Você já teve algum contato com um pai ou mãe emocionalmente instável, agressivo, violento?
Tem memórias de ter sido agredido, invadido ou tratado com violência?
Se sim, observe as reações no seu corpo somente de ler essa pergunta.
Em mim, enquanto escrevo, sinto um arrepio nas costas e meus músculos tensionando.
Ainda é muito forte em nossa cultura a ideia de que é impossível educar sem bater, ou que se não bater não estamos corrigindo, “educando”. Uma das características do estilo parental autoritário.
E tudo que se viveu em uma infância marcada por esses atos é repetido, repassado aos filhos.
Às vezes, ficam marcas físicas, mas SEMPRE, ficam marcas emocionais.
Descobrindo a Parentalidade Consciente
Quando falamos em Parentalidade Consciente estamos falando de uma relação entre pais e filhos onde as escolhas e atitudes são tomadas com mais consciência, ou seja, são pensadas e sentidas. São ações definidas após alguma reflexão e o trabalho interno para que esta escolha seja a melhor para aquele momento presente, com menos interferências do passado e ansiedades em relação ao futuro.
Para não se repetir cegamente os padrões vivenciados no passado, é preciso ampliar o olhar para perceber os prós e contras de cada escolha. É possível, fazer escolhas conscientes ao invés, de termos, como pais e mães, meras reações automáticas ao que acontece ao nosso redor.
E isso exige de nós a desconstrução de muitas crenças que baseiam tais comportamentos. Está aí a necessidade do trabalho interno e do autoconhecimento para os pais e mães que escolhem educar seus filhos com mais consciência, encontrando um equilíbrio saudável entre amor e limites. Sim! Um equilíbrio. Pois ser um pai ou mãe consciente não é nem de longe ser passivo, permissivo, aquele outro estilo parental: negligente ou de deixar fazer tudo.
O pensamento por trás do uso da força
Em seus livros, “Comunicação não-violenta” e “Raising Children Compassionately” (Criando crianças com compaixão”, em tradução livre), Marshall Rosenberg traz a seguinte reflexão:
“A comunicação não-violenta requer que diferenciemos o uso protetor e o uso punitivo da força. A intenção por trás do uso protetor da força é evitar danos ou injustiças. A intenção por trás do uso punitivo da força é fazer com que as pessoas sofram por seus atos percebidos com inadequados.”
A Comunicação Não-Violenta é um conjunto de técnicas de comunicação baseadas na filosofia da não-violência, lá do Ghandi, lembra? Acaba virando um estilo de vida, pois transforma a comunicação e com isso, transforma nossas relações. E como a comunicação saudável é essencial para a relação de pais e filhos, recomendo a leitura sobre o tema. E você poderá aprender sobre a empatia, sobre uma comunicação autêntica que considera as necessidades de ambos os lados: pais e filhos.
Neste sentido, Marshall nos convida a refletir e nos conscientizar de que:
– é preciso ter consciência das consequências das nossas ações;
– é preciso perceber que nossas necessidades podem ser atendidas sem prejudicar os outros;
– é preciso desconstruir a crença de que temos o “direito” de punir ou ferir os outros porque eles “merecem”;
– e que é mais provável que ações punitivas, em vez de gerar arrependimento e aprendizado, produzam ressentimento e hostilidade e que alimentem a resistência ao comportamento desejado, esperado.
http://descobrindocriancas.com.br/2017/02/27/melhorando-a-comunicacao-entre-pais-e-filhos/
O uso punitivo da força
Ações punitivas, em geral, e também na educação dos filhos, se baseiam na premissa de que as pessoas, os filhos, são bons ou maus e por isso precisam de uma “correção” para sofrerem e perceberem que agiram errado, para se arrependerem e para mudarem.
Porém, estudiosos do tema concluem que a punição não educa, no caso das crianças, elas até deixam de emitir determinado comportamento, mas muito mais por medo e não por respeito ou porque de fato aprendeu determinado ensinamento.
A punição com o uso punitivo da força deixa marcas, às vezes físicas e quase sempre deixa marcas emocionais.
O medo que tolhe, que fica marcado no corpo, que vai aos poucos minando a autenticidade e a espontaneidade da criança. A insegurança emocional, de nunca saber quando será a próxima explosão emocional desse adulto que deveria estar ali para cuidar e proteger. Sequela na autoestima da criança que cresce com um sentimento de menos valia, de não merecimento e isto influencia fortemente a sua formação e suas demais relações.
E sobretudo, o uso punitivo da força na educação dos filhos é plantar sementes de violência e “perpetuar uma norma social que justifica a violência com meio de resolver diferenças.”
O uso protetivo da força
No uso protetor da força, nossa intenção é apenas proteger. Protegemos nossas necessidades como pais e mães, e depois teremos a comunicação necessária para educar a criança ou adolescente.
Mas, em algum momento, pode ser necessário usar a força para proteger.
Poe exemplo:
– Quando uma criança corre pra rua e você precisa segurá-la com mais força para contê-la e alertá-la do perigo;
– Quando o filho, criança ou adolescente, está tendo uma “crise emocional”, e você fica ali, ajudando a entender e acolher o que está acontecendo e usa a força para contê-la e evitar que ela se machuque ou machuque alguém.
Contenção é com um abraço. Você não aperta até sufocar ou machucar. Você não deixa solto. E sim, você envolve, dando suporte, contenção, limites seguros e afeto.
Dica de Ouro!
Portanto, pais, mães e educadores:
– contar até 10 e avaliar qual a sua intenção antes de fazer uso da força na educação dos filhos, das crianças e adolescentes com os quais você convive. Que intenção está por trás da sua decisão? Punir ou Proteger?
Pare. Pense. Respire. Reflita. E tome uma decisão madura, consciente e responsável.
E assim, você deixa de plantar sementes de violência na sua casa e na sua família… E decide conscientemente plantar sementes de amor, respeito e consciência. E esses serão os frutos que você colherá e, sobretudo, as crianças que recebem essas sementes podem dar ao mundo aquilo que receberam: Amor e Luz!
E nós estamos precisando disso!
Texto: Ludmila Venturoli.
Foto Capa: Pixaboy.