A etiologia do autismo ainda continua desconhecida. Mas qual é o papel da avaliação neuropsicológica?
Hoje não existem exames genéticos, de imagens ou de sangue que nos mostre quais são os marcadores genéticos e/ou anatômicos alterados, para auxiliar no diagnóstico do autismo.
Por isso é necessária uma equipe multidisciplinar para construir para um diagnóstico mais preciso.
Mas fica o alerta!
É importante buscar ajuda profissional, esse é o primeiro passo, para que depois do diagnostico seja traçado uma intervenção assertiva e assim promover a qualidade de vida para quem tem o transtorno.
Dentre esses profissionais está o Neuropsicólogo, responsável pela avaliação neuropsicológica da criança com suspeita de autismos. São avaliados aspectos cognitivos, psicológicos e sociais, através de testes que são aplicados durante a sessão de avaliação.
Atualmente a avaliação neuropsicológica conta com instrumentos precisos para a testagem e observação, deixando de basear o diagnostico apenas na observação clínica e anamnese familiar.
Durante a avaliação são observados vários aspectos como por exemplo, padrões repetitivos de comportamento, a capacidade de compreensão de ações que são essenciais para a tomada de atitude, a capacidade de imitação que é importante para os processos de aprendizagem e socialização.
Temos também a observação da empatia, que é a tendência em sentir o mesmo que uma pessoa na mesma situação sente. A empatia é fundamental na construção dos relacionamentos. Essas funções são atribuídas aos neurônios-espelho e são exatamente essas funções que se encontram alteradas em pessoas autistas.
Outro aspecto que é avaliado e muito importantes são as funções executivas, dentro das funções temos a fluência verbal, controle inibitório, velocidade de processamento e flexibilidade.
As funções executivas estão relacionadas à formulação de metas, ao planejamento, à execução de planos dirigidos a um objetivo e à sua realização de forma eficaz. O planejamento de uma atividade, é o que permite que a criança avaliada possa organizar e relacionar os seus elementos.
É necessário também avaliar a fluência verbal, ela envolve a capacidade de busca e recuperação de dados guardados na memória, habilidade de organização, autorregulação, que estão presentes na organização do pensamento, e as estratégias utilizadas para a busca de palavras.
O controle inibitório envolve o controle da atenção, do comportamento, dos pensamentos e das emoções, que é a capacidade de inibir pensamentos e desejos de fazer algo indevido e também fazer o que é necessário e adequado.
A velocidade de processamento é o tempo que uma pessoa leva para realizar uma tarefa mental, é a rapidez com a qual se executa um raciocínio, a velocidade que uma pessoa entende e reage a uma informação recebida visualmente e auditivamente.
A flexibilidade cognitiva está relacionada com a capacidade de usar o pensamento e ajustes flexíveis para se adaptar a uma mudança, essa habilidade auxilia a todos a utilizar sua imaginação e criatividade para resolver problemas.
Os resultados de uma avaliação neuropsicológica servem como norteadores para o planejamento das intervenções, como a reabilitação neuropsicológica e treino de habilidades sociais ambos possuem o mesmo objetivo, trabalhar os aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais afim de melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida da criança com TEA e de sua família.
É possível traçar estratégias para a aquisição e desenvolvimento das habilidades que são prejudicadas no autismo.
Com um planejamento assertivo de intervenções podemos melhorar o desenvolvimento de relações sociais, emocionais, comportamentais e comunicacionais.
A avaliação neuropsicológica irá mapear e explicar os comportamentos da criança com TEA, assim todos que fazem parte da vida dessa criança, poderão entender e contribuir para a evolução e desenvolvimento infantil!
O maior objetivo da avaliação é dar subsídios para as intervenções que serão propostas pelos profissionais e assim trazer qualidade de vida e evolução para a criança autista.
ENTENDA MAIS SOBRE O AUTISMO
Costumo dizer que cada autista é único, são como as impressões digitais, nunca existirá um autista igual ao outro.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição não transitória, é um distúrbio do comportamento, seu início é precoce e crônico, os danos causados pelo TEA impactam várias áreas do desenvolvimento.
Também é caracterizado por prejuízos na interação e na comunicação sociais, normalmente o autista possui áreas restrita de interesses, são observados também padrões de comportamento repetitivos e estereotipados.
Autismo, uma maneira diferente de ver
A partir de 2014 o Manual Diagnostico e Estático de Transtornos Mentais (DSM-V)[1] incorporou o TEA na parte dos Transtornos do Neurodesenvolvimento. Como outros transtornos do neurodesenvolvimento o TEA tem início no período do desenvolvimento infantil.
Pode ser percebido por através dos déficits no desenvolvimento infantil, esses déficits podem variar de intensidade e trazer prejuízos no funcionamento físico, social, emocional e intelectual. Mesmo que o diagnostico seja dado por médico é importante que a criança seja avaliada e acompanhada por uma equipe multidisciplinar.
Ainda sabemos pouco sobre a etiologia do autismo, o que sabemos é que o TEA tem uma origem multifatorial, pois existe o fator genético, biológico, perinatais e psicossociais.
Normalmente, o sinal de alerta é dado quando os pais percebem que a criança não apresenta interação social com eles. Mas existem outros sinais que podem ser percebidos ainda quando bebê, mas é necessário muita atenção dos pais e conhecimento sobre os marcos de desenvolvimento infantil.
Na caderneta de saúde da criança, que é entregue aos pais quando a criança nasce, contém uma tabela que é o instrumento de vigilância do desenvolvimento da criança de zero a 12 meses[2], na qual os pais podem fazer o acompanhamento dos marcos de desenvolvimento infantil.
A nova caderneta que será distribuída a partir do ano de 2022 pelo Ministério da Saúde terá o diferencial que é o conteúdo que auxilia na identificação de possível TEA[3].
Esse acompanhamento irá auxiliar os pais, caso seja observado atrasos no desenvolvimento, converse com o pediatra e solicite orientações sobre como agir diante desses atrasos. Mas lembrem-se a melhor intervenção é.
[1] Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento. Porto Alegre: Artmed; 2014. 5ed. p. 31-3.
[2] Caderneta de Saúde da Criança; Ministério da Saúde: Brasília: 2019. 12°ed. P 44 a 47.