A GERAÇÃO ALPHA E O USO DA TELA

A geração mudou?

Ou a tecnologia mudou as gerações?

Excesso de telas na infância e adolescência: tempos modernos e tecnológicos ou a geração mudou?

Se olharmos para trás, mais especificamente há 20 anos, a internet e meios tecnológicos não eram comum em todos os espaços, como por exemplo, nos ambientes familiares ou em todos os lares.

Diante deste cenário não podemos deixar de falar das gerações Y, Z e Alpha. Sabemos que cada geração é diferente uma da outra, conforme o tempo passa alguns valores, preferências, interação e comunicação vão mudando.

A geração Y (millennials), são as pessoas nascidas entre 1980-1995, este grupo é chamado de geração que viu a chegada de um novo milênio, pois viveram a transição e transformação de um mundo sem internet para um mundo com ferramentas tecnológicas, tendo acesso a TV, videogames e computador. Na atualidade já estão acostumados às mídias sociais e tecnológicas.

A geração Z, nascidos entre 1995-2010 é a geração que já nasceu no mundo digital/tecnológico estabelecido, a tecnologia está em tudo na vida destas pessoas. São movidos pela conectividade, inovação e autonomia.

E por fim a geração Alpha, nascidos a partir 2010, estão conectados desde que nascem, são os chamados nativos digitais, não conseguem viver sem os meios digitais, não separam o real do digital.

São questionadores, conectados e versáteis, se sentem confortáveis ao surgimento de novas tecnologias e conhecem o mundo através da tela.

A cada geração os meios tecnológicos invadem e ocupam mais tempo na vida das pessoas, a forma como consomem da tecnologia e meios de comunicação e internet é diferente.

A geração Alpha já é totalmente conectada, com o isolamento social no período de pandemia esse comportamento de conectividade só aumentou, acentuando problemas e dificuldades decorrentes do uso excessivo dos meios tecnológicos, trazendo efeitos negativos para a saúde mental de crianças e adolescentes.

Hoje em dia a realidade é bem diferente, o uso de smartphone, tablete, e outros eletrônicos, associado ao uso da internet tem tornado uma atividade comum em todo mundo.

A tecnologia está por todos os lados, e basicamente na mão de todos, desde idosos, adultos, adolescentes, crianças e até na mão dos bebês. Mesmo não generalizando, hoje em dia é comum vermos crianças em que o acesso aos aparelhos digitais faz parte do seu dia-a-dia desde o nascimento.

Um exemplo disso é que encontramos nos espaços, como consultórios, shoppings, restaurantes e parques, bebes e crianças muito pequenas que aprenderam a usar um tablete ou smartphone antes mesmo de aprender a andar e falar.

O que vemos hoje é um fácil e rápido acesso à tecnologia, e é cada vez mais comum ver o tempo em frente as telas tomar conta do momento que seria direcionado para outras atividades fundamentas para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, como por exemplo o brincar livre e outras atividades criativas.

O tempo das crianças e adolescentes dessa geração, está sendo trocado por longas horas em frente as telas de celulares, televisão, tabletes, computadores e vídeo games.

Tempos modernos

O ritmo apressado do mundo moderno tem se tornado um grande desafio para as famílias de crianças e adolescentes no que se refere o mundo tecnológico e suas implicações. 

A primeira infância é uma etapa crucial para o bom desenvolvimento do ser humano, é o período de correr, pular, interagir, criar, imaginar, frustrar, aprender, errar, etc. O fato é que a internet e tecnologia estão chegando muito cedo na vida das crianças/bebês e isso tem influenciado no dia a dia delas.

Podemos dizer que tudo começa com o adulto (pais, tios, avós), que com a rotina corrida, agitada, falta de tempo, estrese e trabalho, muitos recorrem desde muito cedo as telas como recurso para entreter e acalmar as crianças, com vídeos e jogos, de maneira que já criança cresça dentro do mundo virtual.

Nos tempos modernos o que observamos são mudanças de comportamento, a hora de comer à mesa, de ver o que está sendo consumido, sentir o sabor e ter saciedade muitas vezes não acontece, pois os filhos e até mesmo os pais estão comendo ao mesmo tempo que estão conectados em alguma tela.

As crianças e adolescentes querem levar o celular para todos os lugares, dormem com o celular, já acordam procurando ou pegando o celular, levam o celular para o restaurante, para o aniversário do amigo, para reunião em família, entre outras situações.

Neste período de pandemia, muitas coisas mudaram, e a relação com a internet não seria diferente, nesse cenário do COVID-19 crianças, adolescentes e famílias no geral voltaram o foco para a internet, apresentando maior dependência dessa tecnologia.

A dependência dos jogos de videogames online e off-line

A Organização Mundial da Saúde – OMS, considera vício em games como transtorno mental, essa decisão tem como base uma série de estudos e considerações sobre o assunto feitas por especialistas de diversas áreas.

Para OMS os transtornos patológicos relacionados a jogos eletrônicos estão relacionados na 11° edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID 11), no qual define uso abusivo de jogos eletrônicos como doença.

Nele é especificado na seção de transtorno como ‘’ gaming disorder’’, vício  gerador de uma série de problemas, como, ansiedade, depressão, transtornos de sono, impulsividade e agressividade.
De acordo ainda com a OMS, outros problemas de saúde física também são ocasionados pelo uso excessivo de dispositivos móveis, como dores musculares, problemas na região lombar, má postura, deficiência visual, lesões por esforço repetitivo, dentre outros.

Os direitos da Criança na sociedade da informação

Benefícios e prejuízos do uso da tecnologia

Um dos principais desafios sociais que as famílias têm enfrentado hoje é o uso excessivo das telas, mas vale lembrar que o uso de forma adequada também traz benefício.

A interação com as tecnologias digitais trouxe uma série de benefícios, como acesso mais amplo à informação e maior praticidade nas atividades cotidianas, mas também expôs “as entranhas humanas do descontrole psíquico e comportamental junto às crianças, jovens e adultos – como tão sobejamente relatados pela mídia leiga e científica –, tornando-se um novo problema mundial de saúde” (BRASIL).

Estudos apontam que quanto maior o tempo na internet, maior são os prejuízos no desenvolvimento da criança e problemas nas relações familiares, onde podem causar tensões familiares e distanciamento dos vínculos.

De acordo com Sociedade Brasileira de pediatria, a internet alterou os hábitos das crianças, além do prejuízo nas relações familiares, muitos estudos apontam para a ligação de dependência da Internet e certas comorbidades psiquiátricas, provocando diversas doenças, como pensamentos e comportamentos de autoagressão, bem como impacto nas relações sociais.
O uso excessivo e prejuízos da dependência tecnológica:
·         Depressão;
·         Transtornos de ansiedade;
·         Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH);
·          Transtorno do humor bipolar, estresse, agitação;
·         Insônia;
·         Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia;
  • Riscos da sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual;
·         Sedentarismo e falta da prática de exercícios;
  • Problemas visuais, cansaço visual, miopia e síndrome visual do computador;
·         Bullying;
·          Cyberbullying;
·         Transtornos da imagem corporal e da autoestima;
·         Comportamentos autolesivos, indução e riscos de suicídio;
·         Aumento da violência, abusos e fatalidades;
·         Problemas auditivos, perda auditiva induzida pelo ruído;
·         Risco de doenças cardiovasculares;
·         Baixo rendimento escolar;
·         Isolamento;
·         Baixa interação social;
Família: limite no uso das tecnologias, como utilizar as novas tecnologias de maneira saudável.
Proibir o uso de telas é uma missão quase impossível na sociedade moderna, mas é possível descobrir e redescobrir formas de cumprir.
Nos últimos tempos em que todas as tarefas escolares, lições de casa, interação social e lazer foram e estão sendo feitas de maneira eletrônica e virtual, o melhor caminho é o equilíbrio, que deve ser adotado para o uso adequado das telas.
Especialistas, como pediatras, psiquiatras e outros profissionais orientam que crianças até 2 anos de idade não deveriam ter acesso a celulares, tabletes, ipad, pois essas não ajudam no desenvolvimento das crianças.
Os profissionais especialistas em desenvolvimento infantil recomendam:  
Para crianças de 2 a 5 anos de idade, é uma hora entre todos os eletrônicos. De 5 anos em diante no máximo 3 horas por dia.
É importante relatar que as crianças e adolescentes não estão aprendendo com os seus pais os princípios e valores fundamentais para a vida, como o certo e errado.
Muitas vezes os pais não sabem o que o filho está fazendo, que tipo de jogo está jogando, que tipo de conteúdo está acessando, com quem está conversando.
Não é porque seu filho está no quarto que ele está sozinho ou seguro, eles estão muito tempo conectados e acabam absorvendo muito conceitos através da internet.
Aos responsáveis, não vejam a disciplina como forma de oprimir e podar as crianças e adolescentes, mas como o caminho para estruturar e ensinar para que esta geração consiga se desenvolver adequadamente, tanto no aspecto físico, cognitivo, emocional e social.
Sabemos o quanto é difícil disciplinar e colocar limites para as crianças e adolescentes quanto ao uso dos eletrônicos, pois exige muita responsabilidade, constância, tempo, disposição e paciência dos pais e cuidadores.
Regular as crianças ao uso consciente da tecnologia/telas não é nada fácil, as crianças podem apresentar ataques de raiva quando os pais tiram o aparelho celular, ou mesmo ficarem entedias, desinteressadas e indispostas a qualquer momento que não envolva uma tela.
Tomar consciência da maneira como o excesso de tecnologia está privando crianças e adolescentes de experiências fundamentais para a vida.
Quanto de vida não vivida, quanta brincadeira perdida, quantos momentos trocados pelas telas.
A saúde e o bem-estar de crianças e adolescentes estão sendo afetadas pela falta de brincadeiras ao ar livre, de atividades e pela falta de socialização, pois estão com a rotina cada vez mais conectadas nas telas.
O limite se faz necessário, o correto é dialogar com as crianças desde cedo, quando eles começarem a fazer uso de celulares e telas no geral.
 O uso correto da tecnologia, vai desde o tempo gasto com ela até a segurança do que é acessado online. Não é falar para o filho sair no celular e ficar no celular, os pais e cuidadores precisam ser bons exemplos para as crianças e adolescentes.
A presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Dra Luciana Rodrigues Silva ressaltou,
“fica evidente a importância de alertar adolescentes, pais e profissionais que lidam com saúde e de educação nas escolas sobre a necessidade de restringir ao máximo o acesso a essas plataformas, cujo uso deve ser sempre supervisionado, evitando-se o início precoce e o seu excessivo e prolongado levando aos comportamentos da dependência”.
Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda:
ü  Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas
ü  Não fazer uso de telas durante as refeições;
  • Desconectar uma a duas horas antes de dormir;
  • Crianças com idades entre dois e cinco anos, limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, com supervisão dos pais e responsáveis;
  • Crianças com idades entre seis e 10 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de uma ou duas horas por dia, com supervisão.
  • Limitar o tempo de telas e jogos de videogames a duas ou três horas por dia, com supervisão;
  • Não “virar a noite” jogando para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos;
  • Oferecer como alternativas: atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza;
  • Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família;
  • Incluir momentos de desconexão e mais convivência familiar;
  • Saber o que o filho está jogando ou sobre conteúdos de risco transmitidos (mensagens, vídeos ou webcam);
  • Conteúdo ou vídeos com teor de violência, abusos, exploração sexual, nudez, pornografia ou produções inadequadas e danosas ao desenvolvimento cerebral e mental de crianças e adolescentes;

O contato com a tecnologia ocorre cada vez mais cedo na vida das crianças, isso é um fato.

A tecnologia pode e deve ser aliada nesse processo de desenvolvimento e aprendizagem, pois aprende-se muito. Mas para isso é necessário um equilíbrio, onde tenha adultos que acompanhe, supervisionem e coloquem regras e limites.

O ambiente da internet e tempo de acesso as telas dão para ser seguro, saudável e educativo.
É importante salientar, o mundo digital tem inúmeros pontos positivos, como jogos educativos, jogos para diversão, informações, comunicação. A família é fundamental e tem o dever de cumprir seu papel nesse processo do uso moderado dos meios eletrônicos, auxiliando na conscientização, orientando de forma adequada.

Por Ilma Paula

Capa: FreePik

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