Depois da primeira consulta, no geral, é quando o tratamento odontológico das crianças começa propriamente dito. E com ele surge, por vezes, a necessidade de usar a anestesia local.
Para algumas pessoas, incluindo muitos pais e mães falar em anestesia local é sinônimo de “judiar” da criança, ou seja, é a “grande vilã”. Mas será que a anestesia local é mesmo a vilã?
Não aredito que seja. Pelo contrário, vejo-a mais com uma aliada. Aliada? Como assim? Em primeiro lugar, a anestesia local é um recurso utilizado para controlar possíveis desconfortos e dores durante o tratamento. É pra isso que ela é usada. Justamente, porque ninguém, incluindo as crianças, gosta ou se sente confortável mediante a dor.
Ah, mas alguém pode argumentar dizendo que dói ser anestesiado, principalmente no primeiro contato da agulha com os tecidos bucais. Sim, isso realmente acontece. Mas existem maneiras de diminuir muito, ou até mesmo não sentir, esse primeiro contato. Como?
Usando anestésicos tópicos, em formato de gel ou pomada, previamente a introdução da agulha. Pois eles anestesiam alguns milímetros do tecido, de modo que quando a agulha à toca não acontece a dor. Além disso, para uma anestesia local com menor sensação dolorosa o anestésico deve ser injetado lentamente, muito lentamente. É importante salientar que a dor durante a anestesia local também pode ocorrer quando o líquido é injetado de maneira rápida, sem dar tempo daquele tecido se acomodar e se acostumar com a quantidade de líquido que está sendo inserido.
Aliás, já existem injetores eletrônicos de anestésicos locais. Por serem máquinas computadorizadas, conseguem controlar melhor a velocidade de injeção do líquido, de forma mais lenta que a nossa mão. Nesses casos a anestesia local é indolor.
A anestesia local também é uma aliada no diz respeito ao manejo comportamental de crianças com comportamento “difícil” ao tratamento. Como assim? A base do tratamento odontopediátrico é a confiança que a criança sente no seu dentista. Se o dentista fala que ela não vai sentir dor e lá no meio do procedimento ela sente. Esqueça. Acabou a confiança.
Tratamento de canal em dentes de leite
A criança tem a sensação que o dentista mentiu ou a enganou. Além disso, a expectativa de sentir dor a qualquer momento traz consigo uma dose de ansiedade para o dentista, para os responsáveis e para a própria criança. Nesse sentido, é preferível sentir um breve desconforto no começo e depois não sentir mais, do que ficar na expectativa de que possa doer a qualquer momento.
Encarar a anestesia local como algo positivo é fundamental também para ajudar a criança a passar por esse momento.
Uma família segura quanto à necessidade da anestesia local, com certeza, passará mais segurança também para a criança. Ou seja, papais e mamães também podem ajudá-la. Como?
Segue algumas dicas da odontopediatra:
- Confie no odontopediatra do seu filho. Ele (a) estudou e foi treinado para anestesiar, mesmo as crianças menos colaboradoras, de modo que o desconforto seja o menor possível.
- Não minta para a criança. Fale a verdade. Sempre. Lembre-se confiança acima de tudo.
- Ao conversar com a criança sobre a anestesia local use palavras lúdicas (como remedinho, fazer o dente dormir…) contextualizadas com o seu nível de entendimento e universo. Evite palavras que causam medo e desconforto, como agulha, vacina, sangue, picadinha, dor, injeção…
- Evite usar a anestesia local ou mesmo a consulta do dentista como punição. Por exemplo: “Joãzinho se você não escovar os dentes vou te levar no dentista pra ele te dar uma injeção”. Isso não ajuda em nada e só fará a criança ter medo do profissional.
- Controle seu emocional na frente da criança. Você é o seu porto seguro. Respire fundo. A criança dará conta de passar por isso.
Senhores pais e mães, busquem o olhar o tratamento da criança sempre como aliado do seu filho.
Por Carla Minozzo