações adequadas sobre um estilo de vida saudável.
Havendo o diagnóstico, o controle com rigor da glicemia, a adoção de alimentação adequada e a prescrição de medicação, se necessária, podem garantir uma gestação tranquila e evitar as complicações da doença para a mãe e para o bebê.
Para ajudar as mamães ainda mais, elenquei abaixo alimentos são essenciais e outros e que devem ser evitados. Confira a listagem:
Alimentos que devem ser priorizados:
Na dieta para diabetes gestacional é importante priorizar os alimentos naturais, com boas quantidades de fibras, proteínas magras e gorduras saudáveis, como:
- Cereais integrais, como arroz integral, pão integral, quinoa, amaranto, aveia e milho;
- Frutas frescas, como banana, laranja, pera, pêssego, maçã, kiwi, ameixa e morango;
- Vegetais, como alface, tomate, rúcula, cebola, vagem, chuchu, brócolis e abobrinha;
- Carnes magras, sem pele e sem gordura aparente, como peixes, frutos do mar, frango, ovo e tofu;
- Leguminosas, como soja, grão-de-bico, feijão, lentilha e ervilha;
- Oleaginosas, como castanha de caju, amendoim, nozes, avelãs e amêndoas;
- Laticínios com pouca gordura, como leite semidesnatado ou desnatado, iogurte natural semidesnatado ou desnatado e queijos brancos, como ricota, minas ou cottage;
- Óleos vegetais, como azeite, óleo de abacate e óleo de linhaça;
- Sementes, como chia, linhaça, gergelim, abóbora e girassol.
É importante lembrar que cereais integrais também são ricos em carboidratos e, por isso, devem ser consumidos com moderação.
Alimentos que devem ser evitados:
Durante a dieta é importante evitar os alimentos ultraprocessados, com alto teor de sal, açúcar, gordura e os carboidratos de alto índice glicêmico, incluindo:
- Alimentos doces, como sorvete, açúcar, mel, rapadura, chocolate, geleias, frutas cristalizadas ou em calda, sucos de caixinha e refrigerantes;
- Carnes processadas, como presunto, salsicha, bacon, carne seca e salame;
- Alimentos de alto índice glicêmico, como bolo, pão branco, biscoitos, cereais matinais, farinha de mandioca, melancia, uva e melão;
- Tubérculos, como batata, aipim, inhame e batata doce;
- Alimentos ricos em gordura, como manteiga, frituras, banha de porco, leite e iogurte integrais e biscoitos doces e salgados.
É fundamental também ler, nos rótulos dos produtos, os ingredientes antes de consumir, porque o açúcar pode aparecer com nomes diferentes, como glicose, xarope de glicose ou de milho, frutose, maltose, maltodextrina ou açúcar invertido, por exemplo.
Além do controle alimentar, é aconselhado também que a gestante pratique atividade física regularmente, feita com acompanhamento do obstetra e professor de educação física, para ajuda a controlar o peso durante a gestação, melhorando os níveis de glicose no sangue e ajudando a equilibrar a diabetes gestacional.
Na dúvida, consulte sempre um profissional da Nutrição!
Por Fabiana Jarussi
[1] American Diabetes Association. 14. Management of diabetes in pregnancy: Standards of Medical Care in Diabetes – 2019. Diabetes Care 2019;42(Suppl. 1):S165–S172
[2] Negrato CA, Montenegro RM Jr, Mattar R, Zajdenverg L, Francisco RP, Pereira BG, et al. Dysglycemias in pregnancy: from diagnosis to treatment. Brazilian consensus statement. Diabetol Metab Syndr. 2010;2:27. doi: 10.1186/1758-5996-2-27
[3] Poston L, Harthoorn LF, Van Der Beek EM; Contributors to the ILSI Europe Workshop. Obesity in pregnancy: implications for the mother and lifelong health of the child. A consensus statement. Pediatr Res. 2011;69(2):175-80. doi: 10.1203/PDR.0b013e3182055ede