A Importância da Conexão Para a Saúde Emocional das Crianças
Conexão é uma palavra que sempre que é ouvida, nos remete a algo que está junto, unido, interligado de alguma forma.
Cada vez mais falada e ouvida na atualidade nos universos e meios digitais, traz a impressão de que ao estarmos conectados virtualmente, estaremos mais próximos, conseguiremos interagir mais, teremos mais informações sobre as pessoas que amamos.
Mas será mesmo?
A verdade é que nunca falamos tanto sobre conexão, nunca estivemos tão perto, tão próximos e ao mesmo tempo, tão distantes. A mesma proximidade tecnológica que vivemos, nos traz a distância da presença, do contato e da convivência real.
OS PRIMEIROS TRÊS ANOS DE VIDA E SUA IMPORTÂNCIA:
No desenvolvimento infantil, já sabemos que os primeiros três anos são os mais importantes. Aqueles que serão o alicerce de toda a vida, a estrutura de onde teremos crianças emocionalmente competentes futuramente e adultos resilientes ou não.
Os saltos de desenvolvimento nesse período são enormes, as comunicações neuronais também, o cérebro aumenta seu tamanho de forma absurda e chega próximo do que ele será na vida adulta em um período surpreendente de tempo.
As descobertas são infinitas e os aprendizados também.
Tudo que for vivenciado pela criança nesse período ficará sedimentado, tudo o que for estimulado, terá força para permanecer e persistir ao longo da vida dessa criança.
Muito se fala hoje nos estudos sobre o desenvolvimento infantil, sobre os primeiros mil dias de vida. Não que todo o resto da infância não seja importante, mas nos primeiros três anos, a grande “mágica” do desenvolvimento acontece.
A criança passa de um ser totalmente dependente do outro, quando nasce, ainda em formação de várias de suas estruturas físicas e órgãos a um ser que anda e se locomove sozinho.
Um ser que fala e compreende ordens, que se alimenta e já é capaz de realizar várias tarefas por ele mesmo e algumas crianças, até já controlam os esfíncteres, fazendo xixi e cocô no vaso ao final desse período.
E se externamente, ao olharmos para a criança, conseguimos perceber todo esse desenvolvimento, internamente, a evolução e a “magia”, são ainda maiores.
Portanto, estimular a conexão e desenvolver vínculos seguros durante esse primeiro período de desenvolvimento é crucial para a saúde emocional das nossas crianças e de nossos adultos no futuro.
Mas o que de fato é a conexão? E de que forma podemos estimulá-las com nossas crianças?
A CONEXÃO: O QUE É?
De extrema importância para o desenvolvimento do bebê e para a sua sobrevivência, a conexão é algo que precisa acontecer ao longo de toda a vida da criança.
Mas principalmente, durante os primeiros três anos que serão essenciais para a vida da criança futuramente, como já descrito acima.
Se pudéssemos descrever, (o que na minha visão, é algo bem difícil de encontrar palavras para tal), iríamos descrever como uma ligação muito forte, que sustenta, que segura, que dá apoio e que sabemos sempre poder contar com ela.
Estar conectado a uma pessoa é ter com ela um vínculo de afeto e amor, segurança, confiança e que poderá durar uma vida toda, de tão forte que essa relação se faz.
É saber que esse vínculo e essa relação serão incondicionais e serão mantidos independentes de situações adversas ou de atitudes e diferenças de pensamento e de identidade.
Se olharmos para a natureza, nós conseguimos ver conexão entre os animais e suas crias o tempo todo e não poderia ser diferente conosco, os seres humanos e nossas crianças.
O que difere, é que nós podemos criar conexão com qualquer ser humano, independente de serem nossos filhos ou não. A condição da empatia, da aceitação incondicional, é própria do ser humano, e pode nos conectar uns aos outros sempre.
COMO PODEMOS CONSTRUIR A CONEXÃO NA PRÁTICA?
Mas como construir essa relação tão poderosa? De que forma podemos agir para conseguirmos estabelecer com nossas crianças essa relação tão forte, que é capaz de criar conceitos positivos de autoestima e autoconfiança, resiliência e aceitação?
Parece algo totalmente difícil e complexo que temos que fazer para afinal de contas, criar todos esses efeitos benéficos não é mesmo?
Mas a verdade é que é muito fácil e todos nós já nascemos com essa condição dentro de nós.
Como fazer para ajudar minha filha a expressar seus sentimentos?
Todos sabemos por instinto como nos conectarmos a um outro ser humano, mas falando especificamente da relação com a criança, parece ser ainda mais complexo, no entanto, é mais simples do que parece e algumas dicas podem ajudar:
– A primeira dica é saber que não é necessário muito para criar a conexão com sua criança. Procure estar presente e perceber do que ela precisa (colo, fome, contato, dor, choro, sono, necessidades físicas) e atenda as necessidades;
– Crie momentos com as crianças desde bem pequenas, como massagens, banhos, músicas, colo, carinho, mas perceba o retorno que a criança te dá…nem sempre todas as crianças gostam de todas as ações;
– Com crianças mais velhas, crie momentos para estar junto e somente com ela, brinque de brincadeiras que ela goste e permita que ela as escolha. Nesse momento, realmente se conecte com a criança. Deixe de lado todo o resto, inclusive celular, TV;
– Faça da criação de memórias algo frequente: passeios ao parque, contatos com a natureza, brincadeiras ao ar livre, jogos em família, são ótimas oportunidades de estarmos conectados às crianças;
– Encoraje sua criança, ajude-a encontrar as habilidades dela e permita que ela saiba quais são elas. Proporcione momentos para que ela consiga desenvolver essas habilidades e esteja por perto, independente de vitórias ou derrotas;
– Muitas vezes, as crianças terão comportamentos extremamente desafiadores e que tem a profunda capacidade de nos tirar do sério, mas entenda que ela está aprendendo e precisa do seu acolhimento nesse momento e de uma condução para lidar com tudo que está vivendo;
– Acolhimento gera conexão! Críticas construtivas e feedbacks positivos também! Humilhação, violência verbal e física, críticas com poder de ofender e destruir geram afastamento e dificuldades com a autoestima e a autoconfiança das crianças;
Quando conseguimos passar a mensagem de que nossas crianças podem confiar e saber a quem recorrer em momentos de dificuldades e necessidades, sejam elas de ordem física ou emocional, estamos criando conexão.
Saúde mental infantil na pandemia
Quando proporcionamos condições de que até mesmo nas correções, diante de comportamentos que não são adequados por parte da criança, haja respeito e aceitação, estamos promovendo conexão.
Afinal de contas, já abordei aqui em vários outros textos, que correção, só é bem sucedida se houver a conexão antes.
Mesmo porque se não confiamos na pessoa que está nos corrigindo, como levaremos em consideração a correção e o ensinamento dela diante de nossos erros?
E na história das nossas vidas com nossas crianças, é isso que ficará para sempre, ao longo de toda a vida deles, a conexão, o amor, o vínculo e o afeto que receberem serão responsáveis por sua personalidade e auxiliarão a formar sua identidade.
Nas melhores memórias das nossas infâncias, nos lembramos de um brinquedo ou outro, um presente ou outro, mas o que mais fica são as memórias que tivemos com aqueles que eram nossas conexões e nossa referência de afeto, segurança e vínculo.
Ou também, enquanto adultos, infelizmente, podemos ser a memória das situações ruins, da violência, das críticas e das humilhações para nossas crianças. Qual lembrança você prefere ser na vida da sua criança?
Torço para que a escolha da memória da CONEXÃO sempre aconteça por aí!
E torço também para que a presença real, de corpo, de vínculo e de relação de amor, supere sempre as vivências tão próximas, mas tão distantes que a também, mas tão diferente, conexão tecnológica nos convida a viver!!
Por Renata Lela
Foto Capa: FreePink
Gostei muito como foi abordado o assunto, gostaria de saber um pouco mais e a referência ajudaria muito.
Fábio, obrigada pelo feedback. A referencia básica são livros de desenvolvimento infantil e de saúde emocional e mental de crianças. Para poder te auxiliar melhor, qual é o seu objetivo?