Estímulos Sensoriais: Processamento e Integração

Ao nascermos entramos em contato com o mundo externo por meio de uma infinidade de estímulos sensoriais que recebemos. São sons, luzes, texturas, o contato com a pele da mãe/pai, entre outras sensações, simultaneamente sendo processados pelo cérebro. O cérebro, então, prepara uma resposta para os estímulos recebidos reagindo a eles.

Através dos estímulos sensoriais aprendemos a interagir com as pessoas e com o ambiente em que vivemos. “O corpo processa e integra naturalmente as informações que recebe de todos os sentidos usando áreas do cérebro responsáveis pela atenção, estimulação e emoção” (SANDBERG; MICHELSON, 2017).

Os estímulos são captados pelos órgãos sensoriais (ouvido, língua, pele, nariz e olhos), chegam ao cérebro e depois são devolvidos ao ambiente em forma de reação ou fuga. A reação aos estímulos pode ser adequada, resultando na interação com o meio, ou aversiva, resultando em afastamento do objeto (quando tiramos a mão do fogo, pois sentimos esquentar, por exemplo). É fácil perceber quando um estímulo agrada, ou incomoda, pois, a resposta será a nossa reação a ele.

São muitos os estímulos que recebemos durante o dia. A pele, o maior órgão do nosso corpo, é responsável pela recepção da maioria desses estímulos. Muitas vezes nem percebemos a quantidade de sensações que experimentamos durante o dia. Isso acontece, porque, conforme vamos  desenvolvendo, tornamo-nos capazes de interagir com o meio de modo automático. Assim sendo, quando eu identifico um estímulo que eu não gosto, eu passo a evitar aquele estímulo. Mas imagine uma criança com déficit no processamento sensorial, sendo sensível ao toque de algumas texturas. Dá para imaginar a reação quando ela veste uma roupa com textura da qual ela não suporta sensorialmente: tirar a roupa.

O que acontece no caso de crianças com déficits no processamento sensorial, como no Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Podem apresentar hiper responsividade ou hipo responsividade sensorial. No caso da hiper responsividade, a criança responde mais rapidamente, com mais intensidade e com longa duração ao estímulo. Pode perceber-se essa alteração quando a criança apresenta respostas protetoras ou defensivas frente aos estímulos que lhe pareçam ameaçadores (reação e/ou fuga). Por exemplo, quando a criança tapa os ouvidos por não suportar um ruído.

Já na hipo responsividade, as respostas da criança aos estímulos são mais lentas, fazendo com que ela busque mais estímulos sensoriais para gerar uma resposta. Sabe aquela criança que fica se balançando o tempo todo? Ou aquela que fica girando o mesmo objeto por muito tempo? Essas respostas ocorrem, porque o cérebro não consegue processar adequadamente o estímulo da primeira vez, necessitando de uma carga maior de “excitação” para apresentar uma resposta. E esta nem sempre vem de modo adequado.

Recentemente uma pesquisa realizada por Mark Wallace, diretor do Vanderbilt Brain Institute, no ano de 2014, descobriu-se que resolvendo os déficits do processamento sensorial precocemente em crianças com TEA, há mais chances de observar os benefícios no desenvolvimento da linguagem, comunicação e na interação social. Segundo a pesquisa, as respostas sensoriais são as experiências empíricas mais essenciais à sobrevivência do indivíduo e, por isso, precisam ser exploradas desde o início da vida.

A Terapia de Integração Sensorial é um método que busca tornar as crianças mais “capazes de lidar com informações sensoriais e de regular estimulação, atenção, emoção e comportamentos correspondentes.” (SANDBERG; MICHELSON, 2017). Através de uma sala contendo, por exemplo, balanços, diferentes texturas no chão e nas paredes, a criança tem a possibilidade de experimentar e vivenciar atividades sensoriais, perceptivas e motoras. Nesse tipo de terapia é respeitado o momento da criança, com diversos desafios sensoriais dos quais ela é capaz de vencer antes de avançar para o próximo.

http://descobrindocriancas.com.br/2018/01/04/vinculo-terapeutico-na-terapia-ocupacional/

Não é necessário ter uma sala de integração sensorial toda equipada para proporcionar atividades e um ambiente rico em estímulos sensoriais. Você pode criar esses momentos nas tarefas de rotina do dia-a-dia, como: alterando a temperatura do banho, vestido roupas com diferentes tecidos, proporcionando uma refeição com alimentos de diferentes texturas, ouvindo e cantando músicas que vocês gostem. Aproveite também o momento da brincadeira, deixando seu filho rasgar papel, mexer com tinta guache, areia, pedrinhas, entre outros. O importante é que a criança esteja sob a supervisão de um adulto durante a brincadeira e, principalmente, que ela possa explorar o ambiente no qual ela vive de forma integral.

Sinal de Alerta:

Se ao ler esse texto você identificou que seu filho apresenta alguma das reações descritas como exemplo ou se você perceber reações do seu filho a estímulos sensoriais que lhe pareçam exageradas, procure um médico ou um Terapeuta Ocupacional para uma avaliação. A prevenção é sempre o melhor remédio!

Por Suellen Merencio.

Referência:

SANDBERG, E.H.; SPRITZ, B.L. Terapia de Integração Sensorial. In: ­­­­­­­­­_______. Breve Guia Para o Tratamento do Autismo. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2017, cap. 15.

WALLACE, M.T. et al. Multisensory Temporal Integration in Autism Spectrum Disorders. The Journal of Neuroscience; 15 January 2014; v. 34; n. 3; p. 691-697.

Imagem: Fotografa Keylla Gomes

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