NEM TUDO É PREGO, MESMO PARA O MARTELO

Quando os filhos nascem, procura-se entre as mantas e as fraldas um manual onde se enumere algumas regras pra ir adiante, após a saída da maternidade. No entanto, não se encontra nenhum manual que indique um caminho a seguir ou qual atitude tomar. E a cada dia há que se escrever o próprio, folha a folha.

Um choro, uma golfada, uma letra a ensinar, uma explicação que não se pode dar, um avanço que se acompanhou ou algo que se perdeu, o que se fala ou o que não conseguiu ser dito, o que é dado, o que é tirado, o que lhe responsabilizam e aquilo que realmente é de sua responsabilidade. Na verdade, são muitos momentos pertinentes acompanhados e outros tantos negligenciados, se não pela falta de tempo, talvez entre uma necessária piscada. Piscou e a precisão se faz urgente.

É certo que pais não conseguem estar em porcentagem total quando se trata dos filhos. É injusto dar ao motorista a obrigação de controlar todo o trânsito e todos os motoristas que estão por trás dos volantes?

Assim também são os genitores ou responsáveis pela educação de alguém. Cada um está numa fase ou estrada diferente, cada um desenvolve seus caminhos de acordo com o que as prioridades lhe são elencadas. Uns acham mais importante trabalhar muito para suprir todas as suas necessidades surgidas no processo. Alguns outros deixam de trabalhar para estarem mais próximos aos filhos e em suas dianteiras. Mas ambos, seja de uma forma ou de outra, se acumulam de muitas atividades no mesmo contexto de quererem tudo poder fazer.

E se cansam! Porque podem parecer, mas não serão, nunca, munidos de superpoderes reais. Imaginários os tem a mil!! Mas a certeza é que não se pode abraçar tudo que é viável no processo educativo e do viver. É necessário que se possa ter ajudas de vários pontos para que todo o procedimento tenha uma ciranda apropriada para se ter sucesso.

E é aí que a falha aparece?

Falha? Seria esse questionamento viável para essa temática? A construção do manual diário vai permitir falhas enquanto se processa os caminhos da vida?

Reflitamos! Por que chamar de falha se acabamos de falar em “tudo fazer”? Esse “Tudo” significa a totalidade daquele ser. Cada pessoa (pai, mãe ou responsável) configura, vive e interpreta a sua totalidade de maneiras diferenciadas. Cada um a traz manifesta em suas ações de maneiras diversificadas. Sim! E se faz lógico dizer que isso não vai significar, ainda, um ditame superior ao universal. Não existem medidas para se conceituar universalmente algo que sofre mensurações distintas e individualizadas. Não se pode levantar regras únicas, mas distinguir várias possibilidades.

Se se tentar uma unilateralidade para isso, se se tentar criar regras que sejam únicas, algo vai escapar entre uma piscada e outra de quem está nas vias da educação.

E eles, os educandos, reclamarão de infinitas faltas, materiais ou não – umas mais intensas dependendo da forma de cada um receber e dar o amor. Falar-se-á de invisibilidade, falta de presença ou excesso de atenção. Muitas nomenclaturas aparecerão. Cada um trará para sua experiencia aquilo que faltou ou mesmo excedeu, mas sempre existirão as reivindicações, os clamores. Exatamente porque a linha das convergências estará em tamanho individualizado.

E um dia, num belo dia, independente de terem seguido um manual ou não, estarão criados, “prontos”. No entanto, (graças!) nunca acabados.

Nesse dia, poderão aparecer oportunidades geniais e genuínas para criador e criatura, juntos, folhearem aquele manual que cada um construiu e descobrir que ele é intransferível. Será também revelador que tal “vade-mécum” construído com absoluto ingrediente que, a qualquer tempo, poderá ser discutido, recuperado, remodelado, analisado, refletido.

No entanto, quem quiser palpitar, terá que construir o seu. Só é permitida a discussão e refazimento aos envolvidos. Ninguém pode “dar pitaco” nas regras e ações relacionais entre essas partes.

Somente os envolvidos na ciranda.

Ainda bem!

Se precisar dar uma olhada em seu manual e ver que nele é preciso acrescentar alguma coisa ou retirar outras, que é preciso pedir ajudar para segurar na sua mão ou então que você tem condições de compor a ciranda de alguém e dar a sua mão para ajudar… Faça isso!

Sempre há tempo!

17 comentários em “NEM TUDO É PREGO, MESMO PARA O MARTELO”

  1. Texto perfeito, e de uma essência maravilhosa. É verdadeiramente tudo isso e muito mais que vivenciamos em nossas casas. Os responsáveis sempre se doando para fazer acontecer o melhor para seus filhos, as vezes extrapolam e esquecem de se mesmo, nesta árdua missão que o criador lhe designou. Porém o amor que imensurável, faz com que pra muitos não tenha limite para realizar os sonhos e vontades dos seus filhos. As falhas existem e muitas no meio do caminho, porém elas nem sempre são “vistas” desta forma. Por isso nem tudo é prego mesmo para o martelo.
    Olhos fechados e Ouvidos tampados, e assim o processo segue, só se quer chegar ao fim dessa jornada e dizer: Obrigada Deus foi difícil mas eu conseguir 🙏🏻

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  2. Quando me deparo com esse tipo de texto, tão invasivo às particularidades do seu ser – enquanto mãe – eu compreendo que nós, pais, estamos carentes de reflexões para o nosso maternar e paternar.

    Estamos carentes das indagações que nos são pertinentes durante o processo de se criar um ser. Algo tão incrível e tão potente, que jamais pode ser entregue ao aleatório.

    Obrigada, Carla Póvoa, por esse ensaio rico e tão motivador nessa caminhada. Estava precisando disso!

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