TDAH: SAIBA QUANDO LIGAR O ALERTA

O Transtorno do Déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos problemas mais falados atualmente em nossa sociedade e costuma ser associado com a falta de disciplina e de limites impostos pelos pais.

Acredito que todos já presenciaram alguém rotulando a criança com TDAH como indisciplinada, mal-educada e até insuportável, isso acaba causando uma onda de exclusão dessa criança, ela passa a ser excluída de lugares e momentos, como por exemplo em festinhas de amigos.

Se já não bastasse os estigmas que essa criança carrega, acabamos rotulando também os pais, como permissivos e acabamos questionando a educação dada a criança.

Na realidade o TDAH trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento, também considerado um transtorno global do desenvolvimento, o que acaba impactando no comportamento da criança, fazendo com que ela seja taxada como desatenta, hiperativa e até mesmo impulsiva.

Mas precisamos ter calma ao taxar uma criança dessa forma, pois uma criança SEM TDAH pode apresentar os mesmos comportamentos discrepantes de uma criança COM TDAH, essa alteração do comportamento da criança SEM dependerá dos momentos, situações ou locais que a criança está inserida, por exemplo, a crianças está agitada e inquieta por causa de uma viagem que irá fazer.

Precisamos saber também que dentro do TDAH existem TRÊS subtipos, que são baseados na forma que ele se manifesta nos comportamentos da criança.

São eles:

1- o tipo predominantemente desatento, quando a criança não apresenta a hiperatividade-impulsividade;

 2- o tipo predominantemente hiperativo-impulsivo, quando a criança não apresenta a desatenção e

3- o tipo combinado, quando a criança apresenta a desatenção e a hiperatividade-impulsividade.

Uma curiosidade sobre o TDAH!

É mais fácil identificar meninos com o transtorno do que meninas, pois normalmente os meninos apresentam mais comportamentos de hiperatividade e impulsividade, enquanto nas meninas o mais comum é o TDAH do tipo desatento.

Assim o transtorno passa despercebido durante muito tempo, por isso as meninas chegam para a avaliação e reabilitação neuropsicológica tardiamente.

Segundo o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) que é utilizado mundialmente por médicos, psicólogos e outros profissionais, existem alguns critérios que devem ser preenchidos para que a criança seja de fato diagnosticada com TDAH.

Abaixo temos os critérios que são observados para avaliação do TDAH, esses critérios foram retirados do DSM-5[1], porém optamos em adaptar o texto com uma linguagem menos técnica, para facilitar o entendimento de todos.

1 – Os comportamentos devem se manter por pelo menos 06 meses, devem ser observados em pelo menos dois ambientes, por exemplo em casa e na escola ou situações diferentes[2].  

2 – Essas alterações no comportamento precisam ter uma grande intensidade e acontecer com muita frequência. É importante também observar se esses sintomas estão causando sofrimento e prejuízo para a criança.

3 – É necessário que a criança apresente os comportamentos ou sintomas antes dos 12 anos de idade, caso ocorra alteração do comportamento após os 12 anos é necessário que se pense em outras causas.

4 – A criança com TDAH pode apresentar outras alterações de comportamento, como alteração do humor, baixa autoestima, ansiedade e outros. Podemos observar também dificuldades no desenvolvimento escolar, principalmente na leitura e escrita.

Aqui temos a lista de comportamentos que devem ser observados e serve também como sinais de alerta.

Sinais relacionados a Atenção

  1. Não consegue prestar atenção em detalhes.
  2. Comete erros por descuido (tarefas escolares e outros).
  3. Não consegue manter atenção (em tarefas e/ou brincadeiras) e perde o foco rapidamente.
  4. Apresenta muito esquecimento no dia a dia (materiais, dar algum recado).
  5. Se distrai com facilidade com outros estímulos do meio (ficar olhando uma formiga).
  6. Constantemente perde seus objetos, brinquedos e outros materiais.
  7. Tarefas que vão exigir esforço mental constante a criança evita ou reluta pra participar.
  8. Não consegue se organizar em tarefas e atividades até mesmo as que são consideradas simples.
  9. Parece não ouvir o que falam com ele.
  10. Não segue instruções.

Sinais relacionados a Hiperatividade

  1. Fala muito e muitas vezes de forma acelerada.
  2. Apresenta-se sempre inquieto (mexendo os pés, as mãos, agitado quando está sentado na sentado).
  3. Corre ou escala coisas e lugares inapropriados.
  4. Na sala de aula está sempre andando e conversando com os colegas, atrapalhando os outros alunos a prestarem atenção ou executarem tarefas.
  5. Não consegue participar de nada que seja exigido silencio ou quietude (por exemplo atividades de relaxamento).
  6. Permanece em movimento o tempo todo (o famoso ligado nos 220 volts).

Sinais relacionados a Impulsividade

  1. Não espera o termino das instruções ou perguntas para dar as respostas ou começar executar alguma tarefa.
  2. Não aguarda a sua vez.
  3. Interrompe assuntos das outras pessoas.
  4. Interrompe brincadeiras de outras crianças.

Certo! Entendemos que existem critérios para diagnóstico e também comorbidades que associam ao TDAH, mas o que fazer agora?

É fundamental que a criança seja acompanhada por uma equipe multidisciplinar, composta por um neurologista, psiquiatra, neuropsicólogo e outros profissionais que serão necessários de acordo com a demanda da criança.

 O TDAH é considerado uma condição crônica e por isso os cuidados devem ser contínuos. Em alguns casos pode ser necessário o uso de medicações para controle dos sintomas, o que dever ser conversado e prescrito pelo médico.

O neuropsicólogo ficará responsável por fazer a avaliação neuropsicológica, para traçar o perfil cognitivo da criança e assim elaborar o plano de intervenção, o plano pode e deve incluir outras especialidades, como fonoaudiólogo, psicomotricista.

Falando um pouco mais em relação a atuação do neuropsicólogo, durante a intervenção através da reabilitação neuropsicológica ele irá ensinar a criança técnicas de autocontrole, planejamento e estratégia para resolução de problema.

Realizará treinamentos de concentração, atenção e serão trabalhados outros aspectos psicológicos que irão impactar diretamente a vida da criança.

Por isso é sempre importante o acompanhamento em todas as etapas do desenvolvimento da criança. Procurar uma equipe multidisciplinar é indispensável para que ela consiga ter uma evolução continua, que seja mais próxima do esperado para a sua idade e assim minimizar os danos e prejuízos.

Lembrem-se que o importante é procurar ajuda e orientação o quanto antes, fiquem atentos aos sinais!

Por Ana Flavia

Capa: HNSC


[1] AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Pag.59 a 86.

 

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