Ser Mãe Sem Deixar de Ser Você

Ser mãe é como entrar em um reality show sem data de eliminação. Você ganha amor infinito, mas também enfrenta provas de resistência que ninguém avisou que existiam.

E, no meio dessa maratona de fraldas, choros e brinquedos espalhados pela casa, vem aquela questão essencial: como continuar sendo mulher quando “mãe” parece tomar conta do seu RG, do seu CPF e até do seu espelho?

Porque, vamos combinar, a maternidade é linda, mas também é cheia de surpresas. Como aquele dia em que você, finalmente, decide sair de casa arrumada, depois de semanas no uniforme oficial de pijama e coque desgrenhado.

Aí, a criança vomita no seu ombro cinco minutos antes de você passar pela porta. Mas tudo bem, você respira fundo, limpa o ombro, refaz a maquiagem – ou, pelo menos, o básico do básico – e vai. Porque ser mulher é isso também: transformar caos em estilo (ou pelo menos, em algo apresentável).

Autoestima, nessa jornada, é uma coisa que merece carinho especial.

Não porque você não a tenha, mas porque ela precisa de um lembrete diário. Talvez aquele lembrete seja um batom vermelho numa terça-feira qualquer, só pra dizer: “Ei, mundo, olha aqui quem ainda sabe ser poderosa!” Ou, quem sabe, uma noite de autocuidado no banheiro – com porta trancada, é claro – onde o banho demore o tempo necessário para você lembrar que sua pele merece mais do que cinco segundos de atenção apressada.

E por falar em autocuidado, que ideia maravilhosa e difícil, né?

Quem foi que disse que dá pra ter uma rotina digna de spa quando tem um pequeno ser humano batendo na porta e perguntando por que a lua não cai do céu?

Mas sabe o que é mais importante?

Não desistir. Dez minutos de máscara facial enquanto as crianças assistem ao desenho favorito já contam como vitória. Um café quente (quente mesmo, não morninho!) pode ser um ato revolucionário. E, às vezes, o maior autocuidado é saber dizer “não” sem culpa, pra sobrar um pouco de energia pra você mesma.

Ah, e o autoamor?

Esse é o truque de mágica mais bonito de todos. Porque, no fim do dia, amar a si mesma é lembrar que você não precisa ser perfeita. Que tudo bem dar risada do caos, que os dias ruins não definem sua competência, e que seu corpo – mesmo com todas as mudanças – ainda é um lar maravilhoso. Afinal, ele trouxe vidas ao mundo! Isso não é pouca coisa.

Ser mãe sem deixar de ser mulher é um equilíbrio maluco, mas possível. É aceitar que você pode ser muitas coisas ao mesmo tempo: mãe, amiga, profissional, e alguém que dança na sala de casa ao som daquela música que ninguém mais gosta.

É celebrar as pequenas conquistas, rir dos tropeços, e nunca esquecer que você é a sua maior prioridade. Porque, no fundo, quando você se cuida, todo mundo à sua volta sente esse reflexo. E, convenhamos, um pouco de amor próprio nunca fez mal a ninguém.

Ser mãe e continuar sendo mulher é, sem dúvida, um dos maiores malabarismos emocionais que a vida pode apresentar. É como tentar equilibrar pratos enquanto você corre atrás de uma criança que decidiu que hoje é o dia de explorar o universo – começando pela gaveta de facas ou pelos marcadores permanentes na parede.

Mas, por mais desafiador que seja, é completamente possível, especialmente quando a gente começa a enxergar esse processo com a leveza necessária para não se perder no turbilhão.

E quando chega a hora de retornar ao trabalho?

Ah, que mistura de sentimentos é essa! De um lado, existe a saudade antecipada, aquele aperto no peito de saber que você não vai estar lá para cada risada ou suspiro do seu pequeno. Do outro, há uma pontinha de alívio, porque, convenhamos, também faz bem ter um tempo para lembrar que você é muito mais do que uma máquina de trocar fraldas e preparar lanches.

Retomar a carreira é mais do que um retorno financeiro; é um reencontro com a sua identidade, com a sua capacidade de criar, liderar e produzir fora das quatro paredes de casa.

A psicologia explica que esse retorno, muitas vezes, vem carregado de um fenômeno chamado “culpa materna”. É aquela sensação de que você deveria estar em todos os lugares ao mesmo tempo, desempenhando todos os papéis com perfeição. Mas aqui vai uma verdade libertadora: perfeição não existe, e a culpa, geralmente, é só um lembrete distorcido do amor que você sente pela sua família.

Permitir-se viver os dois mundos – o profissional e o materno – sem carregar esse peso é um ato de autocuidado psicológico. Quando você trabalha, estuda ou busca crescimento pessoal, você não está se afastando do papel de mãe; você está mostrando ao seu filho, pelo exemplo, a importância de nunca deixar de lado quem você é.

Agora, sobre encontrar tempo para estudos ou crescimento pessoal… Bom, se você perguntar a qualquer mãe como ela faz, provavelmente ouvirá um riso nervoso antes de ouvir qualquer resposta.

Porque, sim, é difícil. Mas é possível. O segredo está em desapegar da ideia de que as coisas precisam ser feitas como antes. Talvez estudar signifique aproveitar os intervalos enquanto o bebê dorme, ou ouvir um audiolivro enquanto lava a louça.

Talvez crescer pessoalmente seja se inscrever em um curso online com aulas gravadas que você pode ver às 22h, quando a casa finalmente silencia. E tudo bem. É sobre adaptação, sobre ressignificar os momentos, e, principalmente, sobre ter paciência consigo mesma.

A psicologia positiva também ensina que o crescimento pessoal, especialmente para mães, não deve ser encarado como um peso ou mais uma tarefa em uma lista interminável. Pelo contrário, deve ser algo que traga prazer, que recarregue sua energia e que faça você se sentir viva. Se isso significa começar pequeno, com uma leitura leve ou uma aula de meditação, que assim seja. Pequenos passos ainda levam longe.

Claro, tudo isso exige planejamento, mas também exige uma coisa que nem sempre vem naturalmente para mães: pedir ajuda. Delegar tarefas, dividir responsabilidades e envolver o parceiro, a família ou uma rede de apoio é fundamental.

O tempo que você reserva para si mesma não é egoísmo, é um investimento. E, psicologicamente, esse tempo é essencial para renovar suas forças e voltar para o papel de mãe com ainda mais presença e paciência.

E enquanto você faz tudo isso – trabalha, estuda, cresce, cuida – é importante olhar para o processo de ser mãe com olhos gentis. Cada fase é única, cada etapa tem seus desafios e suas belezas. As noites maldormidas, as birras no supermercado e as perguntas infinitas (“Por que o céu é azul?” “Por que o cachorro late?”

“Por que você está com essa cara, mamãe?”) são parte do pacote. Mas também são parte do crescimento de vocês dois, como mãe e como mulher. Não existe um manual perfeito, e tudo bem aprender no caminho.

Então, se tem uma coisa que essa jornada ensina, é que você é capaz de muito mais do que imagina. Você pode ser mãe e, ao mesmo tempo, continuar sendo uma mulher completa, com sonhos, planos e desejos.

Pode retornar ao trabalho, estudar, crescer e, sim, ainda dar gargalhadas no meio do caos. Porque, no fim, a maternidade não é um fim, mas um novo capítulo na sua história – e você, como autora dessa narrativa, tem todo o direito de escrever um roteiro cheio de amor-próprio, propósito e realização.

Por Carla Povoa

2 comentários em “Ser Mãe Sem Deixar de Ser Você”

  1. Parabéns Carla sempre nos surpreendendo com sua capacidade de entender o ser humano e expressar em palavras .
    Vc tem o dom da escrita e do entendimento.

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