FALTA DE APETITE INFANTIL

Meu filho não come! O que fazer? É Falta de apetite?

Ouço no consultório frequentemente dos pais que seu filho não come, ou não come como os adultos consideram adequado. A queixa é bastante comum entre crianças de 1 e 6 anos de idade. Mas o que fazer?

Precisamos enfrentar alguns pontos.

O primeiro é contornar a ansiedade dos pais que só se tranquilizam quando todo o prato foi “raspado” ou toda mamadeira tomada.

Depois, alinhar a expectativa dos pais ao tamanho do apetite da criança.

Temos que lembrar ainda que as crianças podem ter o apetite afetado por questões ligadas à diminuição do ritmo de crescimento e ao progresso no desenvolvimento infantil.

Conforme as crianças crescem e ganham autonomia, elas se interessam mais em explorar e conhecer o ambiente ao seu redor, do que com a alimentação.

Outro ponto que deve ser levado em consideração são quadros clínicos ou situações de doença que estão causando algum desconforto e por consequência, falta de apetite.

O acompanhamento profissional é fundamental, especialmente se a ingestão insuficiente de nutrientes torna-se crônica, pois pode comprometer o estado nutricional da criança e seu desenvolvimento global.

Importante reforçar que o comportamento alimentar das crianças em idade pré-escolar (1-6 anos) normalmente é inconstante. Ou seja, tem dia que come muito bem e no outro podem não comer nada. Essa situação precisa ser vivida com tranquilidade, sem forçar a ingestão de comida ou resultar em castigos.

Crianças em períodos de desenvolvimento e crescimento têm uma demanda de energia e nutrientes maior. Assim, é natural que nessas fases o apetite esteja mais aumentado.

Para verificar se seu filho está passando por um quadro de falta de apetite, avalie em conjunto com um profissional Pediatra ou Nutricionista:

– Se a ingestão de alimentos e nutrientes está inferior às necessidades nutricionais da criança, sem que a ela esteja apresentando qualquer doença ou estado febril.

– A evolução do peso em relação à altura é menor que o esperado nas curvas de crescimento.

– A criança sente-se cansada, desaminada e com fraqueza para realizara as atividades do cotidiano.

Classificamos a falta de apetite na infância em dois conceitos básicos: a inapetência comportamental e a orgânica. Vamos nos deter especialmente na primeira.

A falta de apetite de origem comportamental é causada por hábitos e atitudes equivocadas da própria família. O comportamento alimentar de todo o núcleo família precisa ser trabalhado para se reverter a recusa alimentar da criança. Novos hábitos alimentares devem ser aprendidos e praticados por todos.

Diferentemente, a inapetência orgânica (ou anorexia) é causada por deficiências de micronutrientes ou doenças agudas, principalmente infecciosas. O uso de suplementos ou intervenção medicamentosa pode ser avaliado nesses casos.

Sempre que avalio um caso de falta de apetite com origem comportamental, algumas situações aparecem com frequência. Vejas as principais:

– Oferecimento de alimentos liquidificados na introdução alimentar:

O hábito de oferecer alimentos peneirados ou liquidificados durante os primeiros contatos do bebê com a alimentação sólida faz com que a criança não aprenda as diversas texturas dos alimentos, não tenha o estímulo da mastigação e não consiga diferenciar os sabores.

Esse “conforto” para o bebê é contrário às recomendações. A introdução alimentar deve ter alimentos variados e amassados com o garfo.

– Interpretação errada das preferências alimentares:

As crianças possuem alimentos que são os preferidos, desde a introdução alimentar. Os gostos devem ser respeitados. Isso não significa que se a criança recusar um alimento ele nunca mais deve ser oferecido.

Às vezes, ela não aceitou naquele dia, ou não gostou da temperatura ou da forma como foi oferecido. Apresente-o de novo em outro momento, em outra preparação. Se a recusa persistir, ofereça outro alimento do mesmo grupo. Ex: trocar a abóbora pela cenoura.

– Tensão familiar e chantagem: Esse é um drama vivido em muitas mesas.

A hora da refeição, que é para ser prazerosa, vira um campo de guerra com brigas e chantagens para fazer a criança comer. Isso é péssimo! Cria um ciclo vicioso, onde a criança só come se receber uma recompensa. Ex: se você comer a salada, ganha o chocolate.

– Necessidade de atenção: As crianças são muito espertas!

Algumas sabem que se recusarem a comer, ganham mais atenção dos pais. Isso é reforçado quando a criança alimenta-se muito bem fora de casa ou longe dos pais. Não troque carinho e amor pela comida! Além disso, lembre-se que comer em companhia, torna a refeição mais prazerosa. Às vezes sua criança só quer que você coma com ela e que conversem.

– Dificuldades em colocar limites: Essa situação se confunde com as duas de cima. Às vezes os pais, com receio de que seus filhos não se sintam amados, deixam como tudo e quando quiserem. Normalmente as crianças não têm horários fixos para se alimentar, trocam refeições nutritivas por mamadeiras ou guloseimas e criam um hábito alimentar extremamente seletivo.

Realizar a mudança na falta de apetite de origem comportamental não é nada fácil. Exige-se paciência e tempo dos responsáveis.

Separei algumas dicas que podem ajudar a driblar essa situação:

  1. Estabeleça sempre horários fixos para a alimentação da família
  2. Estabeleça intervalor entre as refeições de 2-3 horas.
  3. Não ofereça doces, biscoitos, mamadeiras, etc, entre os lanches da manhã e da tarde.
  4. Limite ou evite a ingestão de líquidos durante as refeições.
  5. Se a criança não quiser comer, não ameace ou ofereça recompensas.
  6. Em situações de recusa alimentar, mantenha a calma, sem perder a confiança e a firmeza.
  7. Coloque no prato quantidade adequada de comida e ofereça mais se a criança pedir.
  8. Evite distrações da criança durante a refeição, como comer vendo celular, TV ou brincando.
  9. Não “disfarce” alimentos que a criança rejeitou no passado. Ninguém gosta de ser enganado.
  10. Ofereça sempre alimentos variados e coloridos. Investir em utensílios com temas infantis também agradam as crianças. Lembre-se que comemos primeiro com os olhos!

E lembre-se: a formação de hábitos alimentares saudáveis exige tolerância, persistência, firmeza e muito afeto!

Por Fabiana Jarussi

Capa: Free Pik

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1 comentário em “FALTA DE APETITE INFANTIL”

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