O TEA tem suas particularidades, por isso, muito tem se falado do Transtorno do Espectro Autista, mas ainda é preciso ampliar a visibilidade para o TEA, no que diz respeito a conscientização, informação e inclusão.
Transtorno do Espectro Autista (TEA), um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta diretamente a interação social, comunicação e comportamento.
O termo Transtorno do Espectro Autista, passou a ser usado a partir de 2013, com a nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5).
Foram denominados quatro diagnósticos para o TEA: Autismo, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Global do Desenvolvimento não Especificação e Síndrome de Asperger.
Desta forma o DSM-V passa a englobar as subcategorias em um único diagnóstico, titulando Transtorno do Espectro Autista – TEA.
Na atual Classificação Internacional de Doenças (CID-11), o termo autismo também está atualizado, tendo como nome TEA.
O autismo não se resume a uma única condição, o termo espectro autista é utilizado para englobar os diversos graus de comprometimento.
Alguns indivíduos com TEA são dependentes de cuidados, outros são capazes de se manterem independentes, podendo estar inserido em uma rotina de trabalho e estudos.
O grau de comprometimento pode ser considerado leve, moderado ou grave, dependendo da necessidade e suporte. Nível 1: Leve (necessita de pouco suporte); Nível 2: moderado (necessitam de suporte); Nível 3: severo (necessitam de maior suporte/apoio).
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) atinge uma em cada 160 crianças.
Sinais de autismo em crianças
- Não manter contato visual por mais de 2 segundos;
- Não atender quando chamado pelo nome;
- Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;
- Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
- Não brincar com brinquedos de forma convencional e alinhar objetos;
- Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
- Não falar ou não fazer gestos para mostrar algo;
- Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);
- Não compartilhar seus interesses e atenção, apontando para algo ou não olhar quando apontamos algo;
- Girar objetos sem uma função aparente;
- Interesse restrito ou hiperfoco;
- Não imitar, não brincar de faz-de-conta.
Na atualidade, mesmo com todos os avanços e estudos genéticos em relação ao Autismo, as bases genéticas associadas aos fenótipos ainda permanecem desconhecidas devido à grande diversidade genética e fenotípica que envolve essa condição.
O TEA não é visto como uma doença atrelada a um único gene, mas sim um transtorno complexo, resultado de variações genéticas simultâneas em múltiplos genes, junto com uma complexa interação genética, epigenética e fatores ambientais.
A hipótese é que fatores ambientais que tenham impacto no desenvolvimento do feto, como stress, infecções, exposição a substâncias químicas tóxicas, complicações durante a gravidez, desequilíbrios metabólicos podem estar ligados no desenvolvimento do autismo.
Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais ultrapassem o limite de suas capacidades, consideradas esperadas para cada fase do desenvolvimento.
Diante da complexidade do Autismo, uma coisa é certa, quanto mais conhecimento, menor será o preconceito.
Buscar compreender o transtorno é um passo fundamental para ajudar as pessoas que apresentam esse transtorno, em qualquer faixa etária.
A necessidade de conhecimento e entendimento do TEA se dá em todos os ambientes, família, escolas, igrejas, comunidade, ambientes de lazer, ou seja, em todo e qualquer espaço, quanto mais empatia e conhecimento, mais se inclui a criança, adolescente ou adulto com TEA, pois todos merecem e precisam de seus direitos e deveres colocados em prática.
A importância do diagnóstico precoce
A busca pelo diagnóstico nem sempre se dá de forma simples e rápida, muitas vezes os pais e responsáveis enfrentam dificuldades, seja por falta de informação, medo ou resistência.
Muitos pais tem dificuldade de aceitar um possível diagnóstico, com isso, podem demorar na busca de acompanhamento profissional adequado.
A investigação para o diagnóstico do autismo é clínica, realizada através de observação do comportamento e de entrevistas com os pais ou responsáveis.
Os déficits podem ser percebidos desde muito cedo, nos primeiros anos de vida, mesmo que esses sinais sejam sutis, desta forma a observação é a melhor forma de identificar comportamentos atípicos.
Na atualidade, o acompanhamento para investigação do TEA pode ser observado desde muito cedo, tem dados que traz a consulta pediátrica nos primeiros meses de vida, como um ponto de fundamental importância no diagnóstico precoce.
De acordo com estudos, os sintomas costumam estar presentes antes dos 3 anos de idade, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses de idade.
O diagnóstico precoce e tratamentos multidisciplinares é o ponto central, para que as potencialidades dessas crianças sejam alcançadas ao máximo.
Cabe aos profissionais realizar uma avaliação adequada e individualizada, visto que o diagnóstico e tratamento precoce, aliados a educação especial e inclusão são fundamentais para melhor desenvolvimento da criança com TEA.
Embora não tenha cura, pode ser tratado de inúmeras formas, para as crianças com autismo, a terapia mais recomendada é a Terapia comportamental ABA e Terapia Cognitivo Comportamental.
Um tratamento multidisciplinar é o mais eficaz, com acompanhamentos, incluindo atuação de diversos profissionais como psiquiatra, neurologista, fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia, terapia ocupacional, entre outros.
É fundamental a orientação e capacitação dos pais e responsáveis, eles precisam desse suporte, promovendo o conhecimento e apoio diante da complexidade que é o transtorno.
Os acompanhamentos adequados para o autista e família, contribuem para que estes consigam ampliar sua capacidade de aprendizado, comunicação e relacionamento, melhorando a qualidade de vida.
Os pais vão trabalhar com seu filho no dia-a-dia, buscando autonomia e desenvolvimento das potencialidades da criança, visto que o tratamento não se dá só dentro dos consultórios.
O Transtorno do Espectro Autista, trata-se de um transtorno permanente, não havendo cura.
O quadro do TEA tem possibilidades de melhora, sendo possível uma evolução significativa de padrões de comportamento e suavizar os sintomas, dependendo do grau apresentado.
Leis
Em de 8 de janeiro de 2020, foi da sancionada a lei 13.977 conhecida por Lei Romeo Mion, que instituiu a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea).
A carteira pode ser expedida gratuitamente pelos órgãos responsáveis pela execução da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Para obtenção da carteira, a família deve apresentar um requerimento acompanhado de relatório médico com a indicação do código da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).
A Ciptea deve assegurar aos portadores atenção integral, rápido atendimento e prioridade, assim como o acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.
A carteirinha tem validade de 5 anos e facilita a identificação de pessoas com TEA, além de auxiliar na hora de exigir os direitos das pessoas autistas.
A nova lei também determina a garantia de vagas em escolas para crianças com TEA e a obrigatoriedade de cinemas oferecerem mensalmente sessões específicas para pessoas com TEA.
No estado de são Paulo foi incluído o símbolo do autismo nos assentos preferencial dos ônibus, instituído pela lei Estadual nº 16.756, de junho de 2018, que torna obrigatória a inserção do símbolo do Transtorno do Espectro Autista (TEA) na indicação de grupos preferenciais em estabelecimentos públicos e privados que disponham de atendimento prioritário.
Os estabelecimentos públicos ou privados engajados na divulgação poderão exibir a fita quebra-cabeça, que é o símbolo mundial do transtorno do aspecto autista, para sinalizar a prioridade de atendimento.
Descubra a Lei na integra no artigo da advogada Talita Verônica [1].
Movimentos de Conscientização do Autismo
Dia Mundial da Consciência do Autismo, 2 de abril
A ONU (Organização das Nações Unidas), em 2007, definiu todo 2 de abril como sendo o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
Na data, diversos cartões-postais ao redor do mundo são iluminados de azul, para lembrar a data e chamar a atenção da mídia e da sociedade para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Durante todo mês de abril acontece a campanha Abril Azul, que busca trazer visibilidade para o Autismo, como forma de mobilizar a sociedade sobre essa condição ainda desconhecida e discriminada por muitos.
Transtorno do Espectro Autista é representado por peças de quebra cabeça e a cor azul, mas será que todos sabem o que significa essas características?
A cor azul – representa a maior incidência de casos no sexo masculino.
A peça de quebra cabeça – representa a complexidade e diversidade do autismo e seus diferentes espectros que se encaixam formando o TEA.
Dia do Orgulho Autista: 18 de junho
O dia 18 de junho é o Dia do Orgulho Autista (simbolizado pelo infinito nas cores do espectro do arco-íris), considerando o autismo como identidade, uma característica da pessoa.
Caminhada pelo Autismo
Em abril, aconteceria a Caminhada pela Conscientização do Autismo, na Avenida Paulista. Em comemoração ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A caminhada comemoraria sua 4ª edição em 2020, o evento foi adianto devido a pandemia.
Em 2019, autistas, pais, parentes e profissionais somaram 10 mil pessoas no evento. Este evento visa a conscientizar a sociedade e chamar atenção da mídia para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que deve atingir cerca de 2 milhões de brasileiros, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Salas de cinema adaptadas “Sessão Azul”
Eventos adaptados para crianças com TEA e distúrbios sensoriais e para famílias, durante toda a exibição do filme, a sala de cinema ficará com as luzes acesas, o som mais baixo e a plateia poderá andar, dançar, gritar ou cantar à vontade.
Com todas as adaptações necessárias para melhor acomodar esse público.
Os filmes exibidos nas sessões são escolhidos pelo público na semana anterior à data de exibição através de enquete no site da Sessão Azul.
O objetivo principal da Sessão Azul é auxiliar as crianças na adaptação ao ambiente do cinema e orientar as famílias.
Laço colorido de quebra-cabeça nas placas de sinalização
Em dezembro de 2019, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei que determina a inclusão do símbolo internacional do Transtorno do Espectro Autista em placas de supermercados, bancos, restaurantes, farmácias e demais estabelecimentos comerciais de São Paulo.
O laço nesses ambientes significa que naquele ambiente a pessoa com autismo tem prioridade no atendimento.
Todas essas iniciativas citadas, servem para que a sociedade reconheça, inclua e respeite as necessidades das pessoas com Transtorno do Espectro Autista.
Não é raro encontrar pessoas que não entendem que as crianças com TEA não sofrem de uma doença.
Dessa forma vale lembrar, que crianças com TEA não sofrem de uma doença, apenas tem desenvolvimento diferente das outras.
O autismo é uma forma diferente de pensar e enxergar o mundo.
Que famílias, profissionais e a sociedade em geral busquem cada vez mais entender, compreender, incluir e conscientiza-se do seu papel na construção de um lugar melhorar para todos os autistas.
Precisamos combater preconceitos e barreiras colocadas a respeito do autismo.
Com diagnóstico precoce e acompanhamento adequado, todo autista é capaz de aprender e evoluir dentro de suas potencialidades.
Por Ilma Paula de Almeida Leite
Capa: Pixabay