Novembro é um mês dedicado aos prematuros, mas precisamente ao tema prematuridade.
Quem acompanha as redes sociais já deve ter visto diversas postagens referentes sobre o novembro roxo e ao dia mundial da prematuridade, que é comemorado no dia 17 de novembro. Essa data foi criada pela ONU como uma forma de sensibilizar as pessoas sobre o assunto.
A prematuridade é um assunto que deve ser objeto de estudo dos profissionais tanto da saúde quanto da educação.
As causas de um parto prematuro são inúmeras e muitas vezes indeterminadas. Portanto, realizar o pré-natal é um dos fatores de prevenção dos índices de prematuridade. Com isso, é possível perceber intercorrências durante a gestação, como descolamento de placenta, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, além de malformações congênitas. Manter hábitos de vida saudáveis, mesmo antes de engravidar, também auxilia bastante na saúde, tanto da criança quanto da mãe.
A mortalidade dos bebês nascidos antes do tempo caiu bastante nos últimos anos, com todo o suporte tecnológico e farmacológico. Porém, o número de complicações agudas (logo depois do nascimento) e tardias (que podem surgir nos primeiros anos de vida) ainda é muito alto. Garantir a sobrevivência dos bebês nem sempre implica em qualidade de vida, quando não existe acompanhamento adequado.
Com 28 semanas de gestação chega ao fim o período embrionário, ou seja, de formação do bebê. A partir daí começa a fase fetal. O bebê está pronto, porém ainda imaturo para o nascimento e a vida intra-útero permite o desenvolvimento adequado. Qualquer intercorrência nesse período pode provocar alterações no desenvolvimento infantil. E é nesse intervalo que acontecem os partos prematuros, interrompendo esse processo de desenvolvimento.
10 a 15% dos prematuros graves apresentam problemas neurológicos ou sensoriais como Paralisia Cerebral, surdez ou cegueira. E 30 a 60% dos casos de prematuridade apresentam alterações mais leves, como pequenos déficits cognitivos, atraso no desenvolvimento psicomotor e de linguagem e até alguns transtornos afetivos.
Hoje, há inúmeros estudos de casos e publicações científicas que correlacionam a prematuridade com os transtornos de neurodesenvolvimento, como o TDAH (Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) e o TA (Transtorno de aprendizagem). Geralmente, são percebidos quando a criança já está na escola, principalmente na fase de alfabetização. O TEA (Transtorno do Espectro Autista) também tem como fator de risco a prematuridade.
Portanto, se o bebê não recebe atenção necessária de uma equipe mulstidisciplinar (e a escola também deve ter esse olhar mais apurado), os problemas do neurodesenvolvimento podem se agravar. É um grande erro achar que a alta hospitalar, mesmo após um curto período, é o fim dos efeitos da prematuridade. Na verdade, a ida para casa é apenas uma nova fase da vida dessa criança e de sua família.
A Intervenção Precoce (ou estimulação precoce) é um programa essencial para a garantia do pleno desenvolvimento do bebê prematuro. Todas as crianças que nascem antes de 37 semanas devem ser encaminhadas para esse tipo de serviço. Além de minimizar as sequelas, a intervenção precoce potencializa as capacidades motoras, cognitivas, sociais e emocionais da criança e pode detectar precocemente qualquer alteração no desenvolvimento.
Muitas crianças ganham alta em torno dos 3 anos de idade, quando completam as principais etapas motoras. Mas, o ideal é continuar o acompanhamento até a fase escolar, quando podem apresentar problemas no comportamento ou até dificuldades de aprendizagem.
O desenvolvimento de uma criança é resultado de múltiplos fatores. O biológico interfere bastante, mas não determina o futuro desse sujeito. Nosso cérebro tem uma capacidade incrível de se adaptar à modificações. Isso chama-se plasticidade cerebral. Nós, adultos, não perdemos essa capacidade, mas especialmente nas crianças de 0 a 3 anos o cérebro consegue se readaptar mais rapidamente.
Às vezes, o prognóstico de um bebê prematuro é muito sombrio, cheio de complicações e incertezas. Contudo, além de uma programa de Intervenção Precoce, se a família promover um ambiente rico (mas não excessivo) em estímulos e, principalmente acreditar que aquela criança tão frágil é capaz de superar as dificuldades, certamente a vitória virá.
Por Fernanda Alves
Leia também: Quando a criança dorme no bebê conforto