10 dúvidas comuns no escritório de nutrição

Início de ano e muitas famílias querem modificar seus hábitos e ter uma vida mais saudável, incluindo melhorar a alimentação das crianças. Nesse texto compartilho com vocês dúvidas muito comuns que recebo no consultório e que podem facilitar essa busca.

1) Meu filho pode tomar café?

Embora seja uma das bebidas mais consumidas no nosso país, o uso rotineiro de café não é aconselhado em nenhuma dosagem para crianças menores de 12 anos por diversas Comunidades Científicas.

Isso porque o café contém cafeína, uma substância estimulante e que não traz nenhum benefício à saúde de crianças e adolescentes, pelo contrário, pode até interferir no desenvolvimento neurocognitivo, influenciar o sistema cardiovascular, além do risco de dependência e intoxicação¹.

Lembro que a cafeína não está presente somente no café, mas também em outras bebidas como chimarrão, refrigerantes à base de cola, energéticos, alguns tipos de chás, etc.

2) Como saber se meu filho está comendo o suficiente?

De um modo geral, avalio no consultório o desenvolvimento da criança, o que inclui o peso e a altura. O importante é que a criança evolua nas curvas de crescimento durante um intervalo de tempo.

Se percebo que a criança tem problemas com esse desenvolvimento e apresenta outros sinais, a solicitação de exames bioquímicos pode ser feita, especialmente para checar os níveis de ferro, vitaminas e outros nutrientes.

Lembro que, assim como os adultos, algumas crianças comem mais, outras menos. Se tudo está certo com o desenvolvimento dela, fuja de comparações.

3) Quando a criança já pode comer açúcar?

Como os pais são ansiosos com essa questão! A recomendação do Ministério da Saúde, em consonância com outros órgãos de saúde mundiais, é que alimentos adoçados sejam evitados até o segundo ano.

Lembre que a criança terá a vida inteira para consumir alimentos açucarados! E mais: esses alimentos não trazem benefícios para ninguém!

4) Meu filho não come nada. O que fazer?

Primeiramente, avalio criteriosamente o que os pais querem dizer com “não come nada”. Muitas vezes, a criança come pouco, mas o necessário para se desenvolver bem. Ou então, rejeita pontualmente um alimento ou um tipo de preparo, o que também é normal.

A partir daí, se de fato diagnosticarmos algum problema alguns exames podem ser solicitados para checar se há alguma condição física que esteja por trás disso (doenças no aparelho digestivo e/ou respiratório, por exemplo).

A maioria das queixas relacionadas à seletividade alimentar, porém, é de origem comportamental. A saída para melhorar a situação, em geral, é criar uma rotina alimentar agradável, sem distrações, incentivando as refeições em família sempre que possível.

Também vale oferecer os alimentos recusados mais vezes e de outras formas (se ela não gosta de espinafre refogado, ele pode ser adicionado a panquecas ou tortas, por exemplo), além de substituí-los por outros do mesmo grupo alimentar.

Mas atenção, forçar a criança a comer ou fazer chantagens não adianta. Temos vários textos que trazem esse assunto aqui no blog, caso queira se aprofundar mais.

5) Como evitar a obesidade infantil desde cedo?

A prevenção é mesmo a palavra-chave, já que o tratamento da obesidade, uma doença multifatorial, é mais complexo. A prevenção começa na gestação, porque o estado nutricional da grávida influencia o peso do bebê desde o início da vida.

Hoje sabemos também que o aleitamento materno prolongado (por 2 anos ou mais) também é um fator de proteção contra a obesidade. Planejar uma introdução alimentar adequada também é importante.

Ela deve ser feita no período recomendado e de forma adequada (quanto mais equilibrada e natural, melhor). Além disso, a família toda deve investir em bons hábitos alimentares e a criança deve ter uma vida ativa.

6) Posso dar suplementos alimentares para o meu filho?

A suplementação só deve ser realizada com supervisão do pediatra e do nutricionista, após avaliação e diagnóstico de carência de algum nutriente. O Ministério da Saúde considera as crianças um grupo mais vulnerável, portanto, os limites de consumo e os ingredientes autorizados são diferenciados².

7) Ele só come na frente de telas. E agora?

Esse tipo de distração na hora de comer é prejudicial porque a criança não consegue perceber o quanto come (levando-a a ingerir mais ou menos comida do que precisa), ou seja, atrapalha a saciedade.

O hábito também interfere no reconhecimento da textura e do sabor dos alimentos, e tudo isso pode levar à obesidade, entre outros problemas alimentares.

O ideal é fazer com que as crianças aumentem a concentração com a alimentação. Temos um texto aqui especial sobre os perigos do uso de telas durante as refeições.

8) Não consumo alimentos com lactose e glúten, posso eliminá-los da alimentação do meu filho?

A restrição desses ou de outros grupos alimentares só é indicada quando houver de fato um diagnóstico que a recomende, como é o caso de pessoas com a doença celíaca, que devem abrir mão do glúten. Do contrário, pode até mesmo ser prejudicial, já que a criança vai deixar de consumir certos nutrientes em um período importante para seu desenvolvimento.

9) Os alimentos orgânicos causam menos alergia nas crianças?

Esses alimentos podem ser mais saudáveis porque contêm menos agrotóxicos. Aconselho aos pais que sempre chequem se os alimentos comprados possuem uma certificação adequada, ou seja, se são de fato orgânicos. Mas não quer dizer que sejam menos alergênicos.

Se a criança tiver alergia a uma determinada substância, como amendoim, por exemplo, vai apresentar reações alérgicas de qualquer maneira, seja o alimento orgânico ou não.

10 ) Criança pode fazer “dieta” para emagrecer?

Não! Nenhuma criança deve fazer protocolos para perda de peso. Exceto em casos extremos e sempre sob orientação de um médico ou nutricionista.

Crianças com sobrepeso ou obesidade devem receber aconselhamento nutricional para modificar seus hábitos alimentares e corrigir possíveis excessos, mas sem seguir dietas restritivas.

¹ Cafeína: Cuidado com as crianças – Nota de alerta – Sociedade Brasileira de Pediatria. Acessado em 28/01/2025:

² Disponível no site da ANVISA. > Acesso em: 28/01/2025.

Fabiana Jarussi

Nutricionista – CRN 11217

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