A Tão Sonhada Paciência

A tão sonhada paciência que queremos em nossas crianças!

Onde Será Que Ela se Escondeu?

“A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência” Lenine

Logo antes da divulgação e postagem do texto sobre Mindfulness aqui no site, realizamos uma enquete na página do Descobrindo Crianças no Instagram e nos assustamos com a quantidade de pais que responderam à enquete de forma afirmativa, relatando que percebiam ansiedade e impaciência em seus filhos.

Resolvemos falar um pouco mais sobre a paciência, inclusive com algumas dicas de como incentivá-la em seus filhos, mesmo dentro de um mundo tão agitado e ansioso.

Resolvemos auxiliar a todos vocês, que tem contato com as crianças da geração atual a descobrir onde está escondida a tão sonhada paciência que exigimos deles no dia-a-dia.

E começamos abordando e refletindo desde lá do comecinho da jornada, com a chegada de um bebê, tão fofinho, indefeso e dependente e o que ele provoca nos adultos que os recebem.

Quando se olha para um bebê que acabou de nascer e percebe-se nele todo potencial de vida que está contido ali naquele ser tão pequeno, logo sente-se o afeto, o amor e uma iniciativa instintiva de cuidar, de proteger, de conduzir e guiar.

Mas depois, ao longo da vida, eles crescem e envoltos às obrigações do dia-a-dia e de todas as demandas que a vida impõe e a praticidade de outras alternativas que acabam surgindo, muitas vezes, acaba-se por fazer algo muito distante do que inicialmente havia sido sentido.

Imersos em situações desafiadoras do dia-a-dia, nos esquecemos que a conexão, a paciência e o tempo dedicado às crianças, ocorrem em coisas tão simples, como um abraço, um carinho, um colo, uma conversa, uma referência de segurança de que nossos filhos podem contar conosco e que estaremos por lá sempre que precisarem de nós.

Os adultos que conduzem as crianças começam a correr, de um local a outro, envoltos em tantos compromissos, afazeres, prazos, metas e a tranquilidade inicial do tempo e da conexão, acabam ficando perdidos em meio ao caos.

Exigimos paciência, dos outros no trânsito, em filas, nos nossos prazos e metas, dos nossos filhos, mas não conseguimos nós mesmos, ensiná-los o que é ser paciente e como colocá-la em prática.

Quando falamos de crianças, falamos de controle inibitório (parte do cérebro responsável pelo controle do nosso impulso) ainda em maturação.

Hoje a neurociência nos mostra que a região do cérebro que controla funções executivas (nossas funções de planejamento, atenção, concentração, flexibilidade cognitiva, controle inibitório e organização) só completa seu processo maturacional por volta de 24 anos de idade.

Portanto, como exigir que uma criança com seu sistema de controle de impulsos ainda imaturo consiga esperar, planejar o melhor momento para fazer um pedido e aguardar pacientemente em filas, mercados, restaurantes e de preferência, sentadas e felizes, enquanto nós os adultos, realizamos nossas tarefas?

E muitas dessas tarefas ainda são chatas e enfadonhas para as crianças, não proporcionando ativação do sistema dopaminérgico (sistema de recompensa cerebral).

Você adulto que está lendo esse texto, pense comigo e responda: Você considera prazeroso ficar esperando a fila do supermercado? Ou a comida chegar no restaurante? Ou aguardar em uma sala de espera de um consultório?

Se você, adulto, com o seu cérebro e a região que regula as funções executivas já amadurecida, provavelmente, respondeu não a todas as perguntas anteriores, agora, tente pensar com o cérebro de uma criança, ainda em maturação, sem ter nada de legal para fazer enquanto espera e ainda por cima, em ambientes diferentes e repletos de muitos estímulos.

O que será mais provável que aconteça? Que ela fique sentada tranquilamente ou que ela pergunte a você (umas 400 mil vezes…rs) se vai demorar, se a comida já vem, que ela se levante, que queira correr, explorar, mexer nas coisas?

Estamos abordando todas essas questões aqui para que vocês, adultos, entendam que é próprio da criança não conseguir esperar.

Crianças são seres dinâmicos, curiosos, atentos e agitados por natureza e é importante que seja assim, pois estão em fase de aprendizado, de descoberta, de maturação.

Crianças não nascem sabendo esperar!!!

E nem poderia ser diferente, pois quando nascem e são recém-nascidos, precisam ter suas necessidades básicas satisfeitas de forma imediata, inclusive de forma a garantir a sua sobrevivência.

A tarefa de ensinar paciência a elas é dos pais, dos cuidadores e educadores, todos aqueles que convivem com ela.

É preciso que os adultos ensinem que a paciência é importante!!

Pois é preciso paciência para esperar o tempo do outro, especialmente da criança que tem seu tempo de aprendizado, de maturidade, de evolução de forma única e muito individual.

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É preciso paciência para se conectar, para olhar nos olhos, escutar ativamente a fala do outro, é preciso paciência para escutar como foi o dia do seu filho na escola, para ouvir sobre seus novos amigos e suas dificuldades.

É preciso paciência para esperar, para crescer uma flor, para amadurecer uma fruta, para crescer a criança, a infância, o broto.

É preciso paciência para conseguir respirar e ouvir os sons da natureza e ensinar as crianças a ouvir também, a acompanhar a tranquilidade de um pássaro, o processo lento de crescimento de uma árvore e de abertura de uma flor em botão.

É preciso paciência para que a criança leia e escreva, para que ela aprenda, para responder seus questionamentos, suas dúvidas e acolher suas descobertas.

Crianças pedem paciência o tempo todo, das mais diversas formas, esperam esse aprendizado de nós, os adultos.

Esperam que nós os ensinemos a caminhar sabendo que podem parar de tempos em tempos para respirar e pensar antes de realizar alguma tarefa.

Mas como posso auxiliar meu filho a ser mais paciente nesse dia-a-dia tão caótico e agitado?

Seguem algumas dicas que podem auxiliar, mas a melhor delas e a mais imprescindível e que sempre abordamos por aqui é:

SEU PRÓPRIO EXEMPLO COMO PAI, MÃE, CUIDADOR OU PROFESSOR.

De nada adianta colocar em prática todas as nossas dicas e na rotina, com as crianças apressá-las por falta de planejamento, não organizar os horários, antecipar presentes fora das datas comemorativas, correr, provocar discussões com outros adultos por falta de paciência e tolerância, apresentar comportamento impaciente nas mais diversas situações, como trânsito, filas, salas de espera, etc.

Lembrando sempre disso tudo acima, vamos às dicas??

– Não atenda os desejos da criança de forma imediata em todos os momentos, ainda que isso seja possível em determinada situação. Proporcione momentos de espera sempre que possível;

– Não antecipe os presentes de Natal, aniversário ou de qualquer outra data;

– Pratique vivências nas quais a criança possa exercitar a paciência e a espera, como fazer algo na cozinha, esperar o cupcake crescer ou esfriar para comer. Faça algo que possa ser experimentado somente junto com uma visita que chegará, por exemplo;

– Procure realizar tarefas em que as crianças possam acompanhar o crescimento ou desenvolvimento de algo que possa ser lento e progressivo, como jardinagem, quebra-cabeças, artesanatos diversos;

– Faça com que a criança acompanhe a demora da transformação de várias possibilidades, principalmente na natureza;

– Faça calendários das estações do ano, marque em um calendário os dias para determinados eventos ou situações e vá acompanhando com ela;

– Plante flores ou algo que seja do interesse da criança e conte o tempo através de calendários, do quanto a planta demora a florescer;

 – Faça mais brincadeiras de construir e de montar. Estabeleça os passos, combine o que fazer em cada dia e exercite o treino da espera pela conclusão em outros dias;

– Fique menos restrito à tecnologia que possibilita muita rapidez e velocidade em quase todas as situações;

– Não apresse a criança pela sua falta de tempo ou pela sua desorganização;

– Programa-se para acordar mais cedo, para realizar as atividades de forma antecipada e para possibilitar à criança a oportunidade de tomar seu café da manhã ou fazer as refeições de forma tranquila, e vestir-se com calma, por exemplo;

– Ao fazer compras de frutas, compre algumas mais verdes e proporcione a espera pelo amadurecimento junto com a criança;

– Jogue jogos em conjunto, para que a criança tenha que esperar a vez do amigo, dos pais, etc.

Enfim, proporcione situações de espera…toda espera é exercício de paciência em ação!

Vamos tentar!! Depois nos conte onde vocês tiveram maior facilidade ou dificuldade!!

Boa sorte nas novas descobertas da paciência com as crianças!!

Por Renata Lela

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Foto Capa: Freepik

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