O limite e o NÃO: Uma construção consciente

Como sustentar o NÃO com meus filhos?

Essa é uma pergunta recorrente e vamos lá a mais um texto-resposta:

Penso que até você mãe, ou pai conseguir dizer o não e ser efetivamente respeitado, compreendido, existe um longo caminho a ser construído.

Justamente por não conhecerem ou não se importarem com esses quesitos, alguns pais têm dificuldade em sustentar sua autoridade no momento em que precisam estabelecer limites aos seus filhos. É preciso ampliar o olhar para conseguir compreender essa difícil tarefa.

Vamos entender melhor, então, como é essa “preparação” para alcançar a firmeza e sustentação na colocação de limites.

O NÃO significa limite, e por consequência pode significar frustração. Pode ser difícil para os pais sustentarem as consequências do não. E nesse momento, é preciso firmeza. Atenção: eu disse firmeza, e não força, agressividade e ou violência.

Vamos entender quais são pontos importantes que sustentam essa firmeza necessária para sustentar o NÃO e a sustentar as reações dos filhos quando um limite é colocado e a criança ou adolescente se frustam.

Uma das reações frente à frustração diante de um limite é a birra, ou alguma reação emocional intensa. E muitas vezes, é aí que os pais acabam cedendo, por não conseguirem lidar com os conteúdos emocionais dos filhos, conteúdos esses que desencadeiam reações emocionais nos próprios pais. É a hora que o NÃO vira SIM. Ou que pai ou mãe autoritários demais entram em ação.

É muito importante que os pais conheçam suas emoções e reações emocionais e aprendam a lidar com a raiva, o medo, a vergonha, e mesmo assim sustentar seus valores e decisões em relação ao que querem para seus filhos.

E para sustentar o não e ter firmeza é preciso ter clareza do que se deseja passar aos filhos. É preciso parar para pensar e discutir com o seu parceiro qual é o rumo da educação que querem passar aos filhos.

– Quais são os valores dessa família?

– Quais são as regras de convivência nessa família? O que é permitido e o que não é permitido? O que é negociável e o que não é negociável? Quais são as regras e combinados?

É necessário que essas definições sejam, primeiro, alinhadas entre os pais e responsáveis e depois repassadas, com clareza e objetividade, aos filhos.

Não crie uma lista de 100 regras, que nem você conseguirá cumprir. (Sim! Os seus filhos vão te cobrar igualmente!). Foque naquilo que realmente é importante.

Definam juntos, ouçam os filhos também, negociem e entrem em um acordo em família. Essa clareza é positiva, tantos para os pais quanto para os filhos.

Ter clareza do que é permitido ajuda a criança a entender e assimilar o que não é permitido, daquela forma, naquele momento ou naquela situação específica.

A flexibilidade também é importante. À medida que as crianças crescem elas têm o desejo e o direito de participar da definição e construção dos combinados. Os pais se mantém firmes naquilo que não está em negociação, mas podem ser flexíveis naquilo que pode ser negociado. Por exemplo, a regra, não negociável é tomar banho todos os dias, o combinado negociável, pode ser ter flexibilidade no horário do banho, dependendo do dia da semana, ou da atividade que está acontecendo em determinado momento.

A rigidez constante e o excesso de NÃO dificultam muito que os filhos queiram colaborar.

Uma boa comunicação, onde os pais constroem uma via de mão dupla, em que eles falam, mas também escutam os filhos e conseguem equilibrar as necessidades de todos, ajuda muito que o filho queira colaborar com esses pais que são amorosos, que os escutam e os respeitam e que também colocam limites.

Quando a criança tem a segurança de que é amada, ela pode entender que por trás do não e do limite, tem o amor dos pais. Essa segurança emocional ajuda com que ela consiga suportar e elaborar sua frustração diante de uma vontade não atendida naquele momento.

Içami Tiba, psiquiatra, psicodramatista e autor best-seller em educação de filhos, fala em seu livro “Disciplina: Limite na medida certa”, sobre o método da coerência, constância e consequência.

Vamos então, conhecer um pouco mais dessas três palavrinhas:

Coerência é a base sobre a qual os pais norteiam suas ações. Por exemplo, se a mãe diz não, mas o pai diz sim, os adultos estão sendo incoerentes. Ser coerente é passar para a criança com clareza o que é esperado, e isso não muda toda hora de acordo como “humor” dos pais. Está aí a importância dos pais se alinharem previamente. É importante também checar a coerência das regras e combinados que você cria. Converse com outros pais, com profissionais e com os próprios filhos sobre isso. Busque o equilíbrio.

Constância significa que as regras e combinados não mudam toda hora. São alinhados previamente e apresentados com clareza para os filhos. E precisam ser sustentados sempre, não importa onde, quando e nem por qual motivo. O SIM É SIM. E O NÃO É NÃO. Exemplo: Os pais atender às “birras” quando estão em casa e ninguém está olhando. E esperar que a criança não faça birra no supermercado. Assim os adultos estão sendo inconstantes.

Consequência é um dos ensinamentos mais importantes, pois tudo o que fazemos traz consequências, e a própria pessoa é responsável pelas consequências que suas ações provocam. Desde pequenas as crianças podem começar a aprender que suas escolhas têm consequências. Isso não significa que a criança tem que ser premiada por seus acertos e punida por seus erros.

Muito, além disso.

Os filhos merecem pais conscientes que são amorosos e respeitosos na construção das regras e combinados, são claros e objetivos em demonstrar o que é esperado, são modelos daquilo que é esperado, são firmes para sustentar os limites que garantem sua segurança física e emocional, são empáticos com suas próprias reações emocionais e por isso compreendem e acolhem as emoções dos filhos, são fortes o suficiente para estarem ao lado dos filhos quando eles erram e estão ali para os ensinar a acertar, a fazer o que é esperado e, principalmente, dar aos filhos a permissão e o suporte necessários para que, cada um, seja quem veio ser!



Não faça para seu filho o que ele pode fazer sozinho

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