Desde o início da pandemia da Covid-19, até os dias de hoje, pode-se observar o grande impacto que a pandemia teve e tem na educação no Brasil.
Impacto este que não tem sido nada positivo, de acordo com muitas pesquisas que foram e ainda estão sendo realizadas no país.
Segundo dados da UNESCO, 81,9% dos alunos da Educação Básica deixaram de frequentar as escolas durante a pandemia no Brasil. Isso representa cerca de 39 milhões de pessoas.
No início da pandemia, duas questões eram discutidas no país: garantir que estudantes não fossem prejudicados no processo de aprendizagem e evitar o aumento das desigualdades de acesso e oportunidades.
Mas, na realidade, o que se viu, infelizmente, foi o contrário disso.
O desenvolvimento escolar dos alunos caiu tanto a ponto de se falar em regressão no sistema educacional ao que era nos anos 1960, com graves e duradouras consequências para essa geração de alunos. Esse é um dos dados do relatório de um estudo do Banco Mundial, que analisou o impacto da pandemia da Covid-19 na educação dos países da América Latina e Caribe.
Neste mesmo relatório, o Banco Mundial diz que 71% dos alunos brasileiros, em fase de alfabetização, podem não aprender a ler adequadamente. E que dois a cada três alunos não saberão ler e entender um texto simples de tamanho moderado nos anos finais do ensino fundamental.
O Banco Mundial usa o termo “pobreza de aprendizagem” para indicar o percentual de crianças com dez anos que não conseguem ler e interpretar um texto simples. No Brasil, esse percentual de “pobreza de aprendizagem” já era alto, com 50%, com a pandemia, segundo o estudo, subiu para 70% dos alunos.
Com isso, atrasaria os alunos em 1,3 ano de escolaridade, podendo subir esse número de defasagem para 1,7 ano caso continue com as escolas fechadas.
As perdas na aprendizagem dos alunos são grandes devido à falta de controle da pandemia. A América Latina e o Caribe têm 170 milhões de alunos prejudicados.
Estudantes mais pobres, no Brasil, serão os mais afetados. A desigualdade de proficiência pode aumentar até 12% entre ricos e pobres. Isso resulta em quase três anos de atraso para os alunos pobres em comparação aos alunos ricos.
Um dos motivos para essa desigualdade crescer ainda mais entre as classes econômicas no Brasil, em relação à educação, é a restrição ao acesso à internet e muitas escolas não fornecer as atividades escolares em outros formatos, além do virtual, para esses alunos.
Cerca de 4,2 milhões de estudantes não acompanham aulas remotas por falta de acesso à internet ou equipamentos necessários.
Com todos esses dados e dificuldades apresentadas em relação a educação durante o período de pandemia, outro dado que preocupa é o abandono escolar, que poderá ter um aumento de 15% nas escolas da América Latina e do Caribe.
Além do abandono escolar, preocupa-se, também, com a saúde física e emocional desses alunos.
Pois segundo o relatório, 10 milhões de estudantes da América Latina são afetados com a falta de merenda escolar. Sabe-se que para muitos alunos a merenda escolar representa a única refeição que se tem no dia, impactando seriamente na saúde física dos alunos das escolas públicas.
O medo, o receio e a pressão que a doença traz, afeta muito com a saúde emocional dos alunos. Além de toda uma questão da dificuldade de aprendizagem e falta de equipamentos nesse período, a comida, o acolhimento e tudo que uma escola traz de bom para o aluno.
São questões preocupantes e que precisam ser tratadas como prioridade pelos governos do Brasil.
Outra pesquisa feita no Brasil que traz dados importantes, foi a do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, em parceria com o Itaú Social e a UNESCO do Brasil, foi para verificar a educação escolar na pandemia pela visão de professores das escolas públicas e particulares do Brasil.
Nessa pesquisa, como já esperado, professores relatam o aumento do trabalho pedagógico no modo online, precisando fazer muitas adaptações, estudos, conhecer e se adaptar a novas ferramentas.
Além disso, tem toda uma pressão social para esse professor dar conta de tudo nesse novo formato sem deixar cair o rendimento escolar dos alunos. O que se sabe que é muito difícil para os professores e escolas.
Somente parte dos alunos conseguem realizar as atividades propostas e a expectativa em relação a aprendizagem, diminuiu praticamente a metade, segundo a percepção dos professores que participaram da pesquisa.
Relatam, também, a percepção do aumento da ansiedade/depressão entre os alunos nesse período de pandemia. Dado que confirma, na prática, o estudo feito pelo Banco Mundial na América Latina e Caribe, citado anteriormente.
Um dado importante nessa pesquisa, foi que para a grande maioria dos professores pesquisados, a readequação dos modelos de avaliação surge como um ponto essencial para o retorno das aulas presenciais no país.
È preciso discutir e repensar as atividades avaliativas considerando a realidade e diversidade em que os estudantes se encontram nesse momento de pandemia.
Nem todos tiveram a mesma oportunidade de estudar, de acompanhar as aulas online.
É necessário olhar por esses alunos. Os dados das pesquisas são assustadores. Por mais que se saiba que no Brasil a educação não é como deveria ser e, piorar essa situação, deixa uma preocupação muito grande para com o futuro desses alunos.
No relatório do Banco Mundial, diz que os governos precisam agir imediatamente para reverter a situação e se preparar para a reabertura das escolas, de maneira efetiva e segura, com os recursos necessários para a volta das atividades escolares presenciais.
Para assim, tentar parar com todo o prejuízo que se teve e ainda tem com a pandemia da Covid-19, fazendo-se necessário um plano forte de recuperação para a aprendizagem dos alunos.
Nada substitui o contato, a relação presencial do professor com o aluno e o retorno das aulas presenciais é muito importante para a aprendizagem dos alunos. Mas esse retorno precisa ser de forma segura para todos.
Não adianta colocar a educação como serviço essencial, sem entregar para as escolas e professores condições necessárias para um retorno seguro, sem oferecer redes de proteção social aos estudantes de mais vulnerabilidade e que estão sendo os mais prejudicados com tudo que está acontecendo.
É preciso ir muito além disso. É preciso acolher os alunos, abraçá-los, fazer de tudo e mais um pouco para garantir o acesso e a permanência deles na escola, não permitindo ainda mais a evasão escolar.
A educação brasileira pede socorro de todas as formas. Escolas, professores e alunos pedem socorro. O sistema educacional brasileiro precisa agir rápido para melhorar, para não deixar que mais estudantes se afetem ou que os já afetados se afetem ainda mais e se prejudiquem mais do que já estão.
Não se pode permitir que o buraco na educação brasileira aumente ainda mais, trazendo mais desigualdades sociais.
A educação transforma pessoas, transforma vidas e é preciso salvá-la.
Mas isso, cabe aos governos em todas as esferas, fazer planos e políticas públicas sólidas e eficientes para tentar recuperar e amenizar todo o impacto que a pandemia trouxe para a educação dos alunos brasileiros.
O desejo é somente esse, que a educação vença, que transforme pessoas e que os alunos tenham a oportunidade de se recuperar em meio aos caos e seguir em frente, sem grandes perdas.
Por Erica Lacerda
Capa: Ufjf