Após quase um ano e meio da pandemia do Coronavírus, percebemos o quanto a educação no Brasil foi e está sendo prejudicada.
As desigualdades existentes na educação quando se trata de educação pública e particular que já eram grandes, se tornou ainda maior, com um abismo enorme entre elas.
As escolas particulares, no Estado de Goiás, voltaram às aulas presenciais, em janeiro deste ano, 2021, com no máximo de 30% da capacidade total de alunos que comporta cada sala de aula. O restante dos alunos, ficaram em casa, de forma híbrida.
Algumas escolas fazem rodízio de alunos para o ensino híbrido, para que todos possam vivenciar e participar das aulas presenciais na escola.
Ou seja, quem está em casa, a cada 7 ou 15 dias, pode ir para a escola e quem está na escola, passa a assistir as aulas em casa. Isso para os alunos que querem participar do rodízio, pois muitas famílias ainda não se sentem confortáveis em enviar seus filhos à escola presencialmente.
Com o retorno ao ensino presencial das escolas particulares, mesmo que de forma parcial, percebe-se que os alunos tiveram um grande atraso e prejuízo no que se refere ao ensino e aprendizagem.
Professores estão se desdobrando para tentar suprir a não aprendizagem do ano passado.
A escola e os professores não estavam preparados para o ensino online e tiveram que “aprender” da noite para o dia, literalmente, como dar aulas online, como adaptar conteúdos para esse modo, como produzir e editar vídeos, como usar sistemas e aplicativos para as aulas online.
Escolas particulares tiveram um grande gasto com equipamentos e treinamentos para os professores. Tudo isso, para tentar amenizar o impacto que os alunos teriam com o ensino remoto. Mas mesmo assim, não foi e não está sendo fácil.
Por outro lado, os alunos dessas escolas, mesmo tendo acesso a computadores, celulares, tablets e internet para acessar as aulas online, se sentiram perdidos, pois não estavam preparados para esse tipo de ensino.
Por ser crianças e estarem na Educação Infantil e Ensino Fundamental, elas não têm a maturidade e responsabilidade para saber estudar e acompanhar tudo de casa.
As crianças precisam de muita atenção, de muito cuidado, de muito acolhimento, de contato, tanto com colegas, tanto com professores. Pois é também na interação com o outro que elas aprendem. E fazer tudo isso de forma online é um desafio enorme e muito difícil.
Além disso, os pais ou responsáveis do aluno, não estão preparados para acompanhá-lo e ensiná-lo em casa, da forma que ele precisa.
Houve toda uma adaptação tanto das escolas, professores, alunos e pais de forma repentina e ninguém estava preparado para isso. Mas foi necessário, precisaram e tiveram que fazer o possível e impossível em beneficio a aprendizagem, mesmo com tantos prejuízos, que pode-se observar hoje, em sala de aula, nas escolas particulares em Goiás.
Observa-se que esses alunos, os que estavam em fase de alfabetização não foram alfabetizados, em sua maioria, as crianças não tiveram o contato, o acolhimento, a interação com o outro, entre diversos outros fatores.
Isso fez com que os alunos ficassem mais tempo com aparelhos eletrônicos e jogos, presos dentro de casa, comendo mais, sem praticar nenhuma atividade física, deixando-os mais ansiosos, gerando até problemas de saúde física e mental devido a tudo isso.
Se os alunos de escolas particulares tiveram tantos prejuízos, imagine os alunos das escolas públicas em Goiás, que há quase um ano e meio. estão sem aulas presenciais.
Para esses alunos, professores estão fazendo o que é possível, mas infelizmente, não podem muito.
São materiais escassos, falta de tecnologias adequadas para o novo momento, falta de apoio governamental, enfim, os prejuízos desses alunos são maiores, evidenciando ainda mais a diferença existente entre escola particular e escola pública.
Os alunos das escolas públicas, a grande maioria, não tem acesso à internet, a equipamentos como computadores, celulares ou tablets para acessarem as aulas e atividades.
Existe, também, a questão de muitos pais não conseguirem acompanhar seus filhos nas aulas online por terem que trabalhar fora para manter o sustento da família, então esses alunos, ficam boa parte do tempo, sem ajuda nesse sentido.
Além de muitos pais terem que sair para trabalhar, há uma grande parcela de pais que não estudaram, que não são alfabetizados e automaticamente não conseguem ajudar seus filhos nas atividades em casa, pois não tiveram a oportunidade de estudar.
Esses pais querem que seus filhos estudem, que tenham a oportunidade que eles não tiveram, que aprendam, que se formem e que tenham um futuro melhor.
Mas para isso, precisam da escola, precisam ir à escola, pois além dos pais não conseguirem auxiliar nos estudos em casa, muitos alunos não têm acesso aos equipamentos necessários para estudar de casa.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), aponta que, em 2020, mais de 1,8 milhão de alunos não possuíam equipamentos eletrônicos para estudar e cerca de 6 milhões não tinham acesso à internet. Evidenciando ainda mais a desigualdade no Brasil e que aumentou em meio a pandemia.
As escolas públicas não voltaram ao ensino presencial e híbrido devido à falta de equipamentos adequados, além dos eletrônicos e de estrutura, os de segurança, como máscara e álcool em gel.
As autoridades não conseguem manter o mínimo necessário para o retorno das aulas presenciais nas escolas públicas. Em Goiás, especula-se um possível retorno as aulas presenciais. No entanto, a volta irá acontecer após a vacinação completa dos professores, mas nada certo ainda.
A grande questão é como se dará esse retorno, se conseguirão todos os equipamentos necessários, proporcionando um retorno seguro para todos e se conseguirão mantê-los.
Cabe ao governo estabelecer uma volta segura e tentar manter esses alunos nas escolas, pois devido a tudo isso, a falta de internet e equipamentos para acessar as aulas online, a grande tendência é a evasão escolar.
Os alunos das escolas públicas, foram, sem dúvidas, os mais prejudicados com tudo que aconteceu e vem acontecendo devido a pandemia do Coronavírus.
A Unesco fez estudos sobre todo o impacto que a educação sofreu e está sofrendo por tudo que vem acontecendo e fez um relatório sobre a América Latina que apontou que só em 2030 os alunos brasileiros e de outros países da América Latina, devem voltar para o nível de aprendizagem em que estavam antes da pandemia.
Nesse mesmo estudo, mostra que crianças das famílias mais ricas de alguns países, têm cinco vezes mais chances de terminar o ensino superior em relação as mais pobres.
Ou seja, um prejuízo de uma vida que esses alunos estão tendo. Evidenciando cada vez mais a desigualdade social existente no Brasil e em outros países.
Infelizmente, esses alunos levarão anos para recuperar a aprendizagem, até então perdida.
O que se pode fazer para amenizar um pouco a situação é continuar o trabalho que está sendo feito, não parar e buscar alternativas para não deixar os alunos desistirem.
Além do governo tomar medidas rápidas e assertivas para garantir o direito ao acesso à educação, pois as crianças não estão tendo esse direito garantido;
Pais continuarem fazendo o que estão fazendo em casa com seus filhos, ajudando nas aulas online e estimulando sempre, por mais que seja difícil, não desista;
Escolas e professores já estão fazendo e precisam continuar fazendo o possível para levar um ensino de qualidade para seus alunos, mesmo sendo difícil e tendo trabalho até três vezes mais do que teriam se estivessem em sala de aula na escola.
O que não se pode fazer, em hipótese alguma, é desistir, deixar os alunos pensarem em desistir ou que não são capazes, por mais dolorido e difícil que seja, todos são responsáveis por esses alunos e pelo futuro que cada um terá.
Pais, cobre medidas do governo, apoie seu filho, não o deixe desistir.
Professor, apoie seu aluno, incentive-o a querer estudar e aprender, diga que está ali para tudo que precisar e que jamais desistirá dele.
É o que seu aluno, seu filho mais precisam ouvir e sentir nesse momento.
Nesse texto, compartilhei a realidade da Educação do Estado de Goiás. Agora quero saber.
Como está o seu estado?
Em agosto, terá possibilidade de retornar as aulas presenciais?
Por Erica Lacerda
Capa: FreePik