A alfabetização é uma fase importante na vida de cada um de nós. Ao aprender a ler conhecimentos um novo mundo e temos acesso a uma infinidade de informações. Nesse texto abordaremos os desafios e descobertas para as crianças com surdez
Quem não se lembra de quando ficávamos felizes ao aprender a escrever o nosso nome. Ou ainda, quem já viu uma criança orgulhosa ao encontrar letras do seu nome pela rua ou conseguir ler uma palavra no livro.
Essa é a magia da alfabetização. É gratificante para o professor ver o desenvolvimento da criança que chega com pouco conhecimento das letras e ao final do ano a sabe ler e escrever.
No entanto alfabetizar uma criança não é tarefa fácil, cada criança tem um tempo de aprendizagem, um estilo e exige da professora e dos pais um acompanhamento e uso de diversas estratégias para a compreensão dessa criança.
Muitas dificuldades podem surgir pelo caminho e é necessário a família e educadores terem um olhar atento para cada um desses obstáculos para o melhor desempenho do aluno nesse processo de alfabetização.
Uma reflexão sobre alfabetização
Nesse período de volta as aulas surgem nos educadores e crianças um misto de emoções, em especial dessas que irão passar pelo desafio da alfabetização. O que pode gerar ansiedade e irritabilidade, motivação ou desmotivação, a depender da forma como será trabalhada.
Para as crianças com surdez esse período é ainda mais desafiador, mas por que?
Antes de entender isso, precisamos entender o que é a alfabetização. A alfabetização é um processo de construção do funcionamento e das regras do sistema alfabético de escrita.
Quanto a dificuldade de alfabetizar crianças com surdez se dá primeiramente, pois muitas estruturas do português só fazem sentido na cultura ouvinte, como por exemplo os fonemas e acentuações. Por isso demandam um grande esforço dos alunos para compreenderem e a utilização de novas estratégias por parte dos educadores para melhor explicar esse conteúdo.
As crianças com surdez, em sua grande maioria, são bilingues, pois a Lingua Brasileira de sinais (Libras) é a modalidade que utilizam para se comunicar e na modalidade escrita a Língua Portuguesa. Nesse sentido a Libras é uma língua, assim como português e inglês. E assim tem uma estrutura própria diferente do português.
Por exemplo, você já deve ter reparado que em inglês a ordem da frase se modifica, se acrescenta ou suprime algumas palavras e da mesma forma ocorre em Libras. Na língua de Sinais Brasileira a uma lógica própria, uma estrutura e gramatica especifica daquela língua.
Para deixar um pouco mais claro vou pegar um vídeo do app StorySign, esse app faz a leitura de livros infantis para crianças em línguas de sinais com o uso de inteligência artificial e de realidade aumentada. É uma ótima alternativa para educadores deixarem a aula mais dinâmica e lúdica no processo de alfabetização. Veja:
Perceba que o avatar lê as palavras em uma ordem diferente da que está escrita, a assim é feta a sinalização.
Ao se interpretar em Libras um texto ou uma fala para pessoas com surdez, não se interpreta palavra por palavra. Quando a interpretação é dessa forma denominamos de português sinalizado e é complicado para a criança entender.
É necessário entender a estrutura dita em português e transpor para a Libras, respeitando o contexto, a estrutura da língua, a compreensão das pessoas com surdez que iram receber aquela mensagem interpretada e aquilo dito pelo interlocutor.
No próximo texto poderemos falar mais sobre a função do interprete e seu papel.
Sobre a alfabetização de crianças surdas, ao ensinar é importante entender que o aluno é usuário de uma outra língua diferente daquela escrita e seu processo de aprendizagem precisa ser respeitado.
Em muitos casos, devido à demora ao inseri-la em um código linguístico, a criança com surdez está aprendendo a Libras no mesmo momento que é alfabetizada, o que pode gerar ainda mais confusão.
Os educadores precisam dar uma especial atenção para esse processo de alfabetização. Analfabetismo traz consequências graves sentidas em toda a vida da criança.
A criança que não foi alfabetizada passa a ter pouco acesso à informação, pois muitas delas estão em texto, como por exemplo a de nosso blog.
Com baixo acesso à informação ela fica com pouco repertório para lidar com situações novas, reduz a capacidade de inclusão social e a empregabilidade. Pode ainda gerar sérios prejuízos n campo psicológico como a desmotivação, prejuízos na autoestima, o que pode colaborar para a ansiedade e sentimentos de tristeza e vergonha.
Esse quadro, gerado pela não alfabetização, pode ser ainda mais grave quando se trata de crianças com surdez, pois ainda existe muito conteúdo de forma auditiva, o que se torna uma alternativa para minimizar esses prejuízos ditos anteriormente. Já em Libras existe pouco conteúdo.
É necessário a ampliação do conteúdo disponível em Libras, a acessibilidade é essencial para mudar esse cenário e promover cada vez mais a inclusão social de crianças e adultos com surdez.
Um outro ponto é a capacitação de professores para a alfabetização de crianças com surdez, compreendendo suas nuances e instrumentalizando-os de estratégias para esse ensino tão importante. Os educadores devem saber Libras para facilitar o ensino dessas crianças.
Mas como alfabetizar uma criança com surdez?
Como dito em textos anteriores o uso do visual é um grande instrumento para o ensino de crianças com surdez, trazer para o campo visual junto com o uso da Libras será o que facilitará seu aprendizado.
A própria estrutura da Libras é visual, ela transforma a informação em algo mais próximo do que podemos compreender pelos olhos.
Um outro ponto é o uso de brincadeiras, as crianças aprendem brincando. De uma forma leve e divertia é possível estimula-la. E as crianças com surdez não são diferentes, você pode ver um pouco mais sobre isso nesse texto…
Enfim, ao ensinar uma criança precisamos compreender que aquela língua não é aquela que ela utilizar, trata-se de uma nova que ele está descobrindo. E transformar esse momento de descoberta um momento leve, tranquilo com brincadeiras. A alfabetização de crianças com surdez é um grande desafio.
Por Caroline Nunes
Foto Capa: G1.com