No mês de Abril celebramos o Dia Mundial do Autismo. Produzimos diversos conteúdos sobre esse tema tão relevante e hoje fechamos a série conversando sobre modulação de nutrientes.
O nome parece estranho, mas nada mais é do que suplementar na dieta das crianças nutrientes que são importantes e que não podem estar em carência.
Muitos estudos estão sendo feitos sobre modulação nutricional especificamente em crianças autistas. As conclusões ainda são preliminares e nada substitui o acompanhamento multidisciplinar.
Contudo, estudos sugerem que crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem necessitar de maior aporte de ômega 3, nutrientes antioxidantes (vitaminas A, C, E, selênio), além dos minerais magnésio, cálcio e zinco.
Alguns estudos sugerem também que a restrição de certos componentes, como glúten e caseína, pode ser interessante.
A resistência às novas experiências alimentares aliadas à seletividade são as principais causadoras da inadequação nutricional das crianças com TEA.
No último artigo, abordei muitas informações sobre como driblar a seletividade alimentar. Para ler sobre o assunto, clique aqui.
Embora o TEA possa ser classicamente pensado como um distúrbio neurológico em sua patologia, estudos relatam que o microbioma intestinal tem desempenhado um importante papel no eixo bidirecional intestino-cérebro, o qual integra as atividades relacionadas ao intestino e ao sistema nervoso central.
Dessa forma, o conceito eixo microbioma-intestino-cérebro tem sido bastante estudado nos últimos anos.
Os estudos estão revelando como diversas formas de distúrbios neuroimunes e neuropsiquiátricos estão correlacionados e ou modulados por variações no microbioma.
Assim, o intestino provavelmente está envolvido na fisiopatologia de diversas desordens do sistema nervoso central, incluindo o TEA[1],[2]
Além disso, uma boa parte das crianças com TEA podem ter as paredes do intestino mais porosas, levando a sintomas gastrointestinais, dentre eles refluxo, constipação e diarreia.
Para normalizar o funcionamento do intestino recomenda-se o uso de probióticos em cápsula, sempre com acompanhamento e prescrição do Nutricionista.
Alimentos fermentados como iogurte, leites, coalhada, kefir, missô, kombuchá, também devem ser incentivados na alimentação diária.
No caso de gastrite e refluxo, as crianças com TEA devem evitar alimentos que irritam mucosa estomacal, como temperos industrializados, extrato de tomate, café, chá preto, alimentos fritos e alimentos ácidos como laranja, limão e abacaxi.
O ômega-3 pode ser encontrado em peixes selvagens de águas frias e profundas, como salmão, atum, arenque, sardinha, etc. Assim, a criança com TEA deve ser estimulada a consumir esses peixes de 2-3 vezes na semana.
A suplementação em cápsulas de ômega pode ser avaliada pelo Nutricionista, com doses ajustadas à criança, caso o consumo de peixe tenha uma grande resistência.
Importante salientar que o ômega- 3, além de ser um potente anti-inflamatório, atua de forma importante na constituição e fluidez das membranas cerebrais, melhorando a concentração, a memória e o aprendizado.
As vitaminas antioxidantes podem ser encontradas nas frutas cítricas, nos alimentos alaranjados e nos vegetais verde escuros. Quanto mais fresco e natural for o consumo desses alimentos, melhor será a preservação dessas vitaminas.
Já os minerais descritos no início do texto podem ser encontrados em carnes, laticínios (como queijos, leite e iogurte), oleaginosas e sementes (como nozes, castanhas, semente de abóbora e girassol) e carnes.
Como citado, em contrapartida, alguns componentes podem intensificar os sintomas de TEA e o consumo requer uma avaliação mais atenciosa.
O glúten é encontrado em grãos e produtos com trigo, centeio, cevada e malte. Já a caseína é uma proteína presente no leite e seus derivados.
Hoje, temos vários produtos alimentícios isentos desses componentes e podem ser encontrados facilmente.
As pesquisas sugerem que quando esses elementos são retirados da dieta, as crianças com TEA tendem a ficar mais calmas e ocorre melhora da atenção e concentração[3].
Isso ocorre porque grande parte dos autistas apresentam uma deficiência enzimática que inibe a digestão completa da proteína presente nesses alimentos.
Essa condição leva à formação de uma grande quantidade de pequenos peptídeos, ou seja, fragmentos de proteína dentro do intestino. Esses peptídeos possuem ação farmacológica semelhante ao ópio.
Esses compostos apresentam a capacidade de atravessar a parede do intestino, cair na corrente sanguínea e chegar ao Sistema Nervoso Central.
Atuam como uma substância opiácia no cérebro intensificando os sintomas da síndrome, como a falta de concentração e isolamento.
Reforço que as pesquisas sobre os nutrientes são preliminares e precisam avançar um pouco mais. O tratamento de TEA deve ser precoce, multidisciplinar, individualizado e repleto de paciência e carinho.
Por Fabiana Jarussi
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[1] CRYAN, J.F. et al. The microbiota-gut-brain axis. Physiol Rev; 99 (4): 1877-2013, 2019.
[2] MAYER, E.A.; TILLISCH, K.; GUPTA, A. Gut/brain axis and the microbiota. J Clin Invest; 125: 926-38, 2015.
[3] VAN DE SANDE, M. M.; VAN BUUL, V. J.; BROUNS, F. J. Autism and nutrition: the role of the gut-brain axis. Nutr Res Rev; 27 (2): 199-214, 2014.