DIARREIA: COMO DEVE SER A ALIMENTAÇÃO

Os problemas de intestino representam uma queixa comum no consultório, dentre eles a diarreia.

No verão, especialmente, as queixas aumentam por conta dos surtos da doença.

E a alimentação tem um papel fundamental no tratamento.

Recentemente acompanhamos a crise de saúde pública dos povos Yanomamis em Roraima, onde inúmeras crianças foram socorridas com a presença de muitas doenças, dentre elas a diarreia aguda, acendendo um alerta para o assunto.

No lado oposto do país, precisamente em Santa Catarina, desde o início do ano mais de 3 mil pessoas foram acometidas por um surto de virose com sintomas de diarreia causado por um vírus chamado Norovírus.

Antes de falarmos sobre o tratamento, vamos conversar sobre a diarreia e suas consequências.

A diarreia pode ser definida pela ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas.

A diminuição da consistência habitual das fezes é um dos parâmetros mais considerados.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a diarreia pode ser classificada em três categorias[1]:

  1. Diarreia aguda aquosa:

Diarreia que pode durar até 14 dias e é marcada por perda de grande volume de fluidos e pode causar desidratação.

Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos.

A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos acontecem.

  • Diarreia aguda com sangue (disenteria):

É caracterizada pela presença de sangue nas fezes.

Representa lesão na mucosa intestinal.

Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras de disenteria.

  • Diarreia persistente:

Quando a diarreia aguda se estende por 14 dias ou mais.

 Pode provocar desnutrição e desidratação grave.

Pacientes que evoluem para diarreia persistente constituem um grupo com alto risco de complicações e elevada letalidade.

Nos episódios de diarreia as fezes ficam muito amolecidas e líquidas porque as contrações abdominais fazem com que as fezes atravessem muito rapidamente por uma porção do intestino chamada cólon.

Com esse aumento de velocidade, não há tempo suficiente para absorver água e os sais minerais, o que aumenta a chance de desidratação.

Portanto, durante o atendimento no consultório, além de avaliar o número de evacuações, é muito rotineiro utilizarmos a escala de Bristol (figura abaixo) para avaliarmos junto com o paciente ou responsável, a aparência das fezes para termos uma dimensão do quadro.

Os tipos 5, 6 e 7 representam sinal de diarreia e urgência no tratamento. Os tipos 3 e 4 representam o aspecto ideal das fezes.

Nem sempre conseguimos detectar o microorganismo causador dos episódios de diarreia, contudo os agentes infecciosos mais comuns são:

  • Vírus – rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em especial o norovírus) e astrovírus.
  • Bactérias – E. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa18, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia.
  • Parasitos – Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora.
  • Fungos – Candida albicans.

Eventualmente outras causas podem iniciar o quadro de diarreia tais como: alergia ao leite de vaca, deficiência de lactase, síndrome do cólon irritável, Doença celíaca, Doença de Crohn, apendicite aguda, uso de laxantes e antibióticos, intoxicação por metais pesados (como no caso das crianças Yanomamis), etc.

No verão, além de aglomeração em praias e clubes, alimentos e água contaminada são os grandes veículos de transmissão da doença.

Embora bastante comum nessa época do ano, a diarreia precisa ser tratada o quanto antes, pois, além da desidratação, pode levar à deficiência de nutrientes e comprometer o estado nutricional das crianças.

Os pais devem procurar uma emergência médica imediatamente se a criança manifestar fezes com sangue, mal estar seguido de febre que não cessa, vômitos e fezes muito pretas.

Diarreias severas podem ocasionar uma série de efeitos por conta da desidratação, incluindo convulsões.

O tratamento clássico da diarreia inclui repouso, hidratação, manejo do reestabelecimento da flora intestinal e controle dos vômitos se estiverem presentes.

A hidratação é o ponto central da terapia, podendo ser oferecidos água mineral, água de coco, sucos e até sopas líquidas, além do soro caseiro.

Se a criança estiver sendo amamentada ao seio, o aleitamento materno deve continuar e a mãe oferecer seio mais vezes do que o habitual ao longo do dia.

Importante frisar que os líquidos devem ser ofertados em pequenos volumes, ao longo de todo o dia.

Deve-se evitar qualquer tipo de líquido industrializado e rica em açúcar e corantes, especialmente refrigerantes e sucos artificiais.

Para preparar o soro caseiro basta misturar bem um litro de água mineral, de água filtrada ou de água fervida (mas já fria), uma colher (chá) de sal e uma colher grande (sopa) de açúcar.

O soro deve ser oferecido no mesmo dia ao longo de todo o período.

Outras recomendações importantes incluem o oferecimento de uma alimentação saudável e leve, diminuir o intervalo entre as refeições oferecendo porções menores de alimentos nutritivos e nunca forçar a alimentação.

Modulação de nutrientes da crianças com TEA

Os alimentos oferecidos devem ser de fácil digestão para que a criança não fique ainda mais desconfortável.

Basicamente os alimentos recomendados para o período de recuperação da diarreia são: frutas como melancia, maçã, pera, banana, morango e goiaba; tubérculos como inhame, mandioca, batata; legumes como cenoura, abobrinha e chuchu; além de arroz e macarrão sem temperos fortes.

Carnes magras, como frango e peixe sem pele, também podem ser ingeridos. Deve-se evitar frituras e guloseimas, no geral.

Por último, o cuidado com a higienização, o armazenamento e o preparo dos alimentos também merece atenção.

No verão com as altas temperaturas é mais fácil haver a reprodução de microorganismos, facilitando a contaminação dos alimentos.

O ideal é nunca deixar um alimento pronto e preparado em temperatura ambiente.

Faça o consumo e depois refrigere a sobra. Mantenha atenção também ao comprar alimentos cuja origem e preparo você desconhece, especialmente em praias.

Na dúvida, não deixe de buscar atendimento especializado!

Por Fabiana Jarussi


[1] Diarrhoea. Why children are still dying and what can be done? UNICEF/WHO, 2009.

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