Esse é um título com uma afirmação questionável para uma grande parte de pessoas. Muitos poderiam dizer que, na função de mãe, não pode existir erro. Até a própria pode se ver enclausurada na afirmativa de que não se pode errar de forma alguma quando se ocupa esse papel. No entanto, você, mãe, sabia que é permitido errar?
Pois é, a mãe pode perder o controle de algumas situações de vez em quando e isso ser normal, como também o é cumprir todas as tarefas, prazos ou compromissos que tenha assumido. Isso só significa que ela é um ser humano.
Errar a direção, falar alto, esquecer algo, brigar vez por outra ou não fazer tudo “coretinho” em todos os momentos, com todos os agrados que lhe são exigidos, são questões que trazem a tona a sua humanidade, suas características de um ser que está buscando e aprendendo a fazer o melhor que pode.
Não há como exigir das pessoas perfeição em todos os momentos de sua vida. E estabelecer isso para uma mãe chega às vias da crueldade. Mesmo que o desejo de acertar sempre esteja implícito, principalmente nas mães, sempre haverá algo que possa ser questionado, pelo simples fato de ser ela mortal, de ser gente.
Na verdade, pode-se notar que algo não vai bem quando se foca muito em acertar sempre, e a ansiedade que circula em torno dos erros e dos acertos do dia a dia se transforma em caos para um comportamento de alguém que poderia ser leve e equilibrado.
É possível notar quando uma mãe está em um nível alto de cobrança de si mesmo e de suas ações. As exigências se tornam tantas que ela perde o rumo de sua naturalidade e começa a agir como uma máquina de criar filhos, sem aproveitar as fases que vão passando sem profundidade. E então se distancia de si e dos seus. Dessa forma, a vida de mãe fica pesada e a olhos vistos o desgaste aparece.
E viver ao contrário desse ritmo, para muitas, é equivocar-se, sentem-se culpadas, infelizes e têm medo de estar decepcionando não somente seus filhos, mas um mundo inteiro, tamanho o peso da própria acusação que carregam.
Isso se enquadra em cobrança por uma perfeição que não existe.
Ser perfeita (o) é um peso voluntário que a própria pessoa exige de si, carregam em si, numa visão deturpada, a certeza de que os outros o estão exigindo. Mas com um equivoco de sua própria determinação. Isso transforma essa pessoa em opressor de si mesma.
Quantas vezes nos deparamos com mães, ou mesmo as fomos, cheias de tristezas, sem conseguirem rir das brincadeiras de seus filhos, sem os deixar viver sorrisos por convenções sociais, sem “curtir” pequenos prazeres por medo de estarem fazendo errado. Encontramos mães com temores de sair do padrão e serem julgadas e demandarem características de desleixos e outras coisas. Nos deparamos com mães tensas, com medo de cometerem “erros” que nem mesmo sabem quais são os acertos.
Quem foi esse que determinou a perfeição no ato de maternar?
Quem foi esse que estabeleceu que a mãe não pode errar?
Talvez tenha sido a própria figura da mãe que se enquadrou nesse patamar e de lá não quis mais sair, se angustiando para cumprir todos os padrões que as mães “necessitam” cumprir. Será somente daí que vem essa imposição perfeccionista?
Na verdade, essa compulsão por agir sempre com perfeição todo o tempo vem originalmente de um passado muito distante, onde tornou-se hábito a pressão de se fazer cobrar pela perfeição da mãe/mulher e aos outros se fez a necessidade de cobrar dela tal função performática.
Mas isso só deixa as coisas mais difíceis ainda. Cobrar de si e ser cobrada de episódios impossíveis pesa demais o caminho de ser mãe.
Toda imposição rigorosa, seja ela feita por si ou pelos outros, ainda mais com objetivos de acertar em tudo e não desagradar a ninguém é um fator que traz um cansaço imenso e promove grande insegurança no papel que se está desempenhando. Ser mãe com a “obrigação” de nunca errar é um desastre para sua intimidade. Você passa a vigiar-se ao invés de viver o processo e a beleza de ser mãe, vive em sentinela. Perde parte do encanto, perde a doçura de momentos importante na tentativa de ser perfeita.
E o que restará? Quando cobra de si, acaba cobrando do outro.
O filho poderá receber o peso dessa cobrança porque a mãe transferirá seu policiamento para quem é seu objeto totalizado. Fatalmente, as frustrações vão chegar uma vez que as expectativas do outro nem sempre se alinham às nossas. E os conflitos se estabelecerão (um assunto importante para outra discussão).
E como fazer então para se cobrar menos, como se convencer de que se pode errar e tecer depois vias que permitam acertar o passo?
Simples?
Não afirmo que sim. Mas para algumas até que pode ser, dependendo da roupagem da solução que costumam vestir. A verdade mesmo é que não existem fórmulas corretas para tal situação, cada um descobre como se adequar aos passos que vão dando.
Há algo que é um caminho mais seguro de ser seguido: a autoconfiança.
Não é necessário querer ser perfeita, mães exemplares, sem máculas nenhuma. O que carece é se chamar ao processo confiando em suas ações como sendo as melhores que se possa executar, acreditando que se está utilizando da premissa de que o sujeito humano é passível de erros, justamente porque erro faz parte do contexto do ser. Deve-se se sensibilizar consigo mesma e se incluir na aprendizagem de executar esse papel e ir seguindo o cotidiano com o máximo de entrega e responsabilidade possíveis, desempenhando da melhor forma as características, com qualidade e sensibilidade de acolhimento a toda metodologia usada.
Tenha certeza, não exija perfeição de si porque ela pode existir, mas com a evolução dos dias, nunca de uma vez, entretanto, tendo como companheira o contentamento e a leveza – quesitos essenciais para que permaneça.
Se errou, você pode. Resgate-se depois, acolha-se com simplicidade e intimidade. Errar é um tijolo na construção dessa estrada se ser mãe. E precisamos dele para nos construir.
Por Carla Póvoa
Artigo maravilhoso e esclarecedor.
Parabéns a autora.
Super profissional de uma competência ímpar.