ALIMENTAÇÃO E SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS

No mês de Setembro celebramos o Setembro Amarelo, onde discutimos informações e atitudes para algo que ainda é tabu em nosso país: Saúde mental das crianças e o suicídio.

Nunca foi tão importante falar sobre saúde mental.

Essa questão parece ser algo restrito às necessidades de adultos, mas e nossas crianças e adolescentes?

Passado a pandemia, agora colhemos os frutos com crianças e jovens cada vez mais ansiosos e que requerem um olhar cuidadoso para a questão mental e emocional.

Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgados pelo Ministério da Saúde entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.[1]

Embora entre as crianças o suicídio não seja algo muito presente, o cuidado com a saúde mental não se faz menos importante.

Aliás, questões pouco resolvidas na infância, podem ser o gatilho para uma atitude mais drástica no futuro.

Cada criança é única, portanto, quando falamos de saúde mental, também precisamos conhecer sua forma de ser, sua história e dinâmica familiar.

O profissional de saúde deve ter a oportunidade de conversar diretamente com a criança e, depois discutir em conjunto com os pais.

Como posso proteger minha criança do suicídio

Observar a forma como ela brinca ou se relaciona com objetos oferecidos durante a consulta ajuda muito na anamnese.

Em qualquer suspeita de alterações na saúde mental, a alimentação deve ser levada em consideração. 

Assim como compromete o desenvolvimento físico e cognitivo, a fome (realidade de boa parte da população infantil brasileira) ou má alimentação (pobre em nutrientes) afeta o bem-estar mental das crianças e dos adolescentes.

Os sintomas mais comuns são irritabilidade, choro, dificuldade de aprendizagem, déficit de atenção, hiperatividade, alterações no sono, atraso na linguagem, baixa interação social, tristeza, diminuição afetiva e oscilações de humor e apatia.

O inverso também acontece: emoções negativas, como transtornos de ansiedade provocados por fatores externos (separação dos pais, por exemplo), podem desencadear padrões alimentares como falta de apetite ou desejo aumentado por alimentos altamente calóricos e doces.

E tanto a falta de nutrientes como o excesso de açúcar e gordura saturada prejudicam a saúde mental. São casos extremos, mas comuns e que precisam de tratamento multidisciplinar com médico, psicológico e nutricionista.

Como protocolo para esses casos, sabemos que a ingestão elevada de verduras, legumes, frutas, grãos integrais, azeite e outros alimentos vegetais fonte de vitaminas, assim como a restrição total (ou baixo consumo) de alimentos pouco nutritivos e industrializados, pode reduzir o risco de ansiedade e depressão.

Outro ponto que merece destaque no tratamento da saúde mental é a microbiota intestinal (conjunto de bactérias que habitam o intestino).

Ela precisa estar em equilíbrio, com maior número de bactérias boas para garantir a produção adequada de serotonina, dopamina e noradrenalina, que regulam, no geral, a sensação de bem-estar.

Ou seja, são neurotransmissores que influenciam nas nossas emoções, no aprendizado, humor, atenção, atividades motoras, entre outras coisas.

Vale lembrar que a falta ou desequilíbrio dessas substâncias está associada à depressão.

Você já não ouviu que o intestino é nosso segundo coração? Pois a resposta está aí.

Manter a microbiota saudável também é importante para o metabolismo do triptofano, aminoácido essencial precursor da síntese da serotonina.

Boas fontes de triptofano: banana, aveia, cereais integrais, amêndoa, linhaça, abacate, soja e derivados, grão-de-bico, nozes, ervilha.

As frutas e vegetais oferecem ainda fibras prebióticas, que servem de alimento para o crescimento das bactérias boas no intestino.

Além disso, outros nutrientes não podem ficar de fora do cardápio das crianças e interferem diretamente na saúde mental. São eles:

– Ferro: presente em grande concentração em áreas cerebrais nobres, além de ser precursor de componentes que auxiliam o organismo em situações de estresse, humor, concentração, atenção e memória.

 Boas fontes: farinha de soja, brócolis, proteína isolada de soja, além das proteínas de origem animal, especialmente carne vermelha e ovo.

– Magnésio: mineral presente em diferentes vias metabólicas de formação de neurotransmissores, incluindo a da serotonina. 

Boas fontes: nozes, sementes, cereais integrais, vegetais verde-escuros, oleaginosas, cacau, alcachofra, espinafre, feijão-preto, beterraba, gérmen de trigo, arroz integral e abacate.

– Zinco: além de participar na regulação da transmissão sináptica (comunicação entre os neurônios), é um importante regulador de receptores cerebrais e, portanto, sua deficiência no organismo pode estar associada a transtornos psicológicos. 

Boas fontes: amendoim, amêndoa, feijão, grão-de-bico e semente de abóbora.

– Potássio: fortalece o sistema nervoso e controla os transtornos de ansiedade e estresse. Boa fonte: banana.

-Triptofano: aminoácido precursor da serotonina, neurotransmissor responsável pelo bem-estar mental. Boa fonte: banana.

– Vitaminas do complexo B: essenciais na produção de neurotransmissores, além de apoiar a sinalização nervosa adequada. Boas fontes: vegetais verdes-escuros.

– Vitamina C: diminui a secreção do hormônio cortisol, que é liberado em resposta ao estresse e à ansiedade. Boas fontes: frutas cítricas (kiwi, limão e laranja). 

– Ômega-3: composto pelos ácidos EPA (eicosapentaenoico) e DHA (docosahexaenoico) – o primeiro tem efeito anti-inflamatório e o segundo faz parte da composição de neurônios cerebrais – contribui para o funcionamento do cérebro e a neurotransmissão da serotonina.

 Boas fontes: nozes e sementes de chia e linhaça. 

– Prebióticos e probióticos: proporcionam uma flora intestinal mais saudável, que desempenha um papel importante na produção de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar. 

Boas fontes: kombucha (sem álcool), biomassa de banana verde, kefir e outros alimentos considerados probióticos ou prebióticos.

Quanto mais natural, colorida e diversificada for a alimentação, maiores serão as chances de receber nutrientes variados.

Como já foi descrito, cada criança é única!

Essas informações não substituem um tratamento individualizado.

Nunca deixe de consultar um Nutricionista. Saúde mental é coisa séria e precisa ter atenção desde a infância.

Por Fabiana Jarussi

Capa: Fotografa Keylla Gomes


[1] Disponível em:< https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2021/boletim_epidemiologico_svs_33_final.pdf>. Acesso em: 27 jun.2023.

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