Para falar sobre literatura infantil é necessário que se saiba de sua importância para a criança, desde o ouvir, olhar histórias, as ilustrações, observação da capa, manuseio do livro bem como outros eixos que se estabelecem entre si.
Abramovich (1989) ressalta a importância do ato de escutar histórias, pois é a partir daí que se começa a formação de um leitor. Para a autora, ouvir histórias pode despertar várias emoções importantes no desenvolvimento humano e literário, como os medos, a raiva, bem estar e, podendo até descobrir outros lugares através da imaginação.
Contar histórias, não é apenas o ato de ler em voz alta, é mais que isso, é preciso um conhecimento prévio sobre a história a ser lida, para que haja confiança no que for contado, criando um clima que envolva e que encante as crianças, respeitando os tempos das falas e o imaginário das crianças, sem pressa de acabar logo a história.
Sobre o olhar as histórias, Abramovich (1989) diz que a ilustração é uma narrativa visual por não ser restrita, instiga muitas possibilidades sobre a imaginação da criança.
E é tão bom saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento nosso tão primeiro, tão denotador de tudo: a visão. Talvez seja um jeito de não formar míopes mentais… (Abramovich 1989, p. 33)
Abramovich (1989) fala sobre as ilustrações dos livros, como os livros infantis desenham os personagens com o esteticamente belo imposto pela sociedade, como, por exemplo, a bruxa e outros personagens são feios e até mesmo “deformados” causando repulsa.
O prazer pela leitura começa na família
Enquanto a fada, a princesa segue o modelo da raça ariana: loiras, olhos claros, corpo delicado. E assim sucessivamente com todos os personagens, o príncipe; o pai; a mãe; o negro; o ladrão; o rei; os avós; a tia, a vizinha e a professora, atendem sempre pela denominação “tia”; enfim, os personagens são postos de maneiras bem diferentes da realidade, cheias de estereótipos e com isso, podem trazer consequências para as crianças que leem esses livros, como a própria discriminação e preconceito com todos os tipos de pessoas, pois os desenhos são também uma forma de comunicação.
Há várias formas de introduzir o humor na história, através de formas engraçadas; irônicas; o susto, o espanto como um momento de sacada bem humorada; a reação espontânea; a surpresa como intriga também e os equívocos quanto ao que premeditamos conforme lemos e no final, vemos que não era nada daquilo que projetamos.
Abramovich (1989) trata sobre a poesia para crianças, gênero literário que sofre preconceitos e que, de certa forma, julga a inteligência das crianças ao pensarem e elaborarem poesias sempre com palavras no diminutivo, de que esse seria o “mundo da criança”.
A poesia para a criança assim como a prosa, não pode ser entendida infantil como infantilizada. Ela tem que ser boa e muito bem escrita, tanto quanto qualquer outra poesia que mexe com a emoção, que nos aguça, que nos deixa um pouco diferente quando acabamos de ler.
Portanto, deve-se sim, trabalhar poesia com criança e não há uma maneira correta e sim uma infinidade de formas e, que a poesia é sempre uma descoberta.
Para Abramovich (1989) a literatura é uma forma de se inteirar da verdade, pois ela também informa. Falando-se então, de literatura que tem uma linguagem fluida, que aborda um problema ou vários não de modo obvio, mas sim, discursivo que levará a infinitos caminhos de aprendizagem.
Qualquer assunto pode ser importante e não depende só da curiosidade da criança, mas também do desenvolvimento do mundo, das contradições. O assunto que for abordado não pode ser superficial, tem que ser importante, mobilizador, verdadeiro.
A história como Recurso no Desenvolvimento Infantil
Pode-se ler sobre diversos assuntos para as crianças, como, por exemplo, sobre as relações familiares; separação; crescimento pessoal; morte; as diferentes formas de poderes entre outros assuntos.
Abramovich (1989) trata também sobre os contos de fadas, como são antigos e sempre contemporâneos por tratarem das angústias tão reais da infância.
Cada elemento tem um papel importante nos contos de fadas, retirar qualquer elemento não contemplará a compreensão integral que a criança busca. Um dos maiores problemas é a Walt Disney adocicar os contos de fadas, retirar os problemas, os conflitos, podar partes que são importantes para a criança. Tentar moralizar um conto de fadas é um grande erro, pois se retira da criança sua subjetividade.
Os contos de fadas falam sobre medos tão reais na infância, sobre medos que a criança compartilha medos que todos convivemos e que aprendemos a superar, enfrentar. Falam também de amor nos contos de fadas e sobre o amor em todos os seus prismas, sofrimento, descoberta, encanto, possibilidade, entre outros.
O que é importante, é não condensar os contos de fadas, é deixar sempre o que realmente acontece na história e não colocar um final diferente ou um final feliz em uma história que termine em um momento trágico, por exemplo. Isso só tirará todo o perturbador sentimento de tristeza que o amor às vezes nos causa.
Muitas vezes os contos de fadas falam das dificuldades de ser criança, fala da angústia, injustiça, dificuldade, carência, obstáculos enfrentados de forma tão real na infância, muitas vezes “entendidos” pela criança só na subjetividade.
Algo importante que os contos de fadas também falam é a importância de autodescobertas e de descobertas da própria identidade, o que é fundamental para o crescimento/desenvolvimento, como por exemplo, na história de “O patinho feio” de Andersen, que trata da rejeição pelo diferente, da difícil caminhada para nos conhecermos verdadeiramente. Falam também de pessoas e a busca pela felicidade, de fantasia, do poder que há no sonhar, no desejar e no projetar. O imaginar é também reciclar ideias.
Abramovich (1989) aborda o trabalho que deve ser realizado para o desenvolvimento de uma apreciação, interpretação crítica. Pelo fato de a literatura infanto-juvenil ter sido incorporada na escola, há o entendimento de que as crianças passaram a ler. Isso até poderia ser verdade, se essa leitura não fosse carregada de tarefas, mas sim de prazer de se ler, da descoberta, da liberdade de escolher o livro para a leitura. Entretanto, isso não acontece, pois o livro é indicado e tem de ser lido em um determinado prazo.
A criança não vai a biblioteca escolher um livro, manusear folhear, pois o professor teria de conhecer todos aqueles livros e, por vezes, ele não está disposto a isso, então já determina o que as crianças lerão, tendo como critério a praticidade e não a qualidade do livro em si.
Muitas vezes os livros adotados não são de boa qualidade, são histórias desinteressantes. É subjetiva a escolha do livro, é um grande erro generalizar uma única leitura para diversos leitores. Cada um tem uma interpretação, interesses diferentes e devem escolher conforme seus interesses.
Assim, a conversa é fundamental para desenvolver um leitor crítico, conversa e não fichas de questionamentos sobre o texto lido. Conversa em que a criança exponha o que gostou ou não, se concorda ou não. São vários os aspectos que podem ser conversados com as crianças sobre aquela história, desde a capa do livro até a última página.
Para Abramovich (1989) a literatura é arte, é prazer. Simplesmente ter o livro na escola não é sinônimo de formar leitores críticos, pensantes. Se ler for somente lição de casa, haverá uma perda muito grande, pois a leitura está sendo por obrigação.
A autora trata também sobre a importância da biblioteca na formação de leitores e de este ambiente ser livre. O contato com o livro deve ser feito desde a educação infantil e que o professor estimule sempre a leitura, a investigação e que as crianças escolham, elas próprias, os livros que querem folhear, manusear, ler, estudar para então serem leitores críticos e participativos na sociedade.
Por Érica Lacerda