EXCESSO DE PESO NA INFÂNCIA

EXCESSO DE PESO NA INFÂNCIA: COMO ENFRENTAR?

Dia 11 de outubro celebramos o Dia Mundial da Obesidade e Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, data que merece muita reflexão, afinal o excesso de peso traz consequências danosas para a saúde, inclusive na infância.

No mundo inteiro, cerca de 22 milhões de crianças menores de 5 anos de idade têm excesso de peso.

Essas crianças têm uma maior probabilidade de se tornarem adultos obesos e sofrerem com Doenças Crônicas Não-transmissíveis (DCNT), como diabetes e hipertensão.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 2025 o número de crianças com sobrepeso e obesidade pode chegar a 75 milhões[1].

No Brasil, os registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que uma em cada grupo de três crianças, com idade entre cinco e nove anos, está acima do peso no País[2].

Vale ressaltar que crianças obesas possuem uma tendência maior de se tornarem adultos obesos.

Ou seja, quanto mais cedo se iniciar os esforços em prol da prevenção e do tratamento da obesidade nas crianças, melhores serão as condições de saúde futuras.

O crescente número de crianças obesas já faz dessa doença uma epidemia mundial.

A obesidade é uma doença multifatorial, mas que pode ser evitada.

As principais causas do excesso de peso na infância estão ligadas à má alimentação e ao sedentarismo. Contudo, sabemos também que as condições nutricionais da mãe durante a gestação, a presença ou não do aleitamento materno e também a qualidade nutricional dos primeiros alimentos consumidos pela criança durante a introdução alimentar, também influenciam o quadro.

Vamos discorrer esses aspectos por uma linha de tempo.

Sempre digo que os primeiros mil dias de vida do bebê são uma grande janela de oportunidades para desenvolvermos bons hábitos de vida e condições de saúde. Esse período de mil dias compreendem desde a concepção até os 2 anos de vida.

Já escrevi um artigo sobre esse tema. Se quiser ler mais, clique aqui.

Pouco se fala que a prevenção do sobrepeso e da obesidade infantil, começa antes mesmo do nascimento do bebê, ou seja, ainda durante a gestação.

Durante o pré-natal, a família deve receber informações adequadas para que seus hábitos promovam um crescimento fetal adequado para impedir o baixo ou elevado peso ao nascimento.

Nesse sentido, a gestante deve ser estimulada a ter um aumento moderado e adequado do peso, mantendo uma alimentação equilibrada e um bom controle glicêmico para prevenir o diabetes gestacional.

O diabetes durante a gravidez é uma das principais causas de nascimento de bebês muito grandes ou com peso elevado. Por isso a vigilância da glicemia é importante.

Após o nascimento, as práticas alimentares e demais hábitos também podem influenciar no sobrepeso e obesidade infantil, uma vez que nos primeiros anos de vida a escolha do alimento depende exclusivamente dos pais ou do responsável que irá alimentar a criança.

O aleitamento materno exclusivo é uma das principais armas na prevenção da obesidade na infância.

O Ministério da Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e a manutenção da amamentação até os dois anos de idade.

Cada mês de amamentação materna está associado à redução de 4% no risco de desenvolvimento de excesso de peso. Ou seja, amamentar o bebê por mais tempo tem efeito protetor contra a obesidade infantil.

A amamentação provê ao bebê uma alimentação com composição nutricional adequada em calorias e nutrientes.

Além disso, durante a mamada, quem controla a quantidade ingerida é a própria criança.

Portanto, ela desenvolve um melhor o autocontrole do consumo de alimentos, diferente das fórmulas infantis oferecidas por mamadeira.

Após os 6 meses de vida, inicia-se a introdução alimentar.

Ela deve ser isenta de produtos alimentícios processados e ultraprocessados como sopas infantis prontas, derivados lácteos infantis, macarrões instantâneos, doces e guloseimas.

Com o passar da idade, as crianças começam a frequentar outros ambientes além do doméstico, e ter mais autonomia na escolha dos alimentos.

A infância e a adolescência são considerados estágios fundamentais da vida para a formação dos hábitos alimentares saudáveis, visto que crianças e adolescentes tendem a manter esses hábitos na vida adulta.

 No período da infância, os pais são considerados influenciadores, pois, além de promover os alimentos, moldam as experiências infantis.

Já na fase escolar, a escola passa a desempenhar um papel importante na formação de novos hábitos alimentares e na manutenção da saúde da criança.

Na adolescência, os jovens tendem a mudar seu comportamento alimentar, devido às modificações fisiológicas.

Fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais são os principais determinantes na escolha dos alimentos nesse período, o que interfere diretamente na formação dos hábitos alimentares e na sua percepção corporal.

Para evitar o desfoque real da imagem do seu corpo, é importante que o adolescente seja sempre incentivado a manter boas escolhas, evitando qualquer extremo.

Vale destacar também a influência das mídias, sejam elas sociais ou de massa, que bombardeiam as crianças e adolescentes com informações e produtos que incentivam consumos de seus interesses.

O controle do acesso à TV e outras mídias também é importante para a segurança alimentar até que as crianças e adolescentes tenham discernimento e visão crítica sobre a informação que recebem.

Na idade escolar começam os interesses maiores por alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, refrigerantes, salgadinhos industrializados, balas, fast food, etc.

De maneira geral, esses alimentos são riquíssimos em calorias e oferecem pouco ou nenhum nutriente.

A família tem um papel fundamental, pois além de evitar a compra desses alimentos, deve estimular e praticar uma alimentação saudável, baseada em boas fontes de cerais, grãos, carnes e gorduras boas, frutas e vegetais.

Isso não quer dizer que crianças, pré-adolescentes e adolescentes devam ter uma alimentação restritiva. Mas o equilíbrio alimentar é importante e um padrão alimentar saudável deve ser praticado por todos na maioria do tempo.

Se as crianças não forem estimuladas desde a tenra infância a praticar hábitos alimentares saudáveis, as mudanças serão ainda mais difíceis na fase da adolescência.

Durante a adolescência o “pertencer” ao grupo tem um peso importante.

Não menos importante que a alimentação, está o incentivo à prática de exercícios físicos de forma rotineira. Mais uma vez, a família inteira deve ser envolvida nesse processo e ser fisicamente ativa.

De nada adianta eu matricular meus filhos na natação, no futebol, etc, e manter uma vida sedentária. Os pais e responsáveis são os grandes incentivadores e espelhos para todas as práticas de vida de seus filhos.

Como na maioria das doenças, a prevenção do excesso de peso é muito mais fácil e barata do que se precisarmos realizar algum tratamento.

Dessa forma, destaco outros pontos importantes para a prevenção da obesidade infanto-juvenil:

1-Mexam-se dentro de casa: 

crie brincadeiras que façam as crianças deixarem as telas de lado e saírem do sofá: vale esconde-esconde; pular corda; dançar; brincadeiras mais calmas como jogos de tabuleiro ou pratica de algum esporte em família para os maiores.

Isso ajuda a gastar energia e a ter momentos mais alegres.

Pedir ajuda em tarefas domésticas, como colocar e retirar itens da mesa e arrumar o quarto, também contribuem e ainda dão senso de responsabilidade.

2- Peça ajuda no preparo de alimentos: 

seu filho pode montar uma salada e separar alimentos na geladeira, por exemplo.

São atividades que possibilitam à interação com os adultos e um maior conhecimento sobre os alimentos.

A chance de a criança querer se alimentar de alimentos nutritivos aumenta muito quando ela ajuda a preparar e está vendo os adultos consumirem.  

3- Converse sobre as novidades: 

explique de maneira tranquila sobre a reeducação alimentar para que não gere trauma e dificuldade de aceitação, respeitando cada faixa etária.

Evite frases como “Não pode comer isso”; “Você precisa emagrecer”.

Fale que algumas coisas na rotina serão modificadas, inclusive a alimentação.

4- Incorpore as mudanças: 

a chave para o sucesso é o envolvimento da família, sobretudo nas alterações alimentares.

A chance de aceitação de um alimento novo ao ver os pais consumindo é muito maior do que se somente os filhos forem obrigados a comê-lo. 

5- Melhore o acesso a comidas saudáveis: deixe ao alcance de todos alimentos como frutas e legumes já higienizados. 

6- Crie uma rotina: estipule horários para todas as refeições. Isso evita beliscos de alimentos menos saudáveis. Inclua uma rotina de sono que também se evite acordar muito tarde e pular o café da manhã, por exemplo. 

7- Faça ao menos uma refeição em família: isso faz com que seus filhos observem o exemplo dos adultos e pode estimulá-los a aderir aos novos alimentos.

8- Evite telas: manter os filhos distraídos durante as refeições impede a observação dos alimentos e saber se gosta ou não do que está comendo. 

9- Crie momentos para a comida pouco saudável: como eu já disse, o consumo de comidas mais saudáveis não quer dizer que doces ou biscoitos precisam ser banidos.

O segredo é criar situações que lhes permitam saborear todos os alimentos em equilíbrio. No fim de semana, pode ser oferecido um brigadeiro ou outro doce, um lanche mais elaborado, etc.

10- Evite comparações: 

crianças e adolescentes obesos estão mais propensos a distúrbios de imagem, por isso evite compará-los a outras pessoas.

Na dúvida de como proceder ou quais mudanças são importantes para sua família, não deixe de consultar um Nutricionista!

Por Fabiana Jarussi


[1] World Health Organization (WHO). Global Health Observatory data repository y DAES, 2017. World Population Prospects: The 2017 Revision. Disponível em:<  https://esa.un.org/unpd/wpp/publications/Files/WPP2017_KeyFindings.pdf/>. Acesso em: 23 de set. de 2022.

[2] MANTOVANI, Rafael Machado et al. Obesidade na infância e adolescência. RMMG – Revista Médica de Minas Gerais – Obesidade na infância e adolescência, p. 115, 2021.

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