Capacitismo?
Você sabe o que significa essa palavra?
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 10% da população mundial possui algum tipo de deficiência.
Essas pessoas sofrem diariamente com a falta de acessibilidade e preconceito.
Antes de dizer o significado da palavra capacitismo, vamos refletir a história. Uma das grandes dúvidas que surgem sobre esse tema é como chamar essas pessoas.
No decorrer da história o nome passou por diversas modificações e retrata muito como os outros lidavam com ela. Sassaki (2005) realizou um estudo muito pertinente sobre o assunto, pelo qual, partilharei em breve com você
No começo da história e por muitos séculos, o termo utilizado era “invalido”.:
Aquele que tinha deficiência era tido como socialmente inútil, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem valor profissional
No Século 20, até por volta de 1960 iniciou o uso do termo “incapacitados” foi um avanço da sociedade reconhecer que a pessoa com deficiência poderia ter capacidade residual, mesmo que reduzida.
Mas, ao mesmo tempo, considerava-se que a deficiência, qualquer que fosse o tipo, eliminava ou reduzia a capacidade da pessoa em todos os aspectos: físico, psicológico, social, profissional etc.
Por volta de 1960 até cerca de 1980, os termos mais utilizados era “Os defeituosos / os deficientes / os excepcionais”.
“Os defeituosos” significava “indivíduos com deformidade” (principalmente física).
“Os deficientes”, “indivíduos com deficiência” física, intelectual, auditiva, visual ou múltipla, que os levava a executar as funções básicas de vida (andar, sentar-se, correr, escrever, tomar banho etc.) de uma forma diferente daquela como as pessoas sem deficiência faziam. E isto começou a ser aceito pela sociedade.
“Os excepcionais” significava “indivíduos com deficiência intelectual”.
A sociedade passou a utilizar esses três termos, que focalizam as deficiências em si sem reforçarem o que as pessoas não conseguiam fazer como a maioria.
Simultaneamente, difundia-se o movimento em defesa dos direitos das pessoas superdotadas (expressão substituída por “pessoas com altas habilidades” ou “pessoas com indícios de altas habilidades”).
O movimento mostrou que o termo “os excepcionais” não poderia referir-se exclusivamente aos que tinham deficiência intelectual, pois as pessoas com superdotação também são excepcionais por estarem na outra ponta da curva da inteligência humana.
De 1981 até cerca de 1987 o termo utilizado era “pessoa deficiente”.
Pela primeira vez em todo o mundo, o substantivo “deficientes” (como em “os deficientes”) passou a ser utilizado como adjetivo, sendo-lhe acrescentado o substantivo “pessoas”.
A partir de 1981, nunca mais se utilizou a palavra “indivíduos” para se referir às pessoas com deficiência. Foi atribuído o valor “pessoas” àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direitos e dignidade à maioria dos membros de qualquer sociedade ou país.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou em 1980 a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades, mostrando que essas três dimensões existem simultaneamente em cada pessoa com deficiência.
Por volta de 1988 até cerca de 1993. Alguns líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram o termo “pessoa deficiente” alegando que ele sinaliza que a pessoa inteira é deficiente, o que era inaceitável para eles. Começou a usar “pessoa portadora de deficiência”.
O “portar uma deficiência” passou a ser um valor agregado à pessoa. A deficiência passou a ser um detalhe da pessoa.
O termo foi adotado nas Constituições federal e estaduais, em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluir o termo em seus nomes oficiais.
A partir da década de 1990 novos termos surgirão.
Um deles foi “pessoas com necessidades especiais”. O termo surgiu primeiramente para substituir “deficiência” por “necessidades especiais”. daí a expressão “portadores de necessidades especiais”. Depois, esse termo passou a ter significado próprio sem substituir o nome “pessoas com deficiência”.
Outro termo foi “pessoas especiais”. O termo apareceu como uma forma reduzida da expressão “pessoas com necessidades especiais”, constituindo um eufemismo dificilmente aceitável para designar um segmento populacional.
O adjetivo “especiais” permanece como uma simples palavra, sem agregar valor diferenciado às pessoas com deficiência.
O “especial” não é qualificativo exclusivo das pessoas que têm deficiência, pois ele se aplica a qualquer pessoa.
A partir de 1994, surge uma nova nomenclatura que cada vez mais tem atraído mais adeptos, pessoa com deficiências valores agregados às pessoas com deficiência são:
1) o do empoderamento [uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle da situação de cada um] e
2) o da responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a sociedade rumo à inclusão de todas as pessoas, com ou sem deficiência.
Pelo o que você pode perceber pela história dos termos utilizados, uma característica que sempre foi um ponto central foi a capacidade.
Mas como podemos dizer que alguém é capaz ou não apenas pelo fato dela tem uma deficiência?
A isso damos o nome de capacitismo.
O conceito é pautado na construção social de um corpo padrão perfeito denominado como “normal” e da subestimação da capacidade e aptidão de pessoas em virtude de suas deficiências.
Na sociedade capacitista, a ausência de qualquer deficiência é vista como o normal. Todas as pessoas com alguma deficiência são vistas como anormais e incapazes.
Sabemos que não é assim, precisamos quebrar esses mitos tão prejudiciais.
As pessoas com deficiência não são vistas como pessoas que vivem e aprendem de maneira diferente, mas que são incapazes de aprender e viver certas situações. Essa ação tem punição prevista em lei.
Mas muitas vezes o capacitismo não vem de forma clara, mas sim velados e expressões e atitudes que podem até parecer inocentes e heroicas.
Alguns exemplos de expressões capacitista:
Tão linda, mas presa numa cadeira de rodas?
– Ele é mongoloide! (referência à pessoa com síndrome de Down)
– Mais perdido que cego em tiroteio.
– Tão deformado, como conseguiu casar com essa mulher tão linda?
– Ele nasceu aleijado.
– Vou orar por você (no sentido de ter pena)
– Como você tem coragem de usar esses aparelhos tão feios? (referência aos aparelhos auditivos ou implantes auditivos).
Talvez você já tenha falado uma dessas frases e não tenha se dado conta, como podem ser preconceituosas. Isso, por que essa visão capacitista é histórica e estrutural, mas precisamos rever nossas praticas para proporcionar uma sociedade inclusiva de verdade.
Como você se sentiria ao ver pessoas se dirigindo a você dessa forma?
Ou te rotulando como incapaz?
Os danos psicológicos dessa discriminação são muitos, como a desmotivação, sentimento de solidão e depressão.
É papel de cada um de nós mudar esse cenário.
E papel de cada um ensinar as nossas crianças o verdadeiro significado do conceito capacitisimo.
Após essas descobertas, o que podemos fazer para que as crianças e os adolescentes descubram seu papel frente ao capacitismo?
A partir desse texto ficou claro que não podemos rotular a capacidade das pessoas com deficiência, mas por outro lado precisamos adaptar o currículo, como fazer isso de maneira que não seja capacitista?
Deixando mais uma pergunta, esta eu quero resposta no comentários?
Você já conhecia o conceito capacitismo?
SASSAKI, R. K. Como chamar as pessoas que têm deficiência. p. 6, [s.d.].
Por Caroline Lopes
Foto Capa: Freepik