SINDROME DE DOWN O PROCESSO EDUCACIONAL E SOCIAL

A Síndrome de Down e o Processo Educacional e Social

A Síndrome de Down (SD) pode ser chamada de trissomia 21, pois é um acidente genético por um desequilíbrio na constituição cromossômica ocorrente no par do cromossomo 21, com um cromossomo extra, fazendo com que o número total de cromossomos na SD seja 47 e não 46.

A síndrome de Down pode ocorrer devido a três comprometimentos cromossômicos: trissomia simples, translocação e mosaicismo.

A trissomia simples “ocorre a não disjunção do cromossomo 21; percebe-se claramente a trissomia, ou seja, o 3º cromossomo extra ao par 21, causando a síndrome” (VOIVODIC, 2011, p. 40), sendo a mais comum entre os casos de SD.

A trissomia por translocação ocorre porque o “cromossomo adicional está sobreposto a um cromossomo de outro par, portanto não se trata de uma trissomia livre” (VOIVODIC, 2011, p. 40), ocorre em 2% dos casos.

O mosaicismo é a “presença de um percentual de células normais (46 cromossomos) e outro percentual com células trissômicas (47 cromossomos)” (VOIVODIC, 2011, p. 40), ocorre também em cerca 2% dos casos.

A presença extra desse cromossomo acarreta no desenvolvimento intelectual um retardo leve ou moderado, em virtude de alterações cerebrais.

É oportuno destacar que esse atraso no desenvolvimento cognitivo não implica necessariamente em uma má qualidade de vida, ao contrário, é possível sim, se possibilitar uma vida com qualidade para essas pessoas (CASTRO E PIMENTEL, 2009, p. 304).

As crianças com Síndrome de Down apesar de possuírem alterações fenotípicas semelhantes como: aparência arredondada da cabeça, pálpebras estreitas, única prega palmar possuem também, menor tonicidade nos músculos e atraso no desenvolvimento intelectual.

A possibilidade de nascer uma criança com SD aumenta à medida que a mulher e o homem ficam mais velhos e a SD não é progressiva e nem contagiosa.

Em relação ao aspecto cognitivo, “a deficiência mental (DM) [1] tem sido considerada uma das características mais constantes na SD, com um atraso em todas as áreas do desenvolvimento” (VOIVODIC, 2011, p. 43).

No processo de ensino aprendizagem da pessoa com SD é preciso ressaltar que devido as suas características físicas, esta pode interferir nesse processo, pois o contato de olho começa mais tarde, apresentando reações mais lentas devido ao atraso no desenvolvimento motor.

É evidente que devido às características específicas, oriundas de sua deficiência, as crianças com SD necessitam uma ação educativa adequada para atender suas necessidades educativas especiais.

Não há como implementar processos de inclusão que visem de fato a uma escolarização de qualidade, sem levar em conta as características da criança com deficiência (VOIVODIC, 2011, p. 18)

Mantoan (1997) apud Moreira, El-Hani e Gusmão (2000) observa que,

a psicopedagogia tem avançado no sentido de estimular na pessoa com deficiência mental o desenvolvimento da consciência metacognitiva, isto é, o conhecimento pela pessoa do funcionamento de seu pensamento e a utilização desse conhecimento para controlar seus processos mentais.

Esse direcionamento abre novos caminhos para o sujeito com deficiência mental, tendo em vista as implicações do déficit da consciência metacognitiva na adaptação e na autonomia (p. 98).

Neste sentindo, uma boa educação é um bem enorme que produz benefícios pessoais por toda a vida.

Para amenizar as dificuldades encontradas quando se trata de educar uma pessoa com SD é preciso que o professor conheça e estimule capacidades de desenvolvimento desses sujeitos, considerando suas particularidades e limitações para um bom desempenho por parte do aluno, incluindo-o na escola e sociedade.

 Faz-se necessário planejar atividades para alunos com SD que se adequem ao tempo de realização desses sujeitos, pois perdem a concentração facilmente e não querendo mais realizar tal atividade, por isso é preciso respeitar o tempo de cada um e repetindo as ações sempre que necessário para melhor aprendizagem dos alunos com SD.

Capacitismo

 Acredita-se que as dificuldades do aluno com SD “não são inerentes à sua condição, mas têm um caráter interativo: dependem das características do aluno, do ambiente familiar e educacional e da proposta educativa a ele oferecida” (VOIVODIC, 2011, p. 18).

 Durante o processo de alfabetização da criança com SD é preciso considerar o seu atraso na aquisição da linguagem, pois este se dá mais tardiamente do que as crianças consideradas “normais”.

Nas pessoas com SD é comum um déficit de atenção e por consequência um déficit na memória afetando a produção e aquisição da linguagem.

A criança não reproduz frases, pois retém somente algumas palavras do que ouve.

Apresenta também déficit na memória a longo prazo, o que pode interferir na elaboração de conceitos, na generalização e no planejamento de situações  (VOIVODIC, 2011, p. 45).

Assim, o mediador do conhecimento junto à criança com SD,

precisará ficar atento para outras formas de manifestação da linguagem utilizadas pela criança (oral, gestual, gráfica etc.), pois, a depender do momento de seu desenvolvimento, a criança poderá fazer uso de diferentes formas de comunicação para propiciar o fluxo de trocas de significados durante as interações.

Os usos dessas formas alternativas de comunicação podem também contribuir para ampliar o vocabulário total dessas crianças e paralelamente, contribuir para a aquisição de conceitos (PIMENTEL, 2012, p. 70).

Por isso tal importância da interação entre mediador e a criança com SD, pois é preciso considerar os fatores da própria SD e todos os meios de aquisição e construção da linguagem e de conhecimento pela criança através de suas diferentes manifestações e comunicação para com seu mediador.

O papel do Terapeuta Ocupacional no contexto escolar

Por muito tempo, o que era proposto para a educação de pessoas com deficiência intelectual foi as escolas especiais, substituindo o ensino regular.

Supunha-se que as crianças com deficiência mental não tivessem proveito em classes regulares, com outras crianças da mesma idade, e que estas, por sua vez, seriam prejudicadas por estarem com crianças com atraso (VOIVODIC, 2011, p. 58).

No entanto, a escola especial não atingiu sua meta de mediar e construir o conhecimento juntamente com os alunos com SD para tornarem-se sujeitos autônomos, sendo capazes de se desenvolverem em sociedade.

Com isso, foi a partir dos anos 1990 que as crianças com SD puderam frequentar as escolas regulares de ensino.

A possibilidade de que as crianças, com ou sem deficiência, possam aprender juntas, em classes heterogêneas, com alunos da mesma faixa etária, foi um passo decisivo para eliminar atitudes segregatórias e discriminatórias (VOIVODIC, 2011, p. 60).

 No atendimento educacional de pessoas com Sindrome de Down é preciso avaliar as dificuldades e suas necessidades podendo “considerá-las em uma perspectiva interativa dos fatores que determinam a intervenção educacional” (VOIVODIC, 2011, p. 60).

Realizando adaptações nas atividades e no conhecimento em que for mediado com cada pessoa, bem como o uso de recursos especiais para a realização de atividades, pois as pessoas com Síndrome de Down podem realizar os mesmos conteúdos dos demais alunos, porém, a forma como o conhecimento é apresentado, deve ser diferente, com adaptações.

Assim, segundo Melero (1999) apud Voivodic (2011, p. 61),

“para favorecer a educação da criança com SD, é importante o trabalho com os processos cognitivos: percepção, atenção, memória e organização de itinerários mentais”.

Melhorando assim o processo de ensino aprendizagem da criança com SD na escola bem como a interação social, pois “são as determinações sociais, e não somente as biológicas ou genéticas que irão lhes permitir o desenvolvimento e, consequentemente, sua constituição enquanto sujeito” (WUO, 2007).

Percebe-se com a inserção de alunos com SD em escolas regulares que houve aspectos positivos em relação ao “desenvolvimento da linguagem, maior incorporação das regras sociais e diminuição de comportamentos agressivos” (VOIVODIC, 2011, p. 63), a partir da interação com outros alunos e não apenas com alunos com SD.

Por isso se dá a importância de ter uma classe, uma escola heterogênea, acolhendo, mediando e construindo o conhecimento com todos, sem exceção e sem a rejeição do diferente, da pessoa deficiente na escola, pois a “ideia de que elas só poderiam ser educadas em ambientes isolados fortaleceu os estigmas sociais e introjetar a rejeição em todos nós” (VOIVODIC, 2011), tendo, então, a discriminação que não deveria ter nas escolas e sociedade.

Contudo, faz-se necessário um olhar diferente e mais humanizado acerca das pessoas com Síndrome de Down, bem como qualquer outra pessoa, deficiente ou não, para que haja uma boa educação e interação social promovendo a aprendizagem e inclusão social e educacional de todos.

Por: Erica Lacerda

Foto Capa: Educação Focus


1 O termo deficiência mental, usado por muitos autores, foi substituído por deficiência intelectual, pois a deficiência intelectual refere-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo.

Referências

VOIVODIC, M. A. M. A. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

CASTRO, A. S. A.; PIMENTEL, S. C. Síndrome de Down: desafios e perspectivas na inclusão escolar. In: DÍAZ, F. et al (Org.). Educação inclusiva, deficiência e contexto social: questões contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2009. Disponível em: < https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/170/1/Educacao%20Inclusiva.pdf>. Acesso em: 09 de ago. de 2019.

MOREIRA, L. M.; EL-HANI, C. N.; GUSMÃO, F. AF. A síndrome de Down e sua patogênese: considerações sobre o determinismo genético. Rev Bras Psiquiatr. São Paulo, Vol. 22, nº 2, p. 96-99, 2000. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000200011>. Acesso em: 08 de ago. de 2019.

PIMENTEL, S. C. Conviver com a síndrome de Down em escola inclusiva: mediação pedagógica e formação de conceitos. Petrópolis: Vozes, 2012.

WUO, A. S. A construção social da Síndrome de Down. Cad. Psicopedag. Vol. 6, nº 11, São Paulo, 2007. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S1676-10492007000100002>. Acesso em: 10 de ago. de 2019.

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