A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA COM SURDEZ

A aprendizagem e o processo de ensino de uma criança com surdez ou alguma outra deficiência ou transtorno é desafiador, por isso, é preciso muitas adaptações, pois é necessário um conhecimento específico sobre a criança e seu diagnóstico.

Essas adaptações são pontos que geram muita discussão dentro da educação especial. Isso, pois cada criança tem um tempo para aprender e desenvolver uma atividade.

Assim é importante entender que uma criança não será igual a outra em seu desenvolvimento e para melhor êxito precisa utilizar metodologias adequadas para o melhor ensino e aprendizagem da criança independente dela ter uma deficiência ou não.

Devido ao seu diagnóstico, algumas crianças tem o direito a ter seu currículo adaptado para seu melhor desenvolvimento.

No entanto, muitas vezes ao adaptar o currículo a escola subjuga o potencial de aprendizagem da criança por suas deficiências, chamamos essa prática de capacitismo, discutimos sobre ele neste texto.

Ou pelo fato de não conhecerem quais são as melhores metodologias para ensinar a criança. Dessa maneira acabam excluindo o aluno. Imagine a cena:

Você é aluno incluído da sua sala regular.  

É dia de prova. Seus colegas recebem a prova com perguntas extensas e elaboradas. No entanto, você, recebe uma prova pequena com figuras para colorir e perguntas simples. Como se sentiria?

Outra opção:

Todos fazem a prova e você deve entregar um trabalho copiado e colado da internet, pois afinal a escola é só para socializar mesmo! Não precisa aprender e entender o conteúdo.

Essa questão de socialização é algo que precisamos conversar mais, por que não é só socializar, mas como relata Vygotsky, é através da interação com o outro que a criança aprende.

Mas como você se sentiria nesses dois casos?

É assim que muitos sentem nas salas de aula. Em muitas escolas adaptação curricular significa reduzir o conteúdo passado.

 É necessário tomar cuidado com as práticas na escola que podem mais excluir do que de fato incluir.

Muitas vezes por traz da frase: “Ele não consegue aprender”. Vem a justificativa: Por isso, adapto o currículo dessa maneira.”

Esta:

“Eu não sei como posso ensinar esse conteúdo de maneira que ele aprenda”

Entendemos essa realidade, infelizmente, há pouca capacitação para os professores. Mas para diminuir essas lacunas que trago as reflexões neste texto.

De acordo com Vygotsky, a aprendizagem é uma experiência social, a qual é mediada pela interação entre a linguagem e a ação. Assim, a aprendizagem ocorre através da interação social, ela deve acontecer dentro da zona de desenvolvimento proximal (ZDP).

A ZDP é a distância existente entre aquilo que o sujeito já sabe, seu conhecimento real, e o sujeito possui de potencialidade para aprender, seu conhecimento potencial.

Dessa forma, a aprendizagem ocorre no intervalo da ZDP, onde o conhecimento real é aquele que o sujeito é capaz de aplicar sozinho, e o potencial é aquele que ele necessita do auxílio de outros para aplicar.

O professor deve mediar a aprendizagem utilizando estratégias que levem o aluno a tornar-se independente e estimule o conhecimento potencial, de modo a criar uma nova ZDP a todo momento.

Ou seja, é importante ao pensar ao ensinar algo, que, em um primeiro momento, aquela criança dependerá do mediador e do professor para desenvolver aquela nova tarefa, pois sozinha ela não consegue. Mas com o decorrer de sua aprendizagem, com as estratégias adequadas a cada caso, a criança começa a ser capaz de desenvolver as atividades sozinha e será preparada para dar o próximo passo.

Assim, o primeiro passo é entender em qual ponto do desenvolvimento a criança se encontra e a partir daí, iniciar o novo trabalho.

Qual o repertorio que aquela criança sabe sobre esse assunto?

Por exemplo, de nada adianta tentarmos ensinar operações matemáticas, se a criança não reconhece os números. A alternativa não é dar uma atividade paralela sobre esse tema e sim ir ao encontro com o que a criança sabe.

Um espaço que deve ser parceira nesse desenvolvimento é o Atendimento Educacional especializado (AEE).  A escola e o AEE devem caminhar juntos para o melhor aprendizado da criança.

Veja as dicas que podem ser utilizadas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem:

  • Trabalhos em grupo: como dito antes a interação social auxilia muito o processo de aprendizagem
  • Utilizar situações concretas: elas facilitam muito a compreensão
  • Dividir o conteúdo em pontos: assim você conseguirá identificar as reais dificuldades do aluno
  • Trabalhar com exemplos de coisas do seu interesse: isso trará maior motivação

A respeito da população que trabalho, a população com surdez. Existem muitas crenças que precisam ser quebradas.

Uma crença que muitos professores tem ao receber uma criança o com surdez é que o interprete dará conta, é só eu passar o conteúdo e o profissional interpreta. Mas o aluno é do professor, é necessário realizar as adaptações para melhor compreensão do aluno.

Em outra oportunidade, explicarei a respeito da profissão do interprete de Libras e o seu papel fundamental na educação da criança.

Na sala de aula, como a professora passa o conteúdo?

De forma oral, através da sua fala, escrita e de vídeos.  É dessa forma que aprendemos. No entanto, a pessoa com surdez aprende principalmente utilizando a visão. Então ao ensinar para esse público é primordial a utilização de imagens claras que propiciem a compreensão do conteúdo.

Um outro ponto é a língua, como sabemos a nossa língua materna é o português. Durante toda nossa vida vamos ampliando nosso conhecimento e vocabulário sobre essa língua. A maioria das pessoas com surdez utilizam a língua de sinais, seu vocabulário maior é nessa língua e menor na nossa. Ou seja, muitas palavras que são obvias e simples para nós, para eles não são. A compreensão de qual é o repertório, vocabulário, que aquela criança tem e ensina-la as novas palavras fará que o ensino seja mais eficaz.

Um dos grandes aprendizados que obtive ao entrar nessa comunidade foi questionar coisas que achava simples e obvias, muitas vezes pela falta de informação acessível coisas que são simples e obvias a nos ouvintes, podem não ser para as crianças com surdez que utilizam outra língua.

Para exemplificar, pense na noticia que está em alta hoje no tempo que lê esse artigo, será que ela está acessível e libras?

Como saberão se não tem quem sinalize?

Compartilho as dicas importantes estudadas por LUCAS DE ALMEIDA SOARES e ANA PAULA ANDRE SILVA (2015), na qual irão facilitar sua vida diária na sala de aula:

  • Na elaboração de matérias para uso de multimídia, precisa ser avaliado a cor do fundo, das imagens, das letras, visto que não é possível ficar com a sala de aula com grande redução da iluminação, pois o aluno surdo precisa manter a visão do intérprete para receber as informações que estejam sendo passadas pelo professor e traduzidas pelo TILS
  • Quanto a ditar conteúdos: textos ou parágrafos extensos não são indicados, esta metodologia não se adequa quando existirem alunos surdos em classes regulares com ouvintes, uma vez que a Libras possui uma estrutura diferente do Português. Assim se faz necessário que os conteúdos sejam escritos no quadro ou entregues já impressos. O aluno surdo não terá como olhar o intérprete enquanto o professor dita, e copiar o conteúdo ao mesmo tempo.
  • Ao usar filmes é importante considerar que os alunos surdos precisam que sejam legendados com tamanho, cor e estilo de fonte de fácil visibilidade. Sendo necessário nesta proposta deixar alguma iluminação para os alunos surdos visualizarem a legenda e o intérprete, pois pode ocorrer alguma discussão no decorrer da atividade e eles enquanto alunos precisam saber do que estão falando para poderem participar. Outra estratégia que ajuda e enviar aos alunos surdos com antecedência um resumo escrito do filme, sucinto, se possível com linguagem em estrutura de Libras, para conseguirem entender melhor o contexto do filme e também da atividade.
  • Ao elaborar e ministrar sua aula, a faça de um modo geral com todos os alunos, evitando isolamentos de um grupo ou outro, sem fazer distinção aos surdos dos ouvintes, porém, sabendo e respeitando as diversidades linguísticas, como qualquer outra diversidade deve ser considerada e promovendo quebra de paradigmas e preconceitos, promovendo uma inclusão verdadeira;
  • Ao falar, direcionar-se ao aluno surdo, e não ao intérprete, pois o TILS pode ser comparado a um canal de transmissão ou meio para efetivar a comunicação entre o professor e o aluno;
  • Evitar falar e escrever no quadro ou mostrar conteúdo em apresentação multimídia ou outra forma de exposição visual ao mesmo tempo, pois a aprendizagem e a comunicação da pessoa surda é visual espacial, portanto ou olha para o TILS para compreender a explicação do docente, ou olha para o material, ou cópia. Não é possível olhar para o intérprete, ver uma imagem e copiar ao mesmo tempo, pois usa apenas o sentido da visão para operacionalizar o recebimento das informações. Diferente do ouvinte que é de dois sentidos funcionais (audição e visão) para captarem as mensagens ao mesmo tempo;
  • Quando em uma sala de aula tiverem alunos surdos, é importante dar prioridade a estes para a escolha das acomodações, para que possam escolher os lugares em que seja favorecida a luminosidade, a visualização dos intérpretes, dos materiais apresentados pelo professor, visto que sua comunicação e aprendizado é visual e estímulos visuais podem interferirem ou colaborarem na concentração e aprendizagem;

A inclusão social das pessoas com deficiência passa por um processo de aprendizagem e ensino diferenciado e eficaz. Portanto, é a partir de uma boa educação, com as metodologias adequadas e uma visão não capacitista que a descoberta acontece de forma diferenciada.

Por Caroline Nunes

OBS: As dicas citadas se encontra na integra neste artigo REVISTA 15 de LUCAS SOARES e ANA PAULA SILVA.pdf

Foto capa retirada do site Câmara Inclusão

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