“CODA” – NO RITMO DO CORAÇÃO

Compartilho com você uma reflexão do filme CODA na qual relata sobre uma família culturalmente surda.

Recentemente a Amazon Prime disponibilizou um filme que retrata uma realidade pouco vista. No Ritmo do coração, nome brasileiro do filme originalmente intitulado CODA, é uma comédia dramática americana de 2021 que relata o dia, dia de uma adolescente ouvinte filha de adultos surdos (CODA, abreviado). 

Em uma cidade pequena dos EUA, uma família culturalmente surda gerencia um negócio de pescados. Ruby, a filha mais nova e o único membro com audição (corda), ajuda seus pais e irmão surdos com o trabalho.

Na escola, ela se junta ao clube de coral, onde se vê atraída pelo seu parceiro de duetos e encontra uma paixão pelo canto. Quando seu maestro a encoraja a se inscrever para faculdade de música, ela precisa decidir entre ajudar sua família ou alcançar seu sonho.

CODA é uma refilmagem americana em inglês do filme francês La Famille Bélier de 2014, dirigido por Éric Lartigau , o filme foi filmado em Gloucester, Massachusetts , nos Estados Unidos.

O filme traz a realidade de crianças e adolescentes ainda pouco discutida, os Codas.

Mas o que é CODA? Qual a origem desse termo?

Termo que intitula originalmente o filme, CODA é o acrômio de Child of Deaf Adults. Há algumas décadas, os filhos ouvintes de pais surdos eram referidos em língua inglesa por HCDPs (Hearing Children with Deaf Parents – Crianças Ouvintes com Pais Surdos).

Nos anos 80, porém, o acrônimo Coda (Child of Deaf Adults – Filho de adultos surdos) ganhou popularidade, sobretudo pela criação da organização internacional Children of Deaf Adults Inc (CODA) que, fundada nos Estados Unidos por Millie Brother (ela mesma uma Coda), dedica-se à promoção de temas relacionados às experiências de filhos ouvintes de pais surdos mundo afora.

Hoje, o termo corda é empregado em diversos países, inclusive no Brasil e em Portugal.

Alguns autores distinguem a palavra CODA (em maiúsculas) de corda (escrita com minúsculas): a primeira, por essa diferenciação, remete à organização CODA.

A segunda, ao adjetivo usado para designar esses sujeitos específicos. Há ainda os que ressaltam a inicial maiúscula (Coda) para retratar indivíduos que reafirmam a experiência “CODA” (comumente bilíngues e “biculturais”).

Outras várias palavras, como Soda (Sibling of Deaf Adult – irmãos de surdos), Koda (Kid of Deaf Adult – usada para crianças pequenas, ou menores de 18 anos, filhas de surdos) ou Goda (Grandchild of Deaf Adult – netos de surdos) são, por vezes, encontradas em textos sobre o assunto.

Descobrindo a deficiência auditiva

Muitos Codas, como usuários nativos das línguas de sinais, dedicam-se ao trabalho como tradutores e intérpretes.

Segundo a linguista e corda Ronice Quadros (2017), codas são crianças ou adultos filhos de pais surdos. Esses sujeitos estão naturalmente expostos a dois mundos diversos: o mundo dos surdos e o mundo dos ouvintes.

Imagine como é nascer e crescer vivenciando duas línguas e duas culturas, muitas vezes, simultaneamente. Isso não parece uma novidade ao considerar a vida cotidiana de pessoas bilíngues.

Os codas compartilham a experiência de crescerem em famílias que utilizam uma língua de herança em casa que é, muitas vezes, diferente daquela utilizada fora do ambiente familiar, na maioria da sociedade. Podemos chamá-los de bilíngues, pois os codas transitam desde muito cedo nesses dois mundos e aprendem as línguas desses dois ambientes linguísticos.

No entanto, o caso dos Codas é singular por se tratar de línguas de modalidades distintas: uma oral-auditiva e outra visual-espacial, que é originária de um grupo linguístico minoritário. Por essa especificidade, os Codas são denominados bilíngues bimodais

A nível escolar, alguns CODAs acham os primeiros anos de escolas turbulentos devido as limitações linguísticas.  Alguns CODAs parecem ser menos desenvolvidos comparado com os outros ouvintes, é porque eles não cresceram junto com a língua falada. Podendo ter atraso de linguagem.

Alguns professores por engano interpretam isso como uma diminuição de capacidades intelectuais.

Por outro lado, quando bem trabalhados, podem superar tais dificuldades e ter um bom desempenho bilíngue, pegando os melhores pontos dos dois mundos.

Desse modo essa deve ser uma preocupação dos professores, acolher e estimular a criança corda.

Muitas vezes, os codas são convocados a ser interpretes para seus pais. Uma grande responsabilidade, devido à falta de interprete e conhecimento da Libras pela sociedade em geral.

Por isso, os pais com surdez pouco conseguem participar dos cuidados dos filhos, devido à falta de interpretes de Libras.

Imagine você receber em sua escola ou escola de seu filho uma criança ouvinte filha de pais surdos. Como será na reunião de pais, a escola tem interprete para eles? Ou teria que terceirizar o cuidado para a avo?

No dia da família, muitas vezes as crianças ensaiam músicas para homenagear seus pais, como seria essa realidade para os codas?

A escola precisa de conhecer a comunidade surda para também acolher a criança coda, é necessária uma sensibilidade para melhor trabalhar com ela.

Finalizo com a sugestão de você e sua família assistirem o filme. Recomendo a refletirem sobre essa realidade, propagar essa indagação para que mais pessoas se preocupem em tornar viável o acesso aos pais com surdez e estimular o crescimento dos filhos.

Por Carolline Nunes

Capa: TeoriaGeek

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