Meu filho tem Dislexia e agora?

O que vem ser a Dislexia?

Na minha família convivemos com cinco crianças, com idade entre 2 e 7 anos. Recentemente, fomos pegos (quase) de surpresa com a notícia de que uma das crianças tem diagnóstico de Dislexia.

Eu digo quase de surpresa, pois todos percebiam que algo estava errado, mas ninguém sabia exatamente o quê.

O nome complicado causou espanto, mas também trouxe alívio para saber o caminho a ser percorrido a partir de agora.

A Dislexia é um transtorno de aprendizagem de origem neurobiológica e genético caracterizado pela dificuldade no reconhecimento e na leitura fluente de palavras, na habilidade de decodificação e soletração.

Por isso, a Dislexia é comumente identificada na fase de alfabetização. Quanto mais cedo o diagnóstico e o  início do tratamento,  melhores são os resultados.

Os sinais de alerta são:

  • Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem;
  • Confusão para nomear esquerda e direita;
  • Desatenção e dispersão;
  • Desorganização geral e perda de seus pertences;
  • Dificuldade de aprender rimas e canções;
  • Dificuldade com quebra-cabeças;
  • Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita;
  • Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
  • Desenvolvimento alterado ou dificuldade na coordenação motora fina e/ou grossa;
  • Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas, etc;
  • Falta de interesse por livros impressos;
  • Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
  • Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas.

O tratamento inclui atendimentos de uma equipe multidisciplinar composta por: terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista, pedagogo. Nesse texto, vou falar especificamente das contribuições do terapeuta ocupacional com crianças disléxicas.

Crianças com Dislexia apresentam inteligência normal e, muitas vezes, dão conta de realizar tarefas complexas caso sejam estimuladas a fazê-lo. O que pode dificultar na execução das tarefas são as dificuldades motoras, mais especificamente da coordenação motora fina e da coordenação motora global.

A Psicologia Escolar e Sua História

A atuação do terapeuta ocupacional será nas potencialidades e habilidades da criança, visando garantir seu pleno desenvolvimento.

O profissional pode utilizar atividades lúdicas, jogos, brincadeiras e treino de atividades. As atividades podem incluir lançar, transferir objetos, alinhavar, recortar, colar, pegar, entre outras. Também são desenvolvidos circuitos motores com diferentes níveis de dificuldade para ajudar no desenvolvimento da lateralidade, noções de esquema corporal e noções espaciais e temporais.

O terapeuta ocupacional pode realizar adaptação das atividades, do ambiente e de materiais, ferramentas e utensílios, como engrossar o lápis.

As atividades também podem ser graduadas do mais simples para o mais complexo, oferecendo desafios na medida certa.

Para os disléxicos é mais fácil estudar as partes para depois entender o todo. Desta forma, o treino de atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida diária podem ser realizados de maneira gradual, visando o pleno desenvolvimento da criança.

Dicas gerais para o ambiente escolar:

  • O aluno com Dislexia deve ser tratado com naturalidade;
  • Ao falar, use linguagem direta, clara e objetiva, usando frases simples e curtas;
  • Evite usar metáforas, linguagem simbólica e sofisticada;
  • Fale olhando diretamente para ele;
  • Traga-o para perto da lousa e da mesa do professor, mas explique porque esse é o melhor lugar para ele antes;
  • Discretamente, verifique se a criança demonstra estar entendendo a sua exposição;
  • Repita sempre que preciso e apresente outros exemplos, se for necessário;
  • Certifique-se de que as instruções para determinadas tarefas foram compreendidas;
  • Observe discretamente se ele fez as anotações da lousa e de maneira correta antes de apagá-la;
  • Observe se ele está se interagindo com os colegas;
  • Estimule-o, incentive-o, faça-o acreditar em si, a sentir-se forte, capaz e seguro;
  • Sugira-lhe “dicas”, “atalhos”, “jeitos de fazer”, “associações”, que o ajudem a lembrar-se de como a executar atividades ou a resolver problemas;
  • Não lhe peça para fazer coisas na frente dos colegas, que o deixem na berlinda: principalmente ler em voz alta;
  • Apresente-lhe o conhecimento em partes, de maneira indutiva;
  • Permita, sugira e estimule o uso de gravador, tabuada, máquina de calcular, recursos da informática;
  • Permita, sugira e estimule o uso de outras linguagens.

Em casa:

  • Use pistas visuais que ajudem na execução de tarefas;
  • Olhe para criança ao falar com ela;
  • Dê instruções simples e claras;
  • Evite apelidos ou expressões que desqualifique ou acentue a dificuldade da criança;
  • Envolva a criança em atividades práticas, a memorização dessas tarefas ocorre de forma mais efetiva;
  • Vai cozinhar? Chame a criança para ajudar com a receita, mostrando e falando o nome dos produtos que serão utilizados;
  • Quando for dizer o nome de um objeto ou produto, coloque-o próximo a sua boca, assim a criança vê a articulação das palavras;
  • Ajude nas tarefas da escola, mas nunca faça por ela;
  • Sempre incentive a autonomia e a independência do seu filho.

Apesar de não ter cura, o tratamento adequado para a Dislexia tende a ter resultados favoráveis, fazendo com que a criança tenha uma vida normal. Nesse sentido, a família exerce papel fundamental na melhora da criança.

Acredita na criança, valorizar suas conquistas, ajudar na execução das tarefas pedidas pelos professores e pelos terapeutas, são formas de incentivar e contribuir para a melhora do quadro.

Por Suellen Merencio

Foto: FreePik

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