O que um recém-nascido precisa?
Nascer é uma das maiores experiências pela qual o ser humano passa.
O bebê sai de um ambiente líquido, confortável, onde tem tudo o que precisa para outro completamente diferente e passa a depender de um adulto para suprir suas necessidades.
Maria Montessori, médica e pedagoga italiana, em seu livro “A Criança”, de 1936, classifica o nascimento como:
“uma passagem traumatizante” uma vez que “em nenhuma outra época da vida o homem enfrenta semelhante ocasião de luta e contraste, bem como de sofrimento”.
Ainda nesse livro, Montessori propõe uma reflexão bastante interessante: a mãe que acabou de dar à luz está cansada, muitas vezes exausta após longas horas em trabalho de parto. Para a mãe, silêncio, repouso. E para o bebê?
Se traçarmos um paralelo entre os cuidados dispensados à criança e os dedicados à mãe, e imaginarmos o que seria para a mãe receber o mesmo tratamento que o recém-nascido, o erro que cometemos tornar-se-ia mais evidente (Montessori, 1936, p. 36).
Roupas lindas, compradas especialmente para esse momento, porém que nem de longe são confortáveis para alguém que talvez nem precise disso. Vestidos, babados, roupas que apertam, faixa na cabeça.
Vale a pena antecipar o Nascimento do bebê?
Um recém-nascido precisa de roupas confortáveis. Montessori até defende a ideia de ambientes aquecidos o suficiente para que o bebê permaneça sem roupas. Para ela, quem aquece o bebê é o ambiente e não as roupas.
A criança deveria permanecer nua, como a representa a arte. Os anjos são pintados ou esculpidos nus e, no presépio, a Virgem Maria adora a Criança Divina nua e assim a toma nos braços (Montessori, 1936, p. 33).
E as luvas?
Acredita-se que as luvas protegem a criança, principalmente do frio e de unhas compridas que podem arranhar. Porém, ao colocarmos uma luva num bebê, tiramos dele a possibilidade de começar a explorar o mundo através do tato.
Além disso, a maternidade vira uma verdadeira festa. Entra e sai de pessoas, barulho, exposição.
E o que o bebê quer?
Silêncio, ouvir a voz da mãe e do pai, leite materno, pouca luz e colo, muito colo. Mas, colo de verdade, não de cadeirinhas que balançam e prometem acalmar o bebê, tocando músicas e embalando.
“Não damos atenção à um recém-nascido: para nós, ele não é um homem. Quando chega ao nosso mundo, não sabemos receber, embora o mundo que o criamos seja lhe seja destinado, a fim de que ele dê continuidade e o faça avançar no sentido de um progresso superior ao nosso (Montessori, 1936, p.37).
Montessori diz que “na verdade, o luxo para os recém-nascidos demonstra a total ausência de consideração pela criança psíquica”.
Poucas coisas são necessárias para o processo de adaptação do recém-nascido e tudo está ao nosso alcance.
Portanto, precisamos nos preocupar menos com as aparências e mais com as reais necessidades de um bebê.
Fisioterapeuta Fernanda Alves
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