CONSENSO DE ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR DA LASPGHAN 2023

O que a LASPGHAN relata a alimentação complementar.

LASPGHAN é a Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica.

É uma sociedade científica composta por médicos pediatras e outros profissionais de saúde pediátrica toda América Latina.

Todos os anos a LASPGHAN organiza eventos com o intuito de que os profissionais compartilhem conhecimentos e experiências de suas áreas de atuação.

O último Consenso de alimentação complementar da LASPGHAN aconteceu em 2023 no Brasil e contou com a participação de 30 países e com mais de 1300 profissionais inscritos.

Nesse texto, vou compartilhar com vocês um resumo das recomendações desse Consenso de alimentação complementar[1].

  • LEITE MATERNO:
    • O aleitamento materno deve ser incentivado e exclusivo durante os primeiros 6 meses de idade.
    • Em lactentes amamentados exclusivamente, recomenda-se o início da alimentação complementar aos 6 meses de idade.
    • Manter o aleitamento materno durante a alimentação complementar e até pelo menos 2 anos de idade.
    • A alimentação complementar em lactentes que receberam exclusivamente leite materno deve ser iniciada e mantida com alimentos de alta biodisponibilidade de ferro, zinco, cálcio, vitamina A e folato, tais como carne vermelha, vísceras, etc.
  • FÓRMULA INFANTIL:
    • Nos lactentes alimentados com fórmula infantil (parcial ou totalmente), a alimentação complementar pode ser iniciada com 4 meses de idade.
    • Em lactentes saudáveis alimentos com fórmula infantil, a alimentação complementar pode ser iniciada com qualquer grupo alimentar, mas 2 semanas após o início, pelo menos um alimento de cada grupo deve ser oferecido.
  • PREMATURO:
    • O início da alimentação complementar no prematuro pode ocorrer entre 4 e 6 meses da idade corrigida.
    • No prematuro, a alimentação complementar deve incluir todos os grupos alimentares, dando preferência aos alimentos com maior teor energético e proteico e com nutrientes como ferro, zinco, cálcio, vitamina A e folato.
  • ALIMENTAÇÃO PERCEPTIVA:
    • Baseia-se nos sinais de fome e saciedade emitidos pela criança, no seu reconhecimento e na reposta correta do cuidador.

Ou seja, é importante que os cuidadores compreendam que os lactentes têm uma capacidade gástrica limitada e necessitam de porções e volumes adequados para sua idade e etapa de seu desenvolvimento.

Respeitar os sinais do lactente e lembrar que os bebês não conseguem verbalizar suas necessidades é fundamental.

  • VEGANISMO:
    • Na alimentação complementar não é recomendado esquemas veganos crus e veganos macrobióticos.
    • Na situação em que cuidadores solicitem aconselhamento para implementar um esquema de alimentação complementar vegetariana, isto deve ser feito sob estrita supervisão de um profissional médico e nutricional habilitado.
  • ÁGUA:
    • A ingestão de água potável natural pode ser oferecida desde o início da alimentação complementar.
    • A quantidade de água potável durante o período de alimentação complementar deve ser de aproximadamente 60 a 150mL para lactentes de 6 a 8 meses de idade, 240 a 300mL para lactentes de 9 a 11 meses e 450 a 600mLnpara lactentes entre 12 e 23 meses.
  • ALIMENTOS AÇUCARADOS E SUCOS:
    • O uso de açúcar adicionado aos alimentos deve ser desencorajado durante os primeiros 2 anos de idade.
    • No primeiros 2 anos de idade também não é recomendada a ingestão de sucos naturais, industrializados ou qualquer outra bebida com adição de açúcares.
    • Não é recomendada a ingestão de bebidas cafeinadas, chás, infusões, refrigerantes, bebidas vegetais (amêndoa, aveia, arroz, soja, coco, entre outras) bebidas açucaradas e caldos nos primeiros 2 anos de idade.
    • Sopas são permitidas considerando o preparo e que contenha pelo menos 75% de alimentos sólidos.
  • MEL:
    • Dada a potencial contaminação com esporos da bactéria Clostridium botulinum no mel, a sua ingestão não é recomendada para crianças menores de 2 anos de idade.
  • SAL:
    • O uso racional do sal no preparo dos alimentos é considerado aceitável (apenas nas preparações) a partir dos 12 meses de idade.
    • Os temperos podem ser utilizados durante o preparo dos alimentos, preferencialmente após a criança ter sido exposta aos alimentos em seu sabor original.
  • BLW E BLISS:
    • As abordagens de introdução de textura BLW (Baby-Led Weaning) ou BLISS (Baby-Led Introduction to Solids) devem ser aconselhadas por um nutricionista ou médico treinado. Os pais devem estar plenamente conscientes dos riscos que podem acarretar.
    • O método BLW tem como principal característica permitir que o bebê se alimente sozinho. O objetivo é encorajar que ele coma com a mão, pegando os alimentos e levando-os até a boca. Por consequência, o método acaba promovendo uma autonomia maior durante o processo da introdução alimentar.
    • O método BLISS é uma variação do BLW. O método também consiste em cortar os alimentos em pedaços grandes e permitir que o bebê pegue sozinho. Porém, há uma preocupação maior com a composição nutricional do prato e em evitar alimentos que possam oferecer maior risco de engasgo.
  • ALIMENTOS ALERGÊNICOS:
    • Uma vez introduzida a alimentação complementar, todos os alimentos devem ser introduzidos, inclusive aqueles considerados potencialmente alergênicos, tais como ovos, peixes, trigo, ostras, soja, milho, mariscos e derivados, laticínios, etc, independentemente do histórico familiar de atopia.
    • A exposição a alimentos alergênicos deve ser feita frequentemente, pelo menos 2 vezes na semana, de forma a induzir e manter a tolerância imunológica.
    • Nos lactentes com alergias diagnosticadas, a introdução de alimentos considerados potencialmente alergênicos não é recomendada.
  • ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR ADEQUADA:
    • O peso dos lactentes não deve ser um indicador para iniciar ou a atrasar a alimentação complementar, mas sim os sinais de prontidão presentes.
    • Um novo alimento pode ser introduzido todos os dias. Caso não seja possível diariamente, não se deve ultrapassar 3 dias para a inclusão de um novo alimento.
    • A alimentação complementar deve ser variada, com alimentos de todos os grupos e certificando-se que os 5 gostos básicos estão presentes. 4 semanas após o início da alimentação complementar, pelos menos 2 alimentos de cada grupo devem ser incorporados.
    • A partir do inicio da alimentação complementar, podem ser oferecidas 3 refeições.
    • Deve ser promovida a exposição diária a frutas e vegetais variados para se conseguir uma melhor aceitação desses alimentos a longo prazo.
    • Bebês amamentados saudáveis requerem cerca de 10 exposições a alimento (especialmente vegetais) para terem reações positivas e aceitação a longo prazo.
    • Em bebês com maior sensibilidade a sabores e texturas ou alimentos com fórmula podem ser necessárias até 15 exposições para aceitação a curto e longo prazo.
    • A quantidade de alimento por refeição durante o período de alimentação complementar é de aproximadamente de 3 a 4 colheres de sopa para bebês de 6 a 8 meses de idade, 4 a 8 colheres de sopa para bebês entre 9 e 11 meses e de 8 a 12 colheres de sopa para bebês ente 12 e 23 meses de idade.
    • Recomenda-se começar com purês amassados e progredir para texturas grumosas e sólidos macios até os 10 meses de idade para reduzir o risco de aversão às texturas.

 

Para ter acesso ao documento completo e original, clique em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2255534X23000075?via%3Dihub.

Se quiser outros artigos sobre esse tema, navegue pelo blog! Escrevi uma série bem completa sobre o tema!

E lembre-se sempre!

Os primeiros anos de vida do bebê representam uma incrível janela de oportunidades para que aprendam a aceitar e adquiram gosto por alimentos saudáveis, estabelecendo um padrão alimentar que pode prevenir muitas doenças a longo prazo. Invista na Nutrição nos primeiros anos de vida!

 

Por Fabiana Jarussi

Referência

[1] Vázquez-Frias R, Ladino L, Bagés-Mesa MC et al. Consenso de alimentación complementaria de la Sociedad Latinoamericana de Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica: COCO 2023. Rev Gastroenterol Méx. 2023;88:57—70.

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