Hoje, a maior demanda de pacientes que recebo no consultório de Neurologia Infantil são crianças apresentando prejuízos sociais e/ou acadêmicos. Na sua grande maioria, é detectada uma discrepância entre o desenvolvimento cognitivo e o comportamental, ou seja, são crianças extremamente inteligentes, mas muito imaturas na forma de manifestar as suas emoções, levando a comportamentos inadequados para a faixa etária. Uma vez resolvida essa diferença, o desenvolvimento ocorre de forma surpreendente, em um curto período de tempo.
O que mais sinto falta é o mínimo de senso de responsabilidade das crianças. Enquanto os adultos acumulam dezenas de compromissos e responsabilidades, parece que ir à escola é única obrigação de crianças e adolescentes, nos dias atuais. É um erro pensarmos que o único compromisso da criança ou do adolescente é estudar. Afinal, quem na vida é responsável apenas por uma única coisa? A responsabilidade é algo que deve ser ensinada desde cedo. Portanto, antes mesmo de iniciar a vida escolar, os pais podem começar a dar noções de responsabilidade para a criança.
Mas afinal, como ensinar para mentes tão pueris sobre algo tão complexo como o senso de responsabilidade?
A responsabilidade deve ser inserida de forma gradativa, começando com o ensinamento e a cobrança de pequenas ações. Os atos de responsabilidade aumentam à medida que a criança cresce, sempre usando o bom senso e a boa vontade.
Uma das primeiras responsabilidades a ser estimulada é o autocuidado. A criança tem que se responsabilizar primeiro por interesses próprios, depois pelos interesses dos seus pares e do que for compartilhado no ambiente comum. Guardar os próprios brinquedos é um excelente começo e pode ser feito antes mesmo dos dois anos. Uma forma de fazê-lo é iniciar a atividade com a criança verbalizando que vai ajudá-la. A atividade pode virar uma brincadeira, um jogo ou até uma troca.
Outro exemplo de responsabilidade ensinada por meio do autocuidado é a higiene pessoal. Ações como: escovar os dentes, lavar as mãos antes das refeições, colocar sua própria roupa suja no cesto ou passar um pano no chão para secar o que acabou de molhar ajudam a criança a assumir as suas escolhas, os seus atos, desde pequena.
Por volta dos quatro anos, a criança pode ajudar nas tarefas de casa, como regar uma planta, alimentar um animal de estimação, recolher o lixo, ou seja, cuidar de si, cuidar do outro, cuidar do ambiente, dos objetos e assim por diante. Essas ações trazem autonomia e possibilidades de escolha, tomada de decisão, fatores que contribuem substancialmente para o aprendizado da responsabilidade.
Crianças na fase escolar podem começar a separar o seu uniforme e organizar material escolar na véspera das aulas com a supervisão de um responsável, inicialmente, para não esquecer nada.
A supervisão do adulto se distancia à medida que a criança já realiza as atividades de sua responsabilidade com autonomia e segurança. Devemos lembrar que distrair-se com facilidade pode fazer parte do desenvolvimento infantil até os 7-8 anos de idade. A partir dos 10 ou 11 anos, a criança pode ficar responsável pelo seu horário de acordar e arrumar o lanche escolar, pois tem mais a noção de tempo e de quantidade.
É muito importante conscientizar as crianças e os adolescentes que as atividades são feitas para si e não para o outro, por isso, não é recomendado dar recompensas após a criança ou o jovem realizar uma obrigação. Presentear com brinquedos, viagens ou passeios após a realização de uma responsabilidade, subentende-se que a criança ou adolescente está fazendo algo pelo outro e não por ele mesmo. Se pensarmos bem, o ganho seria duplo.
O que deve ser feito é o que chamamos de reforço positivo, como: elogiar, valorizar todo o esforço com os estudos, organização de tempo e de espaço, lembrando que rotina e disciplina são a garantia de sucesso na vida.
Sabemos que as crianças precisam de referência. Não adianta cobrar o que não se faz. Os pais precisam dar o exemplo. Palavras se perdem ao vento, atitudes não. Sempre digo aos pais dos meus pacientes: “Sua responsabilidade é a de orientar e proteger”. Os pais precisam resgatar a sua autoridade, dar limites, cobrar, mas também lembrar de valorizar os bons comportamentos.
É essencial para o amadurecimento das crianças e para que elas entendam o que é responsabilidade, lembrá-las que onde não há comprometimento, não há crescimento.
Por Karina Weinmann
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