E na adolescência que forma os pares. Você sabe como acontece a interação dos adolescentes com surdez?
O grupo social tem papel fundamental em nosso desenvolvimento. Somos seres sociais, e vivemos imersos em interações com outros indivíduos, somos parte de uma grande comunidade.
Para Vygotsky (2017) é através das relações sociais que aprendemos e nós desenvolvemos.
Essa importância aumenta quando estamos na adolescência. O comportamento dos adolescentes diante dos contextos de vida é produzido consciente ou inconscientemente pelas interações estabelecidas com o meio, de acordo com seu tempo, cultura e ambiente social.
Na adolescência ocorrem grandes conflitos internamente e externamente, para lidar com isso eles buscam seus pares.
Os pares são indivíduos que compartilham alguma equidade relativa em relação à idade, status dentro de contextos sociais que ocupam como por exemplo, escolas, vizinhanças e redes sociais on-line.
A influência que os pares podem exercer no comportamento do adolescente é uma questão complexa, devido à variedade de contextos que envolve sua a rede de amizades e sua capacidade de interagir com o mundo ao seu redor.
As amizades são interações voluntárias e recíprocas e seu propósito é satisfazer necessidades sócio afetivas de amor, apego, afeto, intimidade, lealdade, apoio e segurança. (Véronneau, Trempe & Paiva, 2014).
Os amigos ou colegas constituem seu universo de troca e aprendizado. Neles, as experiências compartilhadas, positivas ou negativas, terão repercussões sobre suas escolhas e inevitavelmente sobre sua saúde.
Atualmente a arena social dos adolescentes é muito mais complexa e inclui tanto interações reais quanto online, ambas têm um significado diferenciado e impacto na saúde e no bem-estar dos adolescentes (Findem et al., 2014).
No momento em que as crianças se tornam adolescentes, os colegas tornam-se mais importantes no desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos jovens e constituem fonte de influência social no ajustamento dos adolescentes.
As amizades podem ser fontes de apoio e lealdade. Ter amigos e ser apreciado por eles reforça a satisfação pessoal, fornece confiança no futuro e melhora a capacidade de responder às dificuldades cotidianas.
Uma boa relação com os amigos contextualiza um ambiente apropriado para o desenvolvimento de estratégias eficazes, resolução de problemas e transformação de ideias em projetos (Fada, Scalas& Meleddu, 2015).
Problemas como a solidão, ansiedade, depressão e baixa autoestima podem ser observados entre adolescentes que sofrem de vitimização por seus pares, como por exemplo, boatos espalhados e ser excluído de um grupo.
Este tipo de interação social disfuncional entre pares dificulta a saúde e o desenvolvimento psicossocial, aumentando os problemas de internalização em adolescentes, sendo considerada um importante risco à saúde e não um aspecto tolerável da vida do adolescente.
É essencial que pais e cuidadores tenha esse entendimento da importância dos pares nessa faixa etária e do seu potencial para melhorar ou não a qualidade de vida do adolescente, e respeitem, pois, muitas vezes eles darão mais valor aos amigos do que a família.
Diferente da infância, na adolescência a amizade tem caráter de status social e suporte.
A partir disso, vamos imaginar a adolescência das pessoas com surdez.
Imagine que uma adolescente inicia o ensino médio em uma turma regular, no início é comum um certo nervosismo e timidez. Ao passar dos dias ela começa a fazer amizades com pessoas que tenham os mesmos gostos que ela.
Agora imagine que essa adolescente seja usuária da língua de sinais, quando na turma há outras pessoas com surdez inseridas na turma ou no colégio, é normal que façam amizade. No entanto muitas vezes ela é a única da escola.
Com o explicado anteriormente, podemos perceber a importância da estimulação do ensino de libras na escola, para que essa adolescente com surdez possa se unir a seus pares de forma eficiente, podendo ser e obter suporte.
Caso não haja esse estimulo, será muito mais difícil esse contato.
Hoje com a internet, muitos adolescentes com surdez encontram seus pares em outros estados através das redes sociais. Essa é uma reclamação recorrente dos pais, dizem que seus filhos vivem no celular.
Mas a casa é um espaço de diálogo e acolhimento como eles encontram com outros nas redes sociais?
Infelizmente em muitos lares os pais não sabem nem ao menos se comunicar em libras e as crianças e adolescentes com surdez buscam em outros espaços o apoio, multas vezes esse apoio não são funcionais.
Outro ponto que ocorre nas escolas é que muitas vezes usando o adolescente encontra o diferente, ele exclui e desvaloriza. A vitimização é comum sob adolescentes com surdez.
Expomos anteriormente os reflexos dessas atitudes aos adolescentes. É importante que os profissionais da ed8ucação esteja ciente e atento a isso.
Por último, importante que pais, cuidadores e profissionais da educação devem estar por perto e atento as amizades e relações, em especiais com adolescentes com surdez, no entanto, a cada fase da vida as pessoas precisam ganhar mais responsabilidade e autonomia.
Vivenciar alguns desafios e situações é essencial ao ser humano, o adulto deve ser suporte para minimizar efeitos prejudiciais à saúde.
Alguns adultos protegem em demasia as crianças e adolescentes com surdez, não possibilitando a ele vivenciar certas situações, por uma visão capacitaste, por outro lado não dão esse suporte e espaço de comunicação, não gerando autonomia, responsabilidade e amadurecimento.
Por exemplo, o adolescente com surdez precisa viver experiências de apresentação em público e ter o espaço de suporte sob seus sentimentos de dúvida e insegurança.
A adolescência é uma fase da vida repleta de mudanças e descobertas, oportunidades essenciais para o desenvolvimento e promoção da autonomia. Muitas vezes diversos desafios surgem nessa fase, as amizades são uma delas, em especial aos cuidadores que necessitam mesclar entre vigilância e liberdade.
Para crianças com surdez não seria diferente, esses desafios e mudanças passam pela vida do adolescente com surdez e necessita do apoio familiar.
Por Carolline Nunes
Referência Bibliográfica
VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. 13a edição ed. São Paulo: Ícone, 2017.